Como vamos fazer sem água? Parte II

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Bacia Hidrográfica
“a estiagem prolongada que vivemos agora não é a única razão da crise de água em que se encontra a região de São Paulo”
Não é simples manter uma bacia hidrográfica em boas condições, pois são muitos os cenários que ocorrem ao mesmo tempo. Por exemplo, tem gente e cidades, agricultura em pequena ou grande escala, criação de animais, indústrias, e assim por diante, cada um demandando elementos da natureza que nem entram na contabilidade cotidiana. Mas, as florestas acabam sendo afetadas e em geral recebem toda a responsabilidade do que acontece com a água. O ideal é que o sistema fosse monitorado cuidadosamente, tanto o rural quanto o urbano, o que raramente acontece. E, sem um manejo adequado, espera-se muito mais das matas ciliares do que elas dão conta de suportar. Além disso, as práticas humanas são com frequência devastadoras – queimadas nas plantações de cana de açúcar, por exemplo, ou loteamentos desregrados. Todas as práticas têm consequências, sendo que a maioria das pessoas e mesmo da mídia não percebe a ligação entre o que causou desastres ambientais como deslizamentos de terra ou agora a falta de água, com as ações humanas anteriores. O fato é que a estiagem prolongada que vivemos agora não é a única razão da crise de água em que se encontra a região de São Paulo.

O argumento “plantar floresta” pode ser sedutor, mas deve ser usado com cautela, principalmente quando se pretende retirar as florestas antigas para replantar novas. Uma floresta madura oferece todos os serviços ambientais em seu ápice de qualidade, enquanto que o replantio em muitos aspectos exige mais do que oferece num primeiro momento. Por isso não se deve trocar florestas antigas por novas. Deve-se sim, plantar florestas novas protegendo as antigas, e analisar os dados sobre reflorestamento com essa perspectiva.

Perdas do novo código florestal
outros aspectos impactam a qualidade das florestas. Por exemplo a distância entre os fragmentos de matas ou a conexão entre eles influenciam os serviços ambientais que oferecem. Áreas que alagam muitas vezes são favoráveis a reflorestamento, mas não são protegidas pelo Código Florestal. Nesse sentido, as Áreas de Preservação Permanente (APPs) de 30 metros, como regia o antigo Código, ajudariam muito se tivessem sido levadas a sério, mas essa exigência caiu na nova lei. As áreas alagadas de várzeas, se não forem cobertos de florestas, causam danos aos rios, que acabam sendo assoreados e ainda recebem os aditivos agrícolas usados nas culturas locais que acabam na água. Por serem as mais produtivas, o proprietário nem sempre quer reflorestar, e quem acaba sofrendo é a água. Por isso, o planejamento deve também existir para as florestas e um estudo da paisagem, mesmo que complexo de ser implementado, deve ser contemplado na gestão de uma região.

Com as mudanças climáticas, os ciclos naturais estão mais desregulados. Se por um lado tudo acontece rapidamente, o planejamento passa a ser visto como secundário porque adota-se a postura de “apagar incêndios”. É o que está ocorrendo em São Paulo, e é visível no Sistema Cantareira. Falta planejamento, falta assumir responsabilidades, falta vontade política. Muitos técnicos acreditam que obras resolvem. Com certeza engordam os bolsos de alguns, mas a questão é complexa e só obra é insuficiente para se enfrentar os desafios atuais. O fato é que assistimos a um triste cenário com perspectivas assustadoras que a maioria ainda não percebeu. São Paulo está sem água. Ano eleitoreiro piora a percepção e parece colocar tapa-olhos nos tomadores de decisão e candidatos. E, claro, existem resistências de se planejar a longo prazo porque os resultados podem não aparecer num mandato governamental, ou na gestão de um administrador. Uma lástima, porque mais uma vez a vida é colocada em um segundo plano em detrimento a interesses pessoais.

Consulta: http://www.oeco.org.br/suzana-padua/28568-agua-e-floresta-merecem-gestao-de-longo-prazo

A desertificação verde estrangeira e a destruição do cerrado brasileiro.

