Florbela Espanca – Parte III

Descobrindo Portugal

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FLORBELA, A ESCRITORA E O CULTO

Pergunto-me o porquê da visibilidade de Florbela e da sua aceitação por um público muito mais vasto que o de muitos outros escritores seus contemporâneos, anteriores e posteriores, de qualidade se não superior, pelo menos semelhante, e de interesse e caráter mais universalista, com preocupações capazes de fazerem apelo a um mais vasto e amplo leque de sensibilidades.

Se a sua obra apresenta inegável interesse e beleza, não deixa de constituir surpresa para alguns críticos, o impacto junto do público leitor, comparado com o de outros autores de igual valia e que fora dos meios ditos intelectuais pouco ou nada são conhecidos.

Abrimos a referida História da Literatura Portuguesa, contamos os vários nomes de escritores aí citados na mesma época, atentamos na análise deles feita pelos insuspeitos autores e constatemos o numero dos que praticamente continuam envoltos numa bruma. Mesmo para leitores de mais largos voos muitos não passam de meros desconhecidos.

Após vasta inventariação de publicações, José Augusto França, na sua obra Os anos vinte em Portugal, indicando umas dezenas de escritores, a Florbela se refere dizendo-a “escondida de todos”, acrescentando todavia que “foi ela o caso de mais profunda criação entre as mulheres que publicaram nos anos 20 portugueses”.

Para outros não é um astro da grandeza de vários dos seus contemporâneos. Estará um tanto em atraso, quer quanto à forma, quer quanto às suas preocupações. Como explicar então que seja qualificada por muitos como um dos vultos do século – e o seja, pela projecção que acaba por atingir?

Hernâni Cidade referirá “a violenta contradição entre o conceito de poesia de duas épocas distantes ou próximas”.

Alguns críticos entrelinham a análise do seu comportamento e da sua obra com dizeres onde se pressente um esforço para evitarem uma sentença relativamente dura.

Natália Correia, em longo prefácio a uma edição de Diário do último ano fala do “coquetismo patético” e refere a sua “poesia maquilhada com langores de estrela de cinema mudo, carregada de pó de arroz”. E continua, exagerando um tanto, dizendo que a escritora “estende-se na chaise-longue dos seus quebrantos de diva de versos. Muito a preceito da corte dos literatos menores. Uma cadelinha de luxo acarinhada no chá-das-cinco das senhoras do Modas e Bordados e do Portugal Feminino para explicar que isso nasce da sua insensibilidade “a rupturas engendradas pelas crises do discurso lógico masculino”.

Porquê então tal expansão?

O seu culto começa nela própria.

Leia-se o poema, cantado por conhecido grupo musical e um dos mais belos:

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e Alem Dor!
………………………..
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
………………………..
É ter fome, é ter sede de Infinito!
……………………….
É condensar o mundo num só grito!
……………………….

E quantas e quantas vezes Florbela nos recorda que é poeta! E com que euforia:

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Poucos poetas o farão tão repetidamente…

De modo algum pomos de lado a beleza do que escreve, da maneira como se exprime, e do que ocupa a sua escrita.

Sem excluir a qualidade literária, não serão porém inteiramente estranhos ao multiplicar da sua leitura, aspectos que de certo modo lhe serão alheios. Entre outros, o auto retrato da sua vida que desenha um tanto distante do ordenamento e preconceitos sociais da sua época, as variadas contradições, ou aparência de contradições (como admite José Régio) a tragédia da sua morte, o seu empenhamento na publicação, esforçado e continuado, os locais onde vive, propensos à glorificação dos naturais ou próximos, o seu proto-feminismo diferenciado do que se lhe seguirá uns anos mais tarde, mas capaz de chamar a atenção.

Um nome, Guido Batelli, italiano, professor da Universidade de Coimbra, não poderá ser esquecido. Ao traduzir para a sua língua vários dos poemas de Florbela, cria um facto que não se pode dizer muito comum .

