Entre o belo

margaridas

Não me procure entre os homens
Procure-me nas águas cantantes
do Rio Preto, no murmúrio dos riachos
No tímido farfalhar das folhas
Nas verdejantes relvas
Entre as flores insinuantes e coloridas
Ou num canteiro de margaridas brancas, doces…

Procure-me onde o amor foi semeado.

Alda Alves Barbosa

Caminhos do cerrado

Caminhos do cerrado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nos caminhos do
cerrado andei…
Jabuticabeiras me
cobriam com suas
vestes verdes.
Provei seus frutos…
Em minha boca
escorria o néctar do
deus negro.
Nos caminhos do
cerrado andei…
Conheci o sorriso
das flores tímidas,
pobres e belas
Vaguei
entre suas esculturas
ouvi o canto dos
pássaros, sinfonia
para espantar solidões
Vaguei
entre formigueiros
calangos
carrapatos
esperança
cigarras…
Hoje vagueio
entre monturos
de lembranças.

Alda Alves Barbosa

Minhas, ou nossas fomes?

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Sim, sou eu essa mulher que debaixo do sol ardente, debruça sobre o asfalto quente para colher o lixo que alguém plantou.

Sim, sou eu essa mulher que sem nenhum receio, pede de maneira afável, que joguem o lixo no lixo.

Sim, sou eu essa mulher que muitos recebem com sorrisos benevolentes, quando peço-lhes que deixem a calçada livre para o povo unaiense passar!

Sim, sou eu essa mulher que se indigna quando decepam as poucas árvores do nosso cerrado, ou quando mutilam seus galhos, tirando-lhes a beleza verdejante.

Sim, sou eu que amo flores e derramo lágrimas na primavera unaiense – primavera sem cores, sem perfumes… amores imperfeitos.

Sim, são minhas estas lágrimas doídas que se juntam às águas do Rio Preto, com saudades dos peixes dourados, amarelos brilhantes como a luz das estrelas.

Sim, são minhas estas palavras… são meus estes olhos cheios de encantamento pelas esculturas que o tempo molda nas grutas, e que poucos têm a oportunidade de contemplar.

É minha essa fome de educação, de cultura, de flores, de sombras…

Nada é só meu… Nem os sonhos, nem os pesadelos. Temos em comum a esperança de uma evolução de mentalidade, para que aconteça uma verdadeira transformação em nossos hábitos.

A verdade é que sei que essas fomes não são só minhas, são nossas, e por isso acredito no despertar unaiense.

Alda Alves Barbosa