Ecos do Cerrado

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A pretexto de incrementar o progresso e o desenvolvimento econômico de algumas regiões do Brasil, várias frentes de sistemas produtivos, no decorrer das últimas décadas causaram danos irreparáveis aos sistemas biológicos – animal, vegetal – e até mineral. Centenas de milhares de hectares, de florestas, cerrados, caatingas e milhares de rios, riachos, lagoas, lagos foram destruídos. Onde antes corriam rios caudalosos, hoje açoreados, quando não mortos, são testemunhas reais dos desmandos praticados, por uma agropecuária mal planejada. Se é que um dia houve planejamento. E o que falar da agricultura? Esta sim, além de promover uma desertificação sem volta, provocou a poluição dos rios –via agrotóxicos -, condenou a extinção de rios, pela ausência de um programa de micro-bacias. Isto sem contar com a flora e a fauna.

O Brasil então se apresenta ao mundo como uma nação que devasta a natureza, para alimentar bocas estrangeiras. O Brasil se apresenta ao mundo como sendo o país celeiro do mundo. A que custo?

No balanço rasteiro do governo brasileiro, existe hoje algo em torno de 130 milhões de pastagens degradadas. O que representa afirmar que de forma irresponsável, extinguiram em termos de fauna e flora, 130 milhões de hectares. Mas esta degradação/extinção acrescenta ainda sistemas erosivos, que por sua vez promovem a perda de milhares de milhões de toneladas de solo, que inevitavelmente irão parar nos leitos dos rios.

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A monocultura é a responsável pelo surgimento dos primeiros desertos verdes no Brasil. A pretexto de abrir novas frentes de produção, alguns estados como o Mato Grosso, Goiás, Piauí, Maranhão e Pará simplesmente promoveram uma devastação, na qual a produção obtida em termos de grãos e arrobas de gado, jamais irá pagar o dano causado. A natureza foi duramente e cruelmente agredida.

O estado do Paraná, na área considerada como corredor da fome – Arapoti, Castro, Jaguariaíva, parte do município de Ponta Grossa, Tibagi, Piraí do Sul, Ventania, Curiúva, Ibaiti e outros mais, hoje são considerados desertos verdes e bolsões de miséria mais acentuada, do que antes do aparecimento das grandes empresas de reflorestamento. Nestes desertos verdes municipais, onde o Pinus Taeda é a principal espécie cultivada. Nas áreas ocupadas com este tipo de cultura, não se encontram mais, o nhambu, o jacu, a lontra, a jaguatirica, a anta, o tateto, todos foram extintos literalmente nestas áreas destinadas ao reflorestamento.

No momento está em marcha em vários estados brasileiros, uma verdadeira corrida pela a implantação de áreas para o plantio de eucalipto, no cerrado brasileiro, sob o pretexto de se produzir carvão, que será destinado às siderúrgicas, para a produção do ferro gusa. Assim como existe em paralelo uma corrida devastadora do bioma cerrado para este mesmo tipo de plantio/cultura, destinado a produção de celulose.

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Chama à atenção a presença de empresas especializadas em promover a devastação do cerrado, nos estados do centro-oeste e norte do Brasil, para o plantio de eucalipto.

A biodiversidade deixa de existir a cada hectare devastado. A morte biológica de ecossistemas, dá vida à monocultura florestal exótica. O eucalipto sob o pretexto de gerar lucros, na realidade gera miséria. A principio determina o fim da biodiversidade do cerrado, que por sinal é muito frágil. Determina o fim das veredas e dos buritizais, o fim das araras, que fazem seus ninhos nos pés de buritis. Seca de forma radical, não só as veredas, como todos os cursos de água que abastecem sistemas naturais de cursos de água.

Mas qual seria a alternativa, para se evitar a formação de desertos verdes, provocado pelas plantações indiscriminadas de eucaliptos? Acredito que no cerrado, existam variedades de madeira que crescem tão ou até mais rápido que esta espécie exótica. O que falta na realidade são pesquisas orais. Isto mesmo. Pesquisas orais. Garimpar conhecimentos como os moradores mais antigos, de todo o cerrado brasileiro e encontrarão respostas exemplificadas, em mais de 50 espécies de árvores, que se pesquisadas adequadamente irão fornecer, matéria prima, sem penalizar o meio ambiente do cerrado.

Em relação à geração de lucros, de empregos, de movimentação financeira regional, tudo isto, sequer paga um milionésimo do estrago irreparável que uma plantação de eucalipto provoca. Inclusive na diminuição de água subterrânea, que abastece sistemas hídricos fluviais. O cerrado irá sofrer uma modificação do seu ecossistema, de forma considerável. Haverá modificação no sistema de chuvas, de temperatura, da fauna, da flora, da biodiversidade, de costumes, de tradições e porque não dizer, irá provocar a expulsão de famílias centenárias, que habitam estes locais.

