Longe o luar… Longe os sonhos…

2132531 Olga Czerwińska
Longe o luar… Longe o rio… Longe os sonhos… Perto as ausências e uma mágoa de não sei o quê; talvez mágoa das desesperanças, do vazio preenchido por escombros vividos nos ontens longínquos ou nos sofridos ontens tão próximos!

Uma ária sonolenta ecoa do espigão. O passado mora ali. Os passados moram ali. Em sonhos estou ali a lavar lençóis de mágoas nas pedras dos corações.

Fios d’água atravessam as distâncias, chegam aos meus olhos e deságuam como rios vincando meu rosto já pálido como a lua. E sonho. Sonho de vida iludida, morada de escombros.

Preciso da ilusão para viver… morrendo!

Alda Alves Barbosa

Burburinho

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A noite é escura, mas eu não a sinto assim, escura; eu a sinto cheia, clara, silenciosa, solitariamente poética. Solitária, sim… poética, sim… Um convite à observação, ao encontro com os sonhos. Sonhos que sonho acordada para viver a esperança. Esperança de quê? Sei lá… Pra que saber, se o que importa é que eu tenha esperanças para que o sentido de minha vida seja inventado. O sentido da vida é mutável. Hoje eu desejo viver por nada… Amanhã eu desejo continuar vivendo porque preciso percorrer estradas… pra chegar onde? Viver não precisa de chegadas nem partidas; estamos sempre em processo de ir…

E assim vou renovando os sentidos, as necessidades de tecer laços de fitas para presentear os significados que dou ao meu viver. Não será esta tessitura um sentido da vida?

Preciso dormir… Preciso de sossego para morrer por algumas horas. Como abraçar os sonhos em meio a tanto burburinho? Ó dia, preciso dormir para ressuscitar no crepúsculo! E imploro ao Senhor para que me dê essa lua e empreste-me as estrelas… Preciso viver… a poesia!

Alda Alves Barbosa

A menina da janela

O sentimento de desamparo minimizado na figura materna e paterna. Os monstros da infância e o não entendimento do porquês da existência e da inexistência.
Na criança que fui e na mulher que hoje sou, nasceu na infância. Nessa fase fui me percebendo e percebendo o mundo. Me perceber enquanto ser humano, sempre foi um processo difícil. Não entendia e continuo não entendendo a vida, a morte… Era e continua sendo angustiante essa terrível ausência de respostas. Acho que sou uma pessoa torturada pelos porquês.

Da janela da minha infância fui me preparando para ser o que sou. Se vi e vivi tantas situações lúdicas, também vi e vivi as desgraças oriundas do estado ditatorial do coronelismo. Trevas que atingiram a mesa da minha família e que inundaram também a mesa de muitos.

Naquele tempo o sertão era grande, mas seu povo era pequeno. Ali, estava a casa que eu nasci e que continua existindo dentro da minha memória. Vivo e não vivo mais aquela criança que perdia o medo porque sabia-se que no quarto ao lado haviam dois anjos para afugentar o lobo mau, o lobisomem, as almas penadas, a desgraça (mulher alta com uma enorme trouxa na cabeça) a mula-sem-cabeça…

Relâmpagos riscavam o céu; trovões (papai do céu ralhando); um rio de vento e as primeiras gotas de chuva caiam. Começava o inverno das águas. Um mês de chuva ininterrupta. o Rio Preto tecia fúrias; ruídos invisíveis; monstros engolindo cerrado… Medo? Sim, mas sabia-me protegida. No assoalho retumbava os passos da minha segurança esvaziando as bacias que amparavam as goteiras.

E eu ouvia – “Sai da janela, menina. O luar só voltará quando a chuvarada passar.” Invernou mesmo! Ralhava minha mãe!

Alda Alves Barbosa

Eu e o luar

olhando a lua
Envolvida nos liames da
noite, o luar chorou.
Eu, só na escuridão
noturna encontrei nas
lágrimas do luar a
minha companhia.
Eu e o luar
Nós e as lágrimas…
Um réquiem nos braços
da noite.
Fios do pensamentos
estilhaçados, olhos
do luar molhados
Meu olhar molhado
de luares.

Alda Alves Barbosa

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Além do cimento

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Acordei buscando esse dia… Percorri longas estradas e humildes caminhos. Buscava a beleza; pequenos detalhes que me trazem felicidade. Não, não são detalhes, meu olhar necessita dos enfeites coloridos para que eu não me sinta tão incompleta! Por isso busco a simplicidade do belo.

E meu sonho viajou pelas estrelas, correu atrás das águas, dormiu nos sepulcros da árvores… Meu sonho queria morrer. Decidira fazer companhia aos restos mortais do cerrado.
Repensou. Optou na continuidade da busca… Meus cabelos pratearam, meu rosto encheu-se de vincos – lado sombrio da vida – e eis que vi meu sonho real, simples, doçura de cores, pétalas amarelas, rosa, vinho – rendas multicores trazidas pelo sol e pelo luar! Estavam aqui, belas e imponentes desmanchando-se ao vento, colorindo o chão com tapetes bordados!
Um sonho real ainda pequeno, mas eu sonho grande e acredito nos amanhãs!

Alda Alves Barbosa

Galeria:

Bairro: Bela Vista. Rua Santos Dumont, Castro Alves e Delvito Alves
Fotos: Ana Maria Moraes Carvalho

Serenata

Serenata

Rua grande
Bar velho
Bar novo
Suco de lua
sereno da madrugada

Clara de lua
invade a rua
entre o luar e o luar
Árvores cerradeiras.

Prata no céu
Beijos de lua
Violão… Melodia dourada
Almas raízes
Aguardam a aurora.

Na paz poeirenta
Eu, criança
Durmo feito noite!

Alda Alves Barbosa!

Canção da tua ausência

Canção da tua ausência

E esta canção silenciosa e repetitiva povoou minha mente durante todo o dia. Canção minha… Canção tua, nossa. Cante-a para mim! Convide a lua, as estrelas, para testemunharem esse doce momento. E eu com os olhos cerrados ouvirei tua voz terna, insinuante… os instantes reviverão.
Canta amor… Deixa que meu coração doa, que todo meu ser chore. Chora por ti, porque está só, porque a solidão é fria.
Despertei com os murmúrios da saudade… Despertaste em mim através da tua ausência… E eu abracei o luar, abracei o amor, beijei a tua vida, e a enlacei em meus braços. Canta, amor! Canta tua ausência, canta a distância, o desencontro, o desamor… Canta… Tua voz é uma ponte onde o horizonte atravessa para que a noite chegue e traga o luar para dentro de mim!

Alda Alves Barbosa