O que posso dizer a meu respeito? Sou uma pessoa sincera? Acho que tento ser. Não uso a mentira para formar verdades falsas. Mas uso muito as verdades como pretexto como para falar a verdade ou mentir? Eu poderia falar sobre mim mesma o que me agrada e sobre a minha sordidez. Preciso tomar cuidado para não confundir defeitos com verdades. Tenho medo daquilo que pode me levar a ser sincera: à minha capacidade que omito, à minha sordidez que também omito. Quanto mais sincera eu for mais me lisonjearia pela nobreza da sinceridade mesmo sendo sincera com a minha sordidez. A sinceridade só não me levaria a me vangloriar da mesquinhez. Isto eu omito, não porque não me perdoo, eu já me perdoei tudo que foi grave e maior em mim. A mesquinhez também eu também omito porque acredito que a confissão pode ser também uma vaidade, mesmo a confissão penosa. Não é que eu queira estar pura da vaidade, mas preciso de um campo ausente de mim para eu poder prosseguir na caminhada. Se eu prosseguir. Será que não querer ter a vaidade é a pior forma de se envaidecer?Acho que não, acredito mesmo que estou precisando ficar isenta de mim para ver, para me enxergar. Quando abro a porta para uma visita inesperada, acabo me surpreendendo com o pensamento de como esta pessoa está me vendo, qual o seu olhar sobre o meu jeito de ser, de existir. Os que os outros me veem é o jeito como me sinto ser. Este olhar direciona minha existência: esta sou eu. A outra – a incógnita, a que se esconde na complexidade do existir – essa outra minha existência que era profunda, era a que provavelmente me dava a segurança de estar pronta para a vida, cheia de percalços ou não, do jeito que ela vier. A promessa me bastava.. . Ficaria livre para buscar as alegrias e as tragédias.
Alda Alves Barbosa
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