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Sob o falso pretexto de trazer o progresso, com a implantação de desertos verdes, gerando impostos, mão de obra, novas formas de bem estar social, empresas internacionais estão adquirindo milhares de hectares, em parceria com empresários nacionais e promovendo a desertificação verde, no cerrado brasileiro.

Interessante esclarecer, que estas desertificações, em sua maioria são realizadas em vales férteis, com excelente capacidade de retenção de água e terras planas. As empresas não se interessam por áreas com declives acima de 20%. As empresas desertificadoras do cerrado brasileiro, sequer fizeram uma Audiência Pública, para discutir a inclusão de pequenos produtores rurais, inclusive os da Agricultura Familiar, para que se analisasse a possibilidade da sua inclusão. Pequenas propriedades, com 20,30 hectares, poderiam explorar não mais que 20% com eucalipto, o que provocaria um aumento de renda, não só do plantio deste tipo de arvore, mas também a exploração da apicultura, da agrosilvicultura, da pecuária de pequeno porte e até de lavouras estacionais. Existem hoje milhares de assentamentos rurais que poderiam ser considerados e aproveitados.

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Mas, fazer o quê? Nada. O poder econômico internacional esmaga com coturnos de aço, e armas potentes, representadas pelos interesses políticos, toda e qualquer ingerência e contestação que não lhes agrade.

Feliz Deserto Verde, novas gerações que irão conviver com o odor de enxofre, das futuras fábricas de celulose.

Autor: Romão Miranda Vidal

Animais do Cerrado em Extinção

Ecos do Cerrado

O Cerrado é um dos principais biomas brasileiro, e o mesmo abrange grande parte do território do país, sua maior concentração encontra-se na região Centro Oeste. O Cerrado é um bioma que apresenta riqueza tanto em sua fauna, quanto na sua flora, além de apresentar um grande potencial hídrico.

Pesquisadores relatam que cerca de aproximadamente 837 espécies de aves, 180 espécies de répteis, 197 espécies de mamíferos, 113 espécies de anfíbios, além de uma grande diversificação de insetos tenham sido identificados no bioma do Cerrado. E os mesmos relatam que várias espécies de plantas e de animais ainda não tenham sido catalogadas.

Algumas ações do ser humano, veem notoriamente ocasionando/contribuindo no aumento do número de espécies ameaçadas de extinção, não só no Cerrado, más também em outros biomas. Entre essas ações do ser humano que contribuem para o aumento do número de espécies de animais ameaçados de extinção, destacam-se as seguintes: caça ilegal, contrabando de espécies, queimadas e desmatamento ilegais (afetam e destroem o habitat natural dos animais) dentre outros. Veja a seguir um guia contendo informações sobre algumas das espécies de animais típicas do Cerrado que estão em risco de extinção.

Guia de espécies de animais típicas do Cerrado que estão em risco de extinção:

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Classificação científica
Nome Popular: Anta
Nome Cientifico: Tapirus terrestris
Família: Tapiridae
Ordem: Perissodactyla
Peso: Cerca de até 250 kg
Comprimento:
Fêmeas até 2,20 m
Machos até 2,00 m
Altura: Pode chegar a atingir até 1,10 m
Gestação: O período gestacional pode chegar a durar cerca de 335 a 439 dias
Número de filhotes: 1
Alimentação: Frutos, grama, folhas, plantas aquáticas, brotos e cascas de árvore.

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Classificação Científica:
Nome Popular: Capivara
Nome Cientifico: H. hydrochaeris
Família: Hydrochoeridae
Ordem: Rodentia
Reino: Animalia
Classe: Mammalia
Filo: Chordata
Subordem: Hystricognathi
Género: Hydrochoerus

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Classificação Científica:
Nome Popular: Onça-pintada
Nome científico: Panthera onca
Família: Felidae
Ordem: Carnivora
Reino: Animalia
Classe: Mammalia
Filo: Chordata
Género: Panthera
Coloração da pelagem: Mesclada de amarelo, branco e preto
Altura: Cerca de aproximadamente 80 cm

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Classificação Científica:
Nome científico: Priodontes giganteus
Nomes populares: Tatu-canastra, tatu-carreta ou tatu-açu
Peso: O tatu-canastra adulto pode chegar a pesar cerca de aproximadamente 60kg

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Classificação Científica:
Nome Científico: Tolypeutes tricinctus
Nome Popular: Tatu-bola
Comprimento: O tatu-bola mede cerca de aproximadamente 50 centímetros
Alimentação: cupins, artrópodes, formigas, frutos, larvas de insetos e ovos de pequenos répteis.