E admirando-a sinceramente, contribuirá para a edição (póstuma) de Charneca em Flor, Reliquiae e Juvenilia. É provavelmente com a sua intervenção que se fazem as primeiras reedições do Livro de Mágoas e do Livro de Soror Saudade.

Régio, sobre o silêncio da Presença, de que diz ter vergonha, explica que só mais tarde a conhece. Chama-lhe “poesia viva” que “nasce, vive e se alimenta do seu (…) porventura demasiado real caso humano”. Acompanhará sucessivas reedições de uma parte dos poemas com extenso e elucidativo prefácio, datado de 1950, onde faz análise valiosíssima, exaltando a obra e destacando alguns dos mais brilhantes momentos da poetisa…

Mas é, possivelmente, António Ferro que, em artigo do Diário de Noticias, logo em Janeiro de 1931, chama a atenção para a poesia de Florbela e provoca um acordar de críticos e leitores que até ao presente se não extingue.

Fonte: http://www.vidaslusofonas.pt/florbela_espanca.htm

Poetas Portugueses – Luís Vaz de Camões

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    Luís de Camões (1525-1580) foi poeta português. Autor do poema “Os Lusíadas”, uma das obras mais importantes da Literatura portuguesa, que celebra os feitos marítimos e guerreiros de Portugal. É o maior poeta do Classicismo português.

    Luís de Camões (1525-1580) nasceu em Coimbra ou Lisboa, não se sabe o local exato nem o ano de seu nascimento, supõe-se por volta de 1525. Filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá e Macedo, ingressa no Exército da Coroa de Portugal e em 1547 embarca como soldado para a África, participa da guerra contra os Ceuta, no Marrocos, onde em combate perde o olho direito.

     Em 1552, de volta à Lisboa frequenta tanto os serões da nobreza como as noitadas populares. Numa briga feriu um funcionário real e foi preso. Embarca para a Índia em 1553, onde participa de várias expedições militares. Em 1556 vai para a China, também em várias expedições. Em 1570 volta para Lisboa, já com os manuscritos do poema “Os Lusíadas”, que foi publicado em 1572, com a ajuda do rei D. Sebastião.

    O poema “Os Lusíadas”, funde elementos épicos e líricos e sintetiza as principais marcas do Renascimento português: o humanismo e as expedições ultramarinas. Inspirado em A Eneida de Virgílio, narra fatos heroicos da história de Portugal, em particular a descoberta do caminho marítimo para as Índias por Vasco da Gama. No poema, Camões mescla fatos da História Portuguesa a intrigas dos deuses gregos, que procuram ajudar ou atrapalhar o navegador.

    Um aspecto que diferencia Os Lusíadas das antigas epopeias clássicas é a presença de episódios líricos, sem nenhuma relação com o tema central que é a viagem de Vasco da Gama. Entre os episódios, destaca-se o assassinato de Inês de Castro, em 1355, pelos ministros do rei D. Afonso IV de Borgonha, pai de D. Pedro, seu amante.

      Luís de Camões é o poeta erudito do Renascimento, se inspira em canções ou trovas populares e escreve poesias que lembram as cantigas medievais. Revela em seus poemas uma sensibilidade para os dramas humanos, amorosos ou existenciais. A maior parte da obra lírica de Camões é composta de sonetos e redondilhas, de uma perfeição geométrica, sem abuso de artifícios, tudo parece estar no lugar correto.

     No século XVI, em todos os reinos católicos, os livros deveriam ter a aprovação da Inquisição para serem publicados. Isso ocorreu com “Os Lusíadas”, conforme texto de frei Bartolomeu, onde comenta as características da obra e ressalva que a presença de deuses pagãos não devem preocupar porque não passa de recurso poético do autor.

       Uma das amadas de Camões foi a jovem chinesa Dinamene, que morreu afogada em um naufrágio. Diz a lenda que Camões conseguiu salvar o manuscrito de Os Lusíadas, segurando com uma das mãos e nadando com a outra. Camões escreve vários sonetos lamentando a morte da amada. O mais famoso é “A Saudade do Ser Amado”. Camões deixou além de “Os Lusíadas”, um conjunto de poesias líricas e as comédias “El-Rei Seleuco”, “Filodemo” e “Anfitriões”.

