Deslembrar

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Seria tão bom se eu pudesse deslembrar de tudo! Seria tão bom esquecer minhas saudades! Saudades machucam, doem, sangram!

Percorri muitas estradas e por isso elas são longas. Olhar para os ontens descosturam as feridas, e o hoje chora, tamanha a dor! Dor de saudade fica enclausurada no tempo, e eu insisto em olhar.

Saudade deveria ter asas, voar para bem longe… Poderia ser levada pelo vento para longe, longe, muito longe! E eu não sentiria mais faltas… não choraria as ausências… não olharia mais pelas janelas como quem espera o que jamais retornará!

Saudades… um sentimento de inexistência! Seria tão bom se eu pudesse deslembrar!

Alda Alves Barbosa

Na paz da noite

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Na paz da noite cheia de passado, há uma lei que manda no meu sentir. Um quê de saudade nostálgica que insiste que eu retroceda os meus passos… E chego à vida que vivi. Vivi tanto em poucos segundos! Vivi tanto! Tenho a idade da intensidade com que vivi cada tempo. Isso define o porquê do cansaço da vida que vivi!

E por ter vivido tão intensamente, instalou-se em mim um deserto imenso, não de emoção, mas de busca de um fim. Vivi tudo? E se houver mais estradas a percorrer? Meu corpo antigo, cansado de tanta vida, resistirá? E os sonhos não concretizados? São apenas sonhos não concretizados?

Tenho a vaga impressão que estou desejando uma vida infinita; uma ilusão de viver uma juventude sem fim, na paz da noite, cheia de passado!

Alda Alves Barbosa

Raízes

Raízes

Enquanto meu olhar enternecia com o desfilar dos carros de bois na Av. Governador Valadares, voltei no tempo: “evém o carro de boi” – gritava eu ,menina ,para meus irmãos. A entrada sempre era triunfal, era bonito ver o guia na frente mostrando o caminho aos bois; era triste ver os bois curraleiros tentando tirar a carroça do lamaçal da rua. O guia chegava o ferrão e ainda gritava: – Lazão, Baeta, vamos – ôoa vamos! E assim entre gritos e ferroadas os bois e a carroça saiam da lama. Era tão comum vê-los por ali, sempre passantes, trazendo lenha para ser queimada nos fogões, madeira decepada do cerrado; sacos de milho, de feijão roxo, sacos de arroz para serem vendidos na cidade, mas não perdiam a beleza do mistério de quem carregava o segredo da terra. Alguns vinham vazios, não traziam nenhuma mercadoria, transportava a esposa do pequeno fazendeiro, mulher de labuta, trabalhadeira, madrugadeira, analfabeta, bem parideira, criadeira de sua enorme prole. Vinham fazer compras na cidade. Retornavam rápido, tinham pressa, carecia de gente para vigiar os trabalhadores. “O olho do dono é que engorda a boiada” – costumavam dizer. E enquanto atravessava a ponte de madeira, meu coração chorava com a cantiga do carro, cantiga saudosa, choro que eu ouvia já distante, quase em légua. Uma légua de saudade é saudade por demais!… Hoje a saudade passa pela avenida asfaltada como peças representativas do passado. Quando retornam às fazendas, ficam encostadas num canto como se olhassem os caminhos por onde passaram. Enquanto isso vamos rangendo juntos as rodas do presente e olhando o passado desfilar… As lágrimas teimam em cair… Caem… Viro a esquina para esquecer as faltas!

Alda Alves Barbosa

 

 

Saudade

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Saudade é solidão acompanhada
É quando o amor ainda não foi embora,
Mas o amado já…

Saudade é amar um passado
que ainda não passou.
É recusar o presente que nos machuca.
É não ver o futuro que nos convida…

Saudade é sentir que existe o que não existe mais…

Saudade é o inferno dos que se perderam,
e a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam.

Pablo Neruda