Nas últimas…

SAM_1669

Quando eu era criança, tinha um amigo incomum. Brincávamos juntos, apesar de ser ele anos mais velho que eu. Em nossas brincadeiras, ele me ensinava à beleza da vida nas coisas simples e pequenas. Mostrava-me o canto dos pássaros, a flor vermelha e solitária, as pequenas e raras pedras transparentes em meio a uma enorme cascalheira… Eu cresci admirando esse amigo. Sua força ao passar por momentos difíceis. Depois das “provas de fogo”, sempre se revigorava. Na bonança ele sabia ser generoso, nos dava frutos, água e beleza ao olhar. Amigo perfeito mesmo com seus galhos tortos, e casca grossa. De alma limpa, reta e perfumada fazia-se abrigo para os mais frágeis e alimentava os que nele se habitavam.

O tempo então passou, e um dia me disseram que aquele velho amigo, que eu pensava ser imortal, estava doente. Não sei quem deu o diagnóstico, mas parece ser algum tipo de câncer.
Aplicam todos os dias, drogas em suas veias, e desde que iniciaram a quimioterapia, seus cabelos começaram cair. Sua pele, antes corada e viva, hoje está pálida e fria. Aos poucos o próprio tratamento o mata. Em um leito, aquele que antes exalava o fôlego da vida, hoje com dificuldade respira. Padecendo em partes, insistem nos cortejos fúnebres de seus pedaços, escoados sob lonas em grandes carros todos os dias. Ontem era encorpado e intenso. Hoje doente e vazio. Amanhã quem sabe, sobreviverá mais um dia.

Dizem que ainda restam-lhe alguns anos de vida…
Dizem que podem descobrir a cura…
Dizem que a cura já existe…
Dizem que a cura depende de mim, de nós.

Elevo minhas súplicas pela continuação da sua vida. Levo em minha mente a lembrança dos dias bons com o velho amigo.

Lucian Grillo