Sou tantas…

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Não sei quantas pessoas moram em mim. Cada momento sou uma. Sinto-me estranha a cada vez que outra toma o lugar. Sempre me perco, nunca me acho. Quando penso que sou não existo mais… E confundo-me entre tantos eus. Torno-me elas, e não eu.

Não sei onde estou. Devo estar em alguma estrada procurando caminhos que me levam até a mim. Caminhos íngremes, áridos, paisagem inóspita… Tantas pedras, quantas escuridão!

Sou minha própria paisagem. Fico na margem das estradas assistindo minha passagem transbordando interrogações

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Adão e Eva no Paraíso Iluminado

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E Deus disse:” faça-se luz” e a terra inundou-se de luz. Faltava o homem e a mulher para encher o nosso planeta de seres humanizados.E Deus criou Adão. Retirou dele uma costela e criou a mulher. Adão e Eva… seres humanos que pisaram na terra podendo andar pelo paraíso terrestre com tranquilidade; desviavam-se de todos os atropelos, fossem eles físicos ou mentais. Tudo era tão claro… Tudo luzia!

O casal era pensador: sabia assinar seus nomes, sabia que 2 – 2 era igual a 4… eram pessoas excepcionais! Filosofavam, liam livros em qualquer idioma… Com os livros foram se aperfeiçoando e tornaram-se gênios.

O tempo passou… Adão e Eva deixaram de lado os livros, abandonaram as conversas filosóficas e produtivas; com o passar das estações a inércia foi intensificando e eles foram emburrecendo. Desobedeceram Deus comendo a maçã e tudo que havia no paraíso.

A monotonia e a burrice os fizeram pecar. Tentando redimir, foram multiplicar a população e o planeta terra foi povoado! Sete bilhões de pessoas divididas em classes. Uns pobres, outros pobres demais; uns remediados, outros na miséria;uns ricos, outros ricos demais; uns poderosos, outros com excessos de poder…

E os ricos e poderosos transformaram-se em deuses e ordenaram:” faça-se a escuridão” – e o mundo de cada um enegreceu… e a vida de todos escureceu! Enganei-me… Apenas os pobres, os miseráveis e os mais ou menos é que receberam o castigo por pertencerem a castas inferiores.

E nenhum raio de sol… nenhuma luz elétrica… Total escuridão! Culpa da burrice dos deuses!

Alda Alves Barbosa

Eu e o luar

olhando a lua
Envolvida nos liames da
noite, o luar chorou.
Eu, só na escuridão
noturna encontrei nas
lágrimas do luar a
minha companhia.
Eu e o luar
Nós e as lágrimas…
Um réquiem nos braços
da noite.
Fios do pensamentos
estilhaçados, olhos
do luar molhados
Meu olhar molhado
de luares.

Alda Alves Barbosa

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Procuras

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Como todos os dias esperei ansiosa a noite chegar. Iria abraçar minha poesia, conversar com minhas criaturas, inventar mundos… Eu iria viver. 

A noite chegou e encontrou minha alma na escuridão de um tempo não vivido. Decidi morrer no hoje para procurar os ontens num tempo onde eu me debruçava nas ruínas e dormia o sono dos sepultos. Este tempo sepulcral eu o quero de volta para entender os porquês das minhas ausências… Tempo que desisti dos meus sonhos, desisti de ser… não fui o que deveria ter sido.

E se eu tivesse seguido em frente em vez de virar à esquerda? Perdi-me nas bifurcações. Escolhas erradas ou não me preocupei em escolher? Ignorei as badaladas da cruz se cruzando; ignorei a mudez do tempo passando; ignorei os alinhavos do passado. Tornei-me escrava da dor, mendiga da compreensão do outro. Fiquei com a alma vazia… me perdi pelos caminhos das interrogações.

Hoje eu procuro este tempo… Pra quê? Porque este tempo me pertence, pedaços meus estão ali. Neste tempo minha alma chorou as perdas e eu me perdi de mim… Encontrei-me entre as ruínas sobre o olhar  que chorava.

Nas alternâncias entre o viver e morrer, depois de todo cansaço, procuro estes instantes transformados em décadas  com os olhos de inverno… Talvez estejam no quarto escuro do medo!

Alda Alves Barbosa