Não sinto que vivi o ontem. Acho que alguém o viveu por mim. Não me lembro de tê-lo vivido ou não desejo lembrar-me. Que isso importa? O ontem já foi vivido por mim, por alguém ou por ninguém. Passou.
Hoje já é tarde. Um torpor ronda meu cérebro. As portas, as janelas continuam trancadas. A seiva da vida parece escorrer para fora de min. A ausência de luz me presenteia com uma passagem para uma caverna (de Platão?). Assim é o meu sentir. Nada existe fora dali: nem mortes, nem vidas. Tudo é ausência; nada sinto, nada sei, nada desejo! Um dia vivi, um dia tive sonhos… Um dia. Agora espero a última viagem.
Um fio de luz adentra a caverna. Sigo-o. Abro a porta. Lá fora, o barulho da vida… As pessoas vão e vêm. Por algum tempo fico a observa-las. A realidade está ali, neste vaivém, nesta indas e vindas, ou apenas nas idas… sem retornos!
Alda Alves Barbosa