O precioso valor da água

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Incêndio na Serra da Canastra - MG

Incêndio na Serra da Canastra – MG

Enquanto eminentes dignitários discutem nas Nações Unidas o futuro do clima no mundo, aqui em Minas surgiu um exemplo concreto do nível de degradação a que está submetido o meio ambiente. A notícia de que a nascente principal do rio São Francisco está secando pela falta de chuvas é um fato emblemático do aquecimento global. Mostra que aquilo que parecia estar longe de nós agora é bem palpável.

O administrador do Parque da Serra da Canastra, onde fica a nascente, disse que as queimadas estão agravando a situação de estiagem. Mas o regime de chuvas é alterado também pelo chamado efeito estufa, que desarranja as forças meteorológicas. Já está provado que a degradação das matas e florestas, como a amazônica, afeta a precipitação pluviométrica. E estamos vendo isso agora, na Grande BH, onde a água está rarefeita e os incêndios se multiplicam.

Segundo apurou a reportagem do Hoje em Dia, foram queimados 70 mil hectares de vegetação em reservas florestais no Estado somente neste ano. A vegetação favorece o surgimento dos vapores de água, possibilitando a formação das nuvens de chuva. Com pouca chuva, os incêndios se proliferam, criando-se um círculo vicioso.

Mais de 120 chefes de Estado e de governo se reuniram na ONU para debater o clima, mas muitos países se recusam a reconhecer o aquecimento global. Ou não aceitam reduzir a emissão de gases poluentes, por serem o motor de seu desenvolvimento econômico. É o caso de China e Índia, que enviaram funcionários de segundo escalão ao encontro. Os dois formam com os EUA o grupo de maiores emissores de poluição.

Essa reunião de cúpula climática é o embrião de um acordo que deverá ser firmado em Paris no ano que vem. Mas ele só entrará em vigor em 2020. Os ambientalistas alertam, entretanto, que o planeta não pode esperar.

Reportagem desta edição mostra que já há um racionamento velado em bairros da capital. A Copasa garante que isso não existe, mas em outras cidades da Grande BH a crise de abastecimento é real, como mostrou o Hoje em Dia na edição dessa terça-feira (23). Então é hora de todos se mobilizarem para adotar um consumo consciente de água, sem lavar passeios com jatos do precioso líquido, por exemplo. A atitude responsável pode fazer a diferença, enquanto aguardamos as chuvas de final de ano, que parecem cada vez mais preciosas.

Editorial
Jornal Hoje em Dia
portal@hojeemdia.com.br

Porque as árvores do cerrado são tortuosas

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O formato tortuoso das árvores do cerrado se deve a uma combinação de fatores (foto: Felipe Horst)

A vegetação do cerrado é influenciada pelas características do solo e do clima, bem como pela freqüência de incêndios. O excesso de alumínio provoca uma alta acidez no solo, o que diminui a disponibilidade de nutrientes e o torna tóxico para plantas não adaptadas. A hipótese do escleromorfismo oligotrófico defende que a elevada toxicidade do solo e a baixa fertilidade das plantas levariam ao nanismo e à tortuosidade da vegetação.

Além disso, a variação do clima nas diferentes estações (sazonalidade) tem efeito sobre a quantidade de nutrientes e o nível tóxico do solo. Com baixa umidade, a toxicidade se eleva e a disponibilidade Além disso, a variação do clima nas diferentes estações (sazonalidade) temde nutrientes diminui, influenciando o crescimento das plantas.

Já outra hipótese propõe que o formato tortuoso das árvores do cerrado se deve à ocorrência de incêndios. Após a passagem do fogo, as folhas e gemas (aglomerados de células que dão origem a novos galhos) sofrem necrose e morrem. As gemas que ficam nas extremidades dos galhos são substituídas por gemas internas, que nascem em outros locais, quebrando a linearidade do crescimento.

Quando a freqüência de incêndios é muito elevada, a parte aérea (galhos e folhas) do vegetal pode não se desenvolver e ele se torna uma planta anã. Pode-se dizer, então, que a combinação da sazonalidade, deficiência nutricional dos solos e ocorrência de incêndios determina as características da vegetação do cerrado.

André Stella e Isabel Figueiredo
Programa de Pequenos Projetos Ecossociais,
Instituto Sociedade, População e Natureza