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Classificação Científica:
Ordem: Carnívora
Nome Vientífico: Lontra longicaudis
Nome Popular: Lontra
Família: Mustelidae
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Hábitos alimentares: Carnívora
Habitat: Rios e Lagos

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Classificação Científica:
Nome Científico: Myrmecophaga tridactyla.
Nome Popular: Tamanduá-bandeira
Família: Myrmecophagidae
Hábitos alimentares: Insetívoro

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Classificação Científica:

Nome científico: Ozotocerus bezoarticus
Nome Popular: Veado-campeiro
Classe: Mammalia
Família: Cervidae
Ordem: Artiodactyla

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Classificação Científica:
Nome Cientifico: Crotalus durissus
Nome Popular: Cobra Cascavel
Família: Viperidae
Filo: Chordata
Reino: Animalia
Ordem: Squamata
Classe: Reptilia

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Classificação Científica:
Nome cientifico: Micrurus corallinus
Nome Popular: Cobra Coral Verdadeira
Família: Elapidae
Ordem: Serpentes
Filo: Chordata
Reino: Animalia
Classe: Reptilia

Além dessas espécies, algumas outras também correm risco de extinção no Cerrado, sendo elas:

Queixada, Lobo-guará, Paca, Jaguatirica, Cateto, Gambá, Onça-parda, Preá, Teiú, Cachorro-do-mato, Calango, Preguiça, Cobra-cipó, Sauá, Jiboia, Guariba, Cobra-coral falsa, Jararaca, Urutu.

Fonte: http://www.dicasfree.com/

Ecos do Cerrado – Interferência ou morte

Ecos do Cerrado

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 Interferência ou morte

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, localizado em uma grande área do Brasil Central. Por fazer fronteira com outros importantes biomas, (a Amazônia ao norte, a Caatinga a nordeste, o Pantanal a sudoeste e a Mata Atlântica a sudeste) a fauna e flora do Cerrado são extremamente ricas.

Na região existem mais de 10.000 espécies vegetais, uma grande variedade de vertebrados terrestres e aquáticos e um elevado número de invertebrados. Espécies ameaçadas como a onça-pintada, o tatu-canastra, o lobo-guará, a águia-cinzenta e o cachorro-do-mato-vinagre, entre muitas outras, ainda têm populações significativas no Cerrado, reafirmando sua importância como ambiente natural.

Além da biodiversidade, os recursos hídricos da região ressaltam em quantidade e qualidade: nas suas chapadas estão as nascentes dos principais rios das bacias Amazônica, da Prata e do São Francisco.

Apesar do seu tamanho e importância, o Cerrado é um dos ambientes mais ameaçados do mundo. Dos mais de 2 milhões de km² de vegetação nativa restam apenas 20% e a expansão da atividade agropecuária pressiona cada vez mais as áreas remanescentes. Essa situação faz com que a região seja considerada um Hotspot de biodiversidade e desperte especial atenção para a conservação dos seus recursos naturais.

Estudos realizados pelos pesquisadores do Programa Cerrado da CI-Brasil indicam que o bioma corre o risco de desaparecer até 2030. Dos 204 milhões de hectares originais, 57% já foram completamente destruídos e a metade das áreas remanescentes estão bastante alteradas, podendo não mais servir aos propósitos de conservação da biodiversidade.

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Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro

Muito provavelmente a abertura de áreas de pastagem para a criação de gado de corte foi a principal causa de desmatamento do Cerrado. Dias (1994) sugere que até 1985 o manejo de áreas nativas para a criação de gado seria a atividade econômica que ocuparia a maior parte nas paisagens naturais do Cerrado. Nos anos recentes, entretanto, as pressões sobre o Cerrado começam a ter uma outra origem.

