NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL

O senhor sabe como são estas coisas… Acontece tão de repente que nem percebemos como aconteceu. É como um raio que risca o céu e só depois o trovão vem. A gente vive na demora de um século num instante. Tudo depende da disposição de cada um, de cada hora. Eu pensava que tudo que eu sentia por ela havia acabado, era coisa do passado, coisa acabada, esmiuçada, derretida. E fui embora prá um lugar distante, recomeçar com outra o que havia murchado aqui. Não deu certo, voltei e aquele lugar, antes meu, já era de outro. O senhor Sabe como esta dor é doída. A gente dribla, finge, mas como pode enganar o outro se ele somos nós mesmos? Daí a falta dela foi crescendo, o aperto no coração não tinha mais espaço mais para crescer. Eu era uma panela de pressão que podia explodir a qualquer momento. O senhor sabe o que é tentar pegar o ar pelas ventas e ele não entra, o sufoco começa, os olhos esbugalham e a morte vai chegando devagarzinho… Devagarzinho? Dias seculares, dores seculares. A dor sempre é secular, a alegria dura um instante. Mudamos a cara, transitamos entre a tristeza e alegria, mas a dor continua fininha, adoecendo, doendo de dentro para fora. O senhor conhece a dor, todos conhecem. Ela lateja, pulsa, horroriza. É dor do desengano, é dor de ser enganado. Se a gente se culpa ela aumenta. Desculpas para isso não há. E o tempo não concede favor, só passa quando quer passar, fica ali triturando tudo dentro da gente, mascando a gente como fumo sendo esmiuçado entre os dentes. Olha é mesmo de endoidecer qualquer um. Acho por demais interessante é que uma dor tão grande não mate ou cure. É um jogo, ou perde-se ou se ganha. Mas é ganho trocado, invertido, e o avesso do direito. Um dia ela me chamou para começarmos não do ponto que findou, mas do ponto do meio. O senhor sabe o que é ouvir o nome do outro na hora do amor? Dói, amarga… Reclamar? Não, não posso, não é direito. Afinal ser confundido com o outro amado é bom ou ruim? Desmerece um homem ou merece o outro? Sei não senhor, fechei a boca. Palavra é como elástico, quanto mais você estica, mais cresce, mais enreda. Então não falei nada. Dizer o quê? O senhor acha alguma coisa disso tudo?

Alda Alves Barbosa

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