Apesar de intenso…

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E em silêncio eu amava… Amava intensamente muitas… tantas… muitas! Amava com prazo de validade. Meu amor poderia durar até o outro amanhã ou até a próxima hora… Nenhum amor ficou para presenciar o nascimento dos vincos em meu rosto; nenhum amor ficou para ver os rios de águas azuis desaguando em minhas mãos; nenhum amor ficou para me desamar.

Hoje procurei vidas pelos cantos de minha vida. Não ouvi nenhum choro,nenhum riso… O espelho, amarelecido por décadas de inércia refletia com dificuldades um rosto duro, um olhar raso, muitas ranhuras pelo corpo molemente descolorido, miserável… Ali residia um corpo sem vida, coberto de tempo!

Alda Alves Barbosa

O espelho

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Descobri que o espelho é o objeto que preciso retirar do meu convívio. Não sinto nenhum prazer em ver minha imagem refletida nele. Estou envelhecendo! A flacidez, as rugas, os cabelos esbranquiçados me incomodam, entristecem-me.

Se insisto em me olhar é outra que vejo. Outra… Quem? Eu? Sim. Eu jovem, eu dançante, eu, esperançosa, eu, derramando sonhos! Domestiquei meu espelho. Não percebi que estava sempre viajando com o tempo. Nunca desarrumei as malas, não precisava, a viagem era contínua, sem pausas, sem estações.

E hoje, olhei fugitivamente para ele – o espelho – e tentei alcançar os segundos. Uma pergunta instalou-se em meu cérebro entorpecido: quem era aquela pessoa que me olhava? Me perturba mais descobrir que sou eu, ainda que diferente de tudo que fui ou pensei ser. Ali estava eu com outra face, com outro olhar. Percebi que vi em mim o que eu sempre fui. Que eu sou a minha própria bagagem. Aonde eu vou eu me levo. O excesso de peso é a minha nudez diante do que sou.

A flacidez, as rugas, as rusgas foram desenhadas pelo tempo e coloridas com seus pincéis descoloridos, flácidos! O que me espanta é essa geografia no corpo, no rosto. No espelho da viagem no tempo eu retorno para dentro de mim… Não há como me transformar em outra pessoa.

Dentro de mim a viagem continua… Sem pausa, sem estações! O tempo…

Alda Alves Barbosa