O sono que cai sobre mim

0a243622ffd2b4a07d476a0b7985a758 Pelas frestas das janelas dei conta que já era quase noite. Dentro de casa a luz apagada dava um ar lúgubre, sombrio. A cama em desalinho; livros e remédios disputavam espaço dentro da bagunça. Um gato em seu eterno sono há dias parara de ronronar. Nunca me lembro de colocar as pilhas. TV ligada há dias ininterruptamente – vozes que não escuto e imagens que não vejo. No corredor o silêncio do abandono. Na floreira flores murcham e despetalam. Em um canto as margaridas brancas e por isso virgens, mudam de cor… Perderam a virgindade!

Em cima da mesa uma jarra aguardava a pureza das margaridas para enfeitar a vida dos amanhãs. Em meio ao caos fecho os olhos.

Não espero nada, não espero ninguém. A eternidade é o sono que cai sobre mim!

Sonho? Realidade?… Amanhã saberei!

Réquiem

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O sino tange distante, eu entrelaço minhas mãos às suas e nossos olhares encontram os céus.

Hoje estamos juntos… Nada sabemos do amanhã, do depois de amanhã… Desejamos apenas estes instantes, o próximo que vier…

Nossas mãos irromperam as nuvens… Embaixo um amontoado de pessoas acompanham lentamente um triste réquiem.

E nós dois – separados pela eternidade!

Alda Alves Barbosa

Sombras

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Acordei quando a tarde estava morrendo. Despi-me do véu, e o mundo descortinou-se diante do meu olhar. Descortinou-se? Não, apenas alguns farrapos de luz adentraram em meio às sombras que se erguiam.

E eu me abracei às sombras. Elas me ajudam na criação de vidas… . seres inteiros , seres metades. Invento o viver e o morrer… Invento vidas para que eu continue respirando. Criação eterna sem o selo da eternidade! Talvez seja apenas uma forma de aguardar o fim sem a angústia da espera!

Invento vidas para eu viver… Viver nas sombras para entregar-me à brandura, à rendição do faz-de-conta! Exíguos fantasmas! Joguetes das minhas vontades, dos meus quereres!

E da minha vida, o que fiz com ela? Sonhei demais… Sonhei de menos? Tudo ficou apenas em sonhos? Isto quer dizer que percorri estradas que não me levaram a lugar nenhum? Fui fiel ao nada!
Alvoreceu… As sombras se diluíram. Dentro de mim um desconfortável sentimento de abandono! Chegou o momento de morrer para ressuscitar quando as sombras retornarem!

… E criarei mais vidas!

Alda Alves Barbosa