Esta “narrativa poética” (abaixo), foi escrita quando entrei no meu passado/criança. A lua, na época, cheia de segredos e mistérios fazia voar a imaginação dos adultos e das crianças também. Sem nenhuma compreensão e conhecimento do universo que habitávamos, a lua era a morada de São Jorge montado em seu cavalo que permaneciam estáticos dia após dia, noite após noite. As perguntas sobre tamanha imobilidade, eram silenciadas. Pra que perguntar aos adultos se não tinham respostas? Os fenômenos que ocorriam na natureza, também ficavam sem explicação neste chão tão carente de respostas e tornavam os redemoinhos uma forma de “condução do mal”, não um encontro de correntes contrárias de ar. Os mortos que em vida foram maus, vinham do “outro mundo” para levar crianças que não obedeciam aos pais para à “eternidade sofredora”. Éramos assim, fomos ensinados a ter medo… o medo paralisa as pessoas e, paralisados seríamos crianças dóceis e obedientes. Apesar da nossa educação ter sido focada no medo (não estou generalizando), a poesia lúdica de nós crianças estava em toda parte e nós a capturávamos. O imaginário tornava-se real e era a nossa própria vida. O dia-a-dia tinha um sentido profundo, um sentido poético.