Dados obtidos no banco de dados do IBGE (Sidra – disponível em http://www.ibge.gov.br) indicam que a área ocupada pela cultura da soja tem aumentado enormemente no país (Figura 9). De acordo com o anuário estatístico do agronegócio (Agrianual de 2003), mesmo considerando que a tecnologia tem aumentado a produtividade, que passou de aproximadamente 2,5 toneladas por hectare em 1995 para 2,9 toneladas por hectare em 2002 (Figura 10), a área plantada tem aumentado em uma proporção muito maior. A área destinada ao plantio da soja praticamente dobrou de tamanho, indicando que o bom momento do mercado pode estar atraindo cada vez mais empreendedores para a atividade.

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Essa tendência de aumento pode ser vista também em regiões localizadas na fronteira agrícola. Nessas áreas percebe-se que a introdução da soja pode mudar em pouco tempo a realidade local. Tomando como exemplo municípios localizados na região do Alto Parnaíba, no sul do estado do Piauí, nota-se que somente em 1993 a soja começou a ser plantada na região e de maneira muito tímida. Já em 2002, a área ocupada por essa cultura já tinha multiplicado por 6x a área original e aparentemente essa atividade encontra-se em franca expansão (Figura 11a). De modo contrário, culturas tradicionais como a mandioca, tipicamente associada a pequenas propriedades, tem decaído ao longo do tempo (Figura 11b). O dado ilustra que as culturas tradicionais devem estar cedendo lugar para modernas culturas mecanizadas como a soja, algodão, milho, milheto, sorgo e girassol.11aUm cenário futuro para o Cerrado indica que, considerando uma retirada anual de 2,215 milhões de hectares (assumindo uma taxa conservativa de 1,1% ao ano), considerando a existência de 34,22% de áreas nativas remanescentes (baseado na estimativa dada por Mantovani e Pereira [1998] para as classes ‘cerrado não antropizado’ e cerrado ‘antropizado’) e considerando que as unidades de conservação (que representam 2,2% do Cerrado) e as terras indígenas (que representam 2,3% do Cerrado) serão mantidas no futuro, seria de se esperar que o Cerrado desaparecesse no ano de 2030. Apesar dos vários fatores que influenciam nessa projeção, é possível perceber pelo menos duas coisas importantes: primeiro é que temos que encontrar formas de elevar a importância da conservação do Cerrado para o mesmo patamar de sua importância para a produção agrícola e pecuária e segundo, e talvez o mais importante, é que ainda temos tempo de reverter essa situação e iniciar um trabalho de recomposição de áreas consideradas importantes para a biodiversidade e para a conservação dos recursos hídricos.

Indicamos algumas ações emergenciais que poderiam ser levadas a cabo pelo Governo Federal em articulação com os governos estaduais e municipais:

• Adotar uma postura de desmatamento zero para o Cerrado, pelo menos até que seja feito um planejamento integrado para a ocupação do bioma;

• Criar programas de recuperação de áreas degradadas como forma de compensar as áreas com desmatamento evitado;

• Ampliar a porcentagem das áreas de proteção integral no cerrado, que hoje não chega a 3% do bioma, preferencialmente conciliando o aumento da proteção com a política de proteção de recursos hídricos;

• Colocar em prática o zoneamento ecológico-econômico como forma de planejar a ocupação do Cerrado atrelando seus cumprimentos/descumprimentos aos instrumentos tributários, como o Imposto Territorial Rural – ITR;

• Implementar um programa de monitoramento continuado por satélite de forma a acompanhar o uso do solo no Cerrado;

• Estimular a manutenção e o fortalecimento socioeconômico dos núcleos de produção mais tradicionais, incentivando a diversificação de produtos em regiões ambientalmente mais sensíveis, onde os produtores rurais seriam estimulados a implantar sistemas produtivos mais adaptados às condições locais e menos impactantes, agregando valor aos produtos típicos do Cerrado;

• Cobrar a recuperação ambiental daqueles proprietários rurais que estão com passivo no cumprimento do estabelecido pelo Código Florestal;

• Elaborar mecanismos capazes de agregar valor de mercado aos produtos de regiões onde os proprietários são ambientalmente corretos;

• Priorizar a aplicação dos recursos públicos (como o Primeiro Emprego, PRONAF, Fome Zero) nas áreas carentes mas que ainda possuem uma boa cobertura vegetal ou estejam localizadas nas áreas de influência das Unidades de Conservação;

• Investir na formação de profissionais especializados em conservação da biodiversidade e de recursos hídricos, ademais de naqueles dedicados ao uso racional de componentes do Cerrado;

• Efetivar um pacto político entre ministérios, estados e a sociedade de forma a implementar as ações acima.

