Ando devagar

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Há décadas ando devagar… Um arrasto cansativo, uma espera dolorida de quem precisa chegar. Chegar… Não sei onde desejo chegar, mas sei que não desejo ficar.

Preciso ir, mesmo que seja devagar; cada passo um arrasto… Mas já dei um passo, desplantei-me do chão num impulso do passo..

Fico a pensar onde preciso ir… mas que importância tem onde ir? O importante é ir.

Não tenho pressa para chegar mesmo porque não sei onde desejo chegar.

Minha alma deseja o voo, mas perdi minhas asas ou cortaram-na. Não tenho certeza se foi uma coisa ou outra, sei que estou amputada… e eu me arrasto com os pés no chão, aterrizada… ou aterrorizada?

Alda Alves Barbosa

Talvez

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Dormi demais! Acordar implica em viver, em morrer. Não desejo viver, nem morrer. Desejo apenas dormir… prolongar o tempo da minha ausência no cotidiano. Não estou na vida de ninguém, ninguém está na minha vida… Vivo no vazio do sono sem os pesadelos do real.

Hoje meu universo são as paredes do meu quarto. Nele eu vivo o que hoje eu desejo viver: o sono.

Talvez quando a madrugada chegar eu a abrace… escreva uns versos. Talvez… Porque hoje eu só desejo dormir.

O amanhã… O que me importa o que está por vir? Quando o amanhã se tornar hoje, talvez eu queira continuar dormindo, ou não.
Tudo é um talvez!…

Alda Alves Barbosa

Dúvidas

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Não sinto que vivi o ontem.  Acho que alguém o viveu por mim. Não me lembro de tê-lo vivido ou não desejo lembrar-me. Que isso importa? O ontem já foi vivido por mim, por alguém ou por ninguém. Passou.

Hoje já é tarde. Um torpor ronda meu cérebro. As portas, as janelas continuam trancadas. A seiva da vida parece escorrer para fora de min. A ausência de luz me presenteia com uma passagem para uma caverna (de Platão?). Assim é o meu sentir. Nada existe fora dali: nem mortes, nem vidas. Tudo é ausência; nada sinto, nada sei, nada desejo! Um dia vivi, um dia tive sonhos… Um dia. Agora espero a última viagem.

Um fio de luz adentra a caverna. Sigo-o. Abro a porta. Lá fora, o barulho da vida… As pessoas vão e vêm. Por algum tempo fico a observa-las. A realidade está ali, neste vaivém, nesta indas e vindas, ou apenas nas idas… sem retornos!

Alda Alves Barbosa