A menina da janela

O sentimento de desamparo minimizado na figura materna e paterna. Os monstros da infância e o não entendimento do porquês da existência e da inexistência.
Na criança que fui e na mulher que hoje sou, nasceu na infância. Nessa fase fui me percebendo e percebendo o mundo. Me perceber enquanto ser humano, sempre foi um processo difícil. Não entendia e continuo não entendendo a vida, a morte… Era e continua sendo angustiante essa terrível ausência de respostas. Acho que sou uma pessoa torturada pelos porquês.

Da janela da minha infância fui me preparando para ser o que sou. Se vi e vivi tantas situações lúdicas, também vi e vivi as desgraças oriundas do estado ditatorial do coronelismo. Trevas que atingiram a mesa da minha família e que inundaram também a mesa de muitos.

Naquele tempo o sertão era grande, mas seu povo era pequeno. Ali, estava a casa que eu nasci e que continua existindo dentro da minha memória. Vivo e não vivo mais aquela criança que perdia o medo porque sabia-se que no quarto ao lado haviam dois anjos para afugentar o lobo mau, o lobisomem, as almas penadas, a desgraça (mulher alta com uma enorme trouxa na cabeça) a mula-sem-cabeça…

Relâmpagos riscavam o céu; trovões (papai do céu ralhando); um rio de vento e as primeiras gotas de chuva caiam. Começava o inverno das águas. Um mês de chuva ininterrupta. o Rio Preto tecia fúrias; ruídos invisíveis; monstros engolindo cerrado… Medo? Sim, mas sabia-me protegida. No assoalho retumbava os passos da minha segurança esvaziando as bacias que amparavam as goteiras.

E eu ouvia – “Sai da janela, menina. O luar só voltará quando a chuvarada passar.” Invernou mesmo! Ralhava minha mãe!

Alda Alves Barbosa

Por tua causa

Por tua causa

Há em teus olhos negros
um brilho chamejante
no teu riso um mundo
de claridade!
Teu olhar… Teu sorriso…
Loucura e fantasia!

Paixão estranha
coração ardendo
gemidos, soluços
abraços sem nós.

E nas noites
Prisão triste
de quem te espera
na janela vendo a
chuva cair…

No meu peito!

Alda Alves Barbosa