       Luís Vaz de Camões morre em Lisboa, Portugal, no dia 10 de junho 1580, em absoluta pobreza.

Referência:

http://www.e-biografias.net/luis_camoes/

Pintores Portugueses do Século XX

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Marcelino Vespeira

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      Marcelino Vespeira é um dos grandes pintores portugueses contemporâneos, notabilizando-se pela versatilidade. Passou por várias correntes estéticas e em todas elas se destacou.

      Vespeira nasceu em 1925, no Samouco, Alcochete. Fez o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e frequentou a Escola de Belas Artes de Lisboa.

      Foi integrado na corrente neo-realista da pintura portuguesa que se tornou notado com a participação na I Exposição Geral de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas Artes (1946). O seu quadro a óleo Apertado pela Fome (1945) causou sensação. O título foi “extraído de um poema da Resistência de Paul Éluard” e é claramente inspirado no Eco do Pranto (1937), “realizado pelo mexicano Siqueiros no tempo em que participava na Guerra Civil de Espanha (…). No meio de ruínas, uma criança, magra, deformada, agarra desesperadamente numa pedra como se a fosse comer. O quadro de Siqueiros mostra uma criança a gritar. No quadro de Vespeira, a criança está incapaz de qualquer acção: não gesticula nem grita, antes parece concentrada e muda, fixa, sentada numa viga de ferro, com o rosto semi-ocultado pelo pão-pedra. As fotografias dos campos de concentração nazis, que a Embaixada Americana divulgou nas primeiras semanas do pós-guerra, foram a motivação imediata desta figura humana, que aparece entre destroços de guerra.”(Rui Mário Gonçalves, 1986).

      Outras obras significativas deste período neo-realista são Manifestação Proletária e A Ronda.

      Dentro desta corrente estética, Vespeira destacou-se ainda como teórico e doutrinador escrevendo na página Arte do jornal portuense A Tarde. Nesta mesma página publicou uma Carta Aberta aos Pintores Portugueses onde atacava o formalismo e defendia uma “arte útil” à sociedade, ou seja, uma arte de intervenção.

      Porém, em 1947, na II Exposição Geral de Artes Plásticas, o pintor apresenta já alguns desvios em relação ao ideário neo-realista, e no ano seguinte opera a ruptura total com esta corrente, aderindo ao surrealismo e recusando-se a participar na III Exposição Geral.

      Na fase surrealista colaborou na execução de Cadavre Exquis (1948) e participou na primeira exposição do Grupo Surrealista de Lisboa (1949), “destacando-se como o pintor mais interessante do conjunto. (…) Os quadros que apresentou afirmar-se-iam pela imaginativa desconstrução do corpo feminino e pelo tenso erotismo que deles irradiava.”

      Na década de 50 passou pelo abstraccionismo geométrico, tendo participado no 1º Salão de Arte Abstracta. Esta experiência terá sido negativa, pois muitas das obras desta fase foram destruídas pelo pintor.

      Sucede-se uma fase de “experiências várias que se detiveram na exploração de pequenas “formas-batôn”, com as quais o pintor criou um alfabeto gráfico pessoal que pôde finalmente animar em ritmos de excitação musical, inspirados por danças negras vistas em Zavala (Moçambique) e pelo Jazz (…) Esse grafismo assumiu a seguir uma responsabilidade espacial até à criação dum “espaço elástico”, numa espécie de pulsação orgânica, entre 1959 e 60. Durante os anos 60, o pintor deteve-se na exploração desta pesquisa e, ao fim deles, mergulhou de novo num universo onírico de formas e imagens em que se recordam propostas surrealistas de cerca de 1950.” Desta última fase destaca-se o quadro da Brasileira do Chiado (1971). (José Augusto França, 1973.

Referência: http://www.citi.pt/cultura/artes_plasticas/desenho/alvaro_cunhal/vespeira.html

Galeria:

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