Na flor da solidão

     Depois de perambular, depois de andar por vagas estradas, acompanhada de pequenas esperanças, de sonhos derramando compaixão, tenho orgulho da tenacidade que insiste em morar no meu olhar… Estéreis resistências detidas entre sombras que crescem e asas trêmulas, me sinto existir nos altares de pranto e nos crepúsculos sem perfume.

     No meu quarto, a lua abandonada, opaca, sem voz, eu, dona do amor, debruço sobre tapetes pálidos, naufrago no vazio, com arredores de pranto.

     Cresce a sombra na paz da chuva, na flor da solidão.

Alda Alves Barbosa

Noite de “não poesia”

         Image

       Nenhum verso anoiteceu em mim. Nenhuma palavra sussurrou ao meu ouvido. Hoje é noite de ” não poesia “; noite de coração arrastado; de tristeza demais para caber neste corpo esquálido.

        Hoje é noite de querências doídas, de angústia atemporal sem versos para findar. Ah se um verso brotasse neste corpo sem espaço para alegria! Um verso apenas brotando entre pedras suadas, em algum caminho descontinuado… Ou apenas uma palavra  nascendo do parto de uma estrela que cai e a poesia se configuraria: Encantamento!

Alda Alves Barbosa

“Bicho-mãe”

Image

            Sempre que vou escrever algo, a noite vem. Não importa o lugar, não importa a hora, não importa a estação do ano. O fato de um pensamento está sendo exposto, uma história está sendo escrita, faz com que um céu estrelado e uma lua branca paira sobre minha cabeça. Para escrever sobre o ” bicho-mãe ” eu preciso mais que isso. É necessário que a noite e o dia coexistam. É necessário que eu me encha de amanhecer; que um fragmento de uma estrela fique para trás, ou ainda, que um facho de luz rasgue o céu tempestuosamente.

               Não importa o que tenha ficado para trás. É com estas dádivas que são criadas as almas de mães.

              Falar sobre o ” bicho-mãe” é trazer a baila toda história de uma benção; é falar sobre a guardiã do mundo dos filhos; é falar sobre alguém que faz e conta histórias; é alma que trás almas para perto de si e que docemente as transformam em alguém.

               Mãe é tudo isso. E quando essa história viva se apaga, algo dentro de nós deixa de brilhar também.

Alda Alves Barbosa