Galeria:

Referências:

-Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro
Ricardo B. Machado1*
Mário B. Ramos Neto1
Paulo Gustavo P. Pereira1
Eduardo F. Caldas1
Demerval A. Gonçalves2 Nazareno S. Santos2 Karyn Tabor3
Marc Steininger3
1Conservação Internacional – Programa do Brasil
2Oreádes Núcleo de Geoprocessamento
3Conservation International – GIS & Regional Analysis – EUA

http://www.conservation.org.br/onde/cerrado/

Ecos do Cerrado – A Importância das Veredas

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Em uma correspondência com o tradutor italiano
Edoardo Bizzarri, João Guimarães Rosa explicava:
“Há veredas grandes e pequenas, compridas
e largas. Veredas com uma lagoa; com um brejo
ou pântano; com pântanos de onde se formam e
vão escoando e crescendo as nascentes dos rios;
com brejo grande, sujo, emaranhado de matagal
(marimbú); com córrego, ribeirão ou riacho.

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       Se há muito tempo que as populações do cerrado sabem muito bem o que são veredas, não se pode dizer o mesmo dos cientistas, pois ainda não existe uma definição universal do que é uma vereda:  botânicos, geógrafos, ecólogos, engenheiros florestais entre outros têm várias definições para o ambiente de veredas. Os elementos comuns a essas definições incluem os fatos de serem áreas  úmidas que acompanham os cursos d’água, com solos orgânicos, geralmente caracterizados pela presença marcante das palmeiras buriti.

A caixa d’água do cerrado

       O que todos concordam em dizer, é que as veredas  são associadas ao cerrado e armazenam a preciosa água durante os longos meses de estiagem. O  conhecimento popular descreve as veredas como  “a caixa d’´agua do cerrado”, substituindo lagos, lagoas e pântanos ausentes na maior parte dele.

       Como as águas superficiais são rapidamente evaporadas durante os meses de seca, a única água disponível vem geralmente do subsolo: o aquífero. Essa água armazena-se nas cavidades e na porosidade da rocha onde é protegida dos raios solares que, se estivesse na superfície, evaporaria. O aquífero pode ser comparado a uma esponja que, nas suas partes mais baixas, deixa a água chegar à superfície. São nestes lugares justamente que se encontram as veredas que representam, para o aquífero, pontos de reabastecimento em água; especialmente durante a época das chuvas.

O ciclo de vida das veredas.

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       Essa posição “estratégica” onde encontram-se o aquífero e o ar cria condições ideais para o desenvolvimento de uma vegetação exuberante; cria verdadeiros oásis na secura do cerrado. O estado permanentemente úmido do solo é particularmente favorável ao crescimento das palmeiras buriti, o símbolo da vereda. Porém, o buriti, como a vereda, precisa da variação sazonal do nível da água e não resistiria nem a um estado permanentemente inundado, nem a vários anos de seca. A vereda vive e cresce nesta “pulsação” das águas do aquífero. A própria presença das gramíneas beirando geralmente a parte central da vereda, pode ser explicada por esta variação sazonal, pois, as gramíneas são especialmente bem adaptadas para resistirem tanto as inundações anuais quanto aos longos meses sem água. Estas bandas de capim natural são justamente a expressão da transição entre o cerrado seco e a vereda úmida.

       A ocorrência das veredas condiciona-se ao afloramento do lençol freático, exercendo papel fundamental na manutenção do sistema hidrológico. Dessa forma, as veredas desempenham papel essencial na proteção de nascentes, sendo consideradas áreas de preservação permanente pelo Código Florestal Brasileiro. Além disso, as veredas são ecossistemas únicos no Cerrado, possuindo espécies, interações e processos ecológicos particulares (Tubelis 2009).

       As veredas, assim como os campos úmidos associados a elas são áreas úmidas, caracterizadas por solos encharcados e, portanto, são também grandes armazenadores de carbono (Meirelles et al 2006) e estão hoje entre os ecossistemas mais ameaçados. Apesar dessa importância, as Veredas têm sido progressivamente pressionadas em várias localidades do bioma Cerrado pelas atividades agrícolas e pastoris.

