CONTO DE NATAL

VILA SÃO NICOLAU

Livramento – BA

As serranias verdejantes davam mais beleza à Vila São Nicolau. Pouca gente e muita beleza. O entardecer com restos de fios do sol tornava o lugar um reino mágico.

As bruxas periodicamente costumavam visitar as famílias, mas como todos ali possuíam alma de ouro, sabiam que tudo seria resolvido se o coração abraçasse o corpo. Abandonavam em si mesmos e o abraço acontecia. Ali na vila não havia espaços para o mau. Cada cantinho era preenchido pela compreensão, pela tolerância, afeto, solidariedade e amor.

Sempre gostei de visitar aquelas montanhas que escondiam o vale. Dali eu via a vila num constante natal: suas ruas embelezadas pelas árvores; folhas e flores forravam o asfalto num tapete de cores. O rio que cortava a vila era calmo. Suas águas corriam serenas, refletindo como num espelho, as esculturas verdes nas margens de lá e de cá. Os peixes douravam as águas límpidas.

Bonito mesmo era ver como a educação se fazia presente. Dentro da mochila as crianças e os adolescentes levavam o material escolar. No coração o respeito pelo professor – a palavra tio era para designar parentesco. O professor possuía o valor divino daquele que tira o ser humano da ignorância, da cegueira espiritual. E era ali considerado o deus da sabedoria.

Algumas vezes a brisa, mesmo na sua leveza, levava até as serranias o jornal “Vila Encantada.” Eu o lia avidamente. Jornal colorido de boas notícias… Óbvio que algumas ruins. Neste caso era alguém muito idoso que partia. Mesmo ali a perenidade humana era cumprida. Mas outros nasciam. Assim era a vida.

Dezoito horas. Hora do Ângelus! O sino da igrejinha tangia. Era à hora de todos celebrarem mais um natal. A comemoração natalina na Vila São Nicolau acontecia todos os dias à mesma hora.

Gostava de presenciar aquele eterno natal, mas bem no fundo do meu coração eu sentia uma grande tristeza. O mundo não era só a Vila, fora dela havia mais vida.  Vidas que pertenciam a reinos desencantados com suas janelas fechadas, tantas estrelas extintas, tantos homens adormecidos…

Era uma vez…

Alda Alves Barbosa

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