Porque fui… porque retornei

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A mala estava pesada, não por excesso de bagagem… Consegui arrastá-la até a porta. Abri, e sem nenhum adeus, parti.

Parti porque aqui a dor doía todos os dias… Parti porque eu desconhecia instantes de felicidade a que todos os humanos têm direito… Parti porque tinha de ir; minha terra tinha gosto de coronelismo, gosto de servidão… Parti porque todos os dias eram paridos escravos e capachos.

E eu não concordava, nunca concordei… Eu sofria por algo que não entendia, mas que doía – Sertão bonito, gente pequena, serviçais, súditos de minúsculos e ignorantes “deuses.”

Voltei porque todos nós adoecemos. Voltei para sepultar os poucos meus que restaram… Voltei para ver que os coronéis, apesar de serem outros, ainda habitavam a cidade – em Portugal ela seria de médio porte -, e os vassalos tinham novos rostos, mas davam continuidade ao passado. Voltei para enxergar que o cenário, mesmo não sendo o de antes, continuava sendo habitado pelo continuísmo imoral.

Não posso retornar. O tempo nos adoece e cava a nossa sepultura. Mas consigo transitar entre a indignação e a observação. Fico olhando de longe a terrícola tão antiga, tão sem profundidade, tão rasa e por isso tão cheia de escravos, de capachos… de ínfimos coronéis!

Alda Alves Barbosa

Sepultamento das Amélias e Cinderelas – Dia Internacional da Mulher

Bailarina

E as Amélias e Cinderelas estão morrendo! Mortes e sepultamentos necessários. A vida real nos chama… A realidade nos mostra seu rosto despertando em nós uma necessidade de cuidarmos de nós mesmas. Cuidar de nós mesmas significa fazer nossas escolhas, trilhar caminhos escolhidos por nós, chegando onde desejamos chegar.

Estas atitudes nos tira da condição de exiladas, de incapazes… Sim, incapazes! Um sentimento destrutivo, uma tempestade sombria de transferência de responsabilidades nossas para o outro. E nos perdemos… O outro nos tem. Ele passa a abrigar nossos sonhos, nosso eu!… E não nos devolve mais a nós mesmas. Fomos sepultadas no outro!

Amélias e cinderelas ainda é a grande maioria. As Amélias cuidam do outro(s); as Cinderelas esperam alguém que cuide delas. Mas aos poucos elas estão morrendo… Afinal, destruir séculos de servidão não se faz de um dia para o outro.

Sigamos em frente…” Pintora pegue o pincel… pinte. Bailarina, vista sua malha, amarre fitas no cabelo, na cintura ou nos tornozelos e … dance!” Poetas, escritoras, sejam férteis… escreva. Mãe, respire profundamente e vá à luta… ensine seu filho a arte de viver. Esposa, seja mulher, mas seja independente, “casamento não é batido a prego” – Ditado popular.

Dancemos todas! Marias, Joanas, não importa o nome… Exerçamos nossa arte, seja ela qual for… “O que está em movimento não se congela!”

Sigamos em frente!

Alda Alves Barbosa