     Guimarães Rosa, (1986, p. 29-30), em sua obra Grande Sertão: Veredas, (36 edição, 1986), faz uma das melhores descrições perceptivas do ambiente de Veredas:

[…] Saem dos mesmos brejos – buritizais enormes. Por lá, sucuri geme. Cada sucuriú do grosso: voa corpo no veado e se enrosca nele, abofa – trinta palmos! Tudo em volta, é um barro colador, que segura até casco de mula, arranca ferradura por ferradura. Com medo de mãe-cobra, se vê muito bicho retardar ponderado, paz de hora de poder água beber, esses escondidos atrás de touceiras de buritirama. Mas o sassafrás dá mato, guardando o poço; o que cheira um bom perfume. Jacaré grita, uma, duas, três vezes, rouco roncado. Jacaré choca – olhalhão, crespido do lamal, feio mirado na gente. Eh, ele sabe se engordar. Nas lagoas aonde nem um de asas não pousa, por causa de fome de jacaré e de piranha serrafina. Ou outra – lagoa que nem abre o olho, de tanto junco. Daí longe em longe, os brejos vão virando rios. Buritizal vem com eles, buriti se segue, segue. Para trocar de bacia o senhor sobe por ladeiras de beira-de-mesa, entra de bruto na chapada, chapadão que não se desenvolve mais. […].

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       Essa definição de Guimarães Rosa (op cit) demonstra uma percepção de quem realmente vivenciava o ambiente das Veredas. Através de sua leitura, consegue-se visualizar as características e os componentes reais que compõem as mesmas. Mesmo quem não conhece o ambiente real, consegue imaginar as características que o compõem pela riqueza dos detalhes na descrição do autor, que viveu e vivenciou as paisagens do Cerrado.

         Boaventura (1978, p. 111-112), ao caracterizar Vereda, chama a atenção para a necessidade de sua proteção em função de sua fragilidade, como descreve: “Genericamente as veredas se configuram como vales rasos, com vertentes côncavas suaves cobertas por solos arenosos e fundo planos preenchidos por solos argilosos, frequentemente turfosos, ou seja, com elevada concentração de restos vegetais em decomposição. Em toda a extensão das veredas o lençol freático aflora ou está muito próximo da superfície. As veredas são, portanto, áreas de exudação do lençol freático e, por isto mesmo, em todas as suas variações tipológicas, são nascentes muito suscetíveis de se degradarem rapidamente sob intervenção humana predatória.”

        Segundo Lima (1991, p. 213), a Vereda funciona como um filtro, regulando o fluxo de água, sedimentos e nutrientes, entre outros terrenos mais altos da bacia hidrológica e o ecossistema aquático. Pode ainda servir de refúgio para a fauna, numa área de ocupação agrícola e pecuária muito intensa, porém, a preservação das Veredas se impõe, sobretudo, pelo fato de que o equilíbrio dos mananciais d’água depende diretamente disto. Essa regulagem determina sua contribuição para o curso d’água, cuja área saturada se expande ou contrai, dependendo das condições da umidade depositada, ou seja, das precipitações e da capacidade de retenção e escoamento do solo.

       No processo de ocupação do Cerrado, as Veredas eram vistas como áreas “perdidas” em função de seu aspecto brejoso. Diante disso, foram e continuam sendo constantemente queimadas para limpeza, plantações de culturas para subsistência e formação de pastagens a serem usadas no período da seca. Outros proprietários usam as Veredas como áreas para entulho de restos de desmatamentos. Mais recentemente, com o desenvolvimento de técnicas de irrigação, as Veredas têm sido utilizadas para construção de barragens com a finalidade de acúmulo de água a ser usada nos pivot e sistemas de irrigação. Assim, vemos que não se cumpre o determinado na Legislação Brasileira, emitidas pelos órgãos “competentes”.

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        Os órgãos institucionais auferidos da competência de gerir e fiscalizar o cumprimento da legislação ambiental tem feito “vistas grossa” no que se refere à preservação das Veredas.

        Por tudo isso, as veredas são de imensa importância na manutenção do equilíbrio ambiental no bioma cerrado e devem ser preservadas, mas mesmo assim, as veredas são ambientes que sofrem forte pressão antrópica. Resta-nos apenas exigir posições do poder público na defesa das veredas e conscientizar as pessoas quanto ao valor imensurável desse patrimônio natural – a rica paisagem das veredas.

Lucian Grillo

Galeria:

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Referências

Clique para acessar o original_MENDES_ldevone_bioma_cerrado.pdf

Medindo o pulso das veredas de Minas Gerais – Philippe Maillard