Burburinho

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A noite é escura, mas eu não a sinto assim, escura; eu a sinto cheia, clara, silenciosa, solitariamente poética. Solitária, sim… poética, sim… Um convite à observação, ao encontro com os sonhos. Sonhos que sonho acordada para viver a esperança. Esperança de quê? Sei lá… Pra que saber, se o que importa é que eu tenha esperanças para que o sentido de minha vida seja inventado. O sentido da vida é mutável. Hoje eu desejo viver por nada… Amanhã eu desejo continuar vivendo porque preciso percorrer estradas… pra chegar onde? Viver não precisa de chegadas nem partidas; estamos sempre em processo de ir…

E assim vou renovando os sentidos, as necessidades de tecer laços de fitas para presentear os significados que dou ao meu viver. Não será esta tessitura um sentido da vida?

Preciso dormir… Preciso de sossego para morrer por algumas horas. Como abraçar os sonhos em meio a tanto burburinho? Ó dia, preciso dormir para ressuscitar no crepúsculo! E imploro ao Senhor para que me dê essa lua e empreste-me as estrelas… Preciso viver… a poesia!

Alda Alves Barbosa

Sem lugar no mundo

10245386_744100988967860_7129305206885715938_n Dani xxAndo assim, assim: sem lugar no mundo. Sem casa, sem teto, sem lar. Sem um lugar onde descalçar os sapatos e despir as roupas e a alma. Ando assim, sem cama minha pra dormir ou espaço meu pra me jogar. Minha mala, minhas coisas já não são minhas, são de ninguém. Hora aqui, hora lá e o coração ainda mais distante. Ando comigo. Meu eu me acompanha sem entender muita coisa. Converso com uma pessoa morta, me reconheço em textos dolorosamente ácidos, vejo o outono colorir tardes bucólicas sem o encantamento de outros anos. Calejada, sem abraços, sem palavras. Sinto frio até em dias quentes. Vagueando por uma estrada escolhida sem muito senso de direção e mil dedos ao redor apontando caminhos que acham que eu deveria escolher; ou mil dedos apontando pro meu ser ou para aquilo que eu deveria ser. Não me importo mais. Piso com força contrariando a todos com o prazer de fazer sozinha minhas escolhas. A partir de hoje mais silenciosa. De todos os ouvidos que acolhem aflitos sentimentos meus, os seus eram os que realmente me entendiam por inteiro. Sem você aqui, hoje percebo que já não faz sentido derramar em outras pessoas. É uma pena… Todo mundo merece um cúmplice! Ando assim, assim: sozinha, sem paz e em silêncio!

 

Alda Alves Barbosa