Sou tantas…

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Não sei quantas pessoas moram em mim. Cada momento sou uma. Sinto-me estranha a cada vez que outra toma o lugar. Sempre me perco, nunca me acho. Quando penso que sou não existo mais… E confundo-me entre tantos eus. Torno-me elas, e não eu.

Não sei onde estou. Devo estar em alguma estrada procurando caminhos que me levam até a mim. Caminhos íngremes, áridos, paisagem inóspita… Tantas pedras, quantas escuridão!

Sou minha própria paisagem. Fico na margem das estradas assistindo minha passagem transbordando interrogações

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Sem lugar no mundo

10245386_744100988967860_7129305206885715938_n Dani xxAndo assim, assim: sem lugar no mundo. Sem casa, sem teto, sem lar. Sem um lugar onde descalçar os sapatos e despir as roupas e a alma. Ando assim, sem cama minha pra dormir ou espaço meu pra me jogar. Minha mala, minhas coisas já não são minhas, são de ninguém. Hora aqui, hora lá e o coração ainda mais distante. Ando comigo. Meu eu me acompanha sem entender muita coisa. Converso com uma pessoa morta, me reconheço em textos dolorosamente ácidos, vejo o outono colorir tardes bucólicas sem o encantamento de outros anos. Calejada, sem abraços, sem palavras. Sinto frio até em dias quentes. Vagueando por uma estrada escolhida sem muito senso de direção e mil dedos ao redor apontando caminhos que acham que eu deveria escolher; ou mil dedos apontando pro meu ser ou para aquilo que eu deveria ser. Não me importo mais. Piso com força contrariando a todos com o prazer de fazer sozinha minhas escolhas. A partir de hoje mais silenciosa. De todos os ouvidos que acolhem aflitos sentimentos meus, os seus eram os que realmente me entendiam por inteiro. Sem você aqui, hoje percebo que já não faz sentido derramar em outras pessoas. É uma pena… Todo mundo merece um cúmplice! Ando assim, assim: sozinha, sem paz e em silêncio!

 

Alda Alves Barbosa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dualidade

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Trilhei caminhos e descaminhos a procura de ti. Percorri estradas escrevendo versos dos reversos… Deserto plantado por ti na minha vida. Despi meu coração, e nu, não sinto tédio, não sinto dor, não sinto nada. O que fui não sou mais.

Afastei-me de ti, da sua sombra… O frio da tua ausência foi sepultado. Mas em obscuros momentos costumam ressuscitar. Meu mundo fica estreito e derrama fragilidade – Caverna sem fim!

O que sou sem ti? Como saber se meu coração está realmente vazio? Como obter respostas se não sei se o que sinto é real ou irreal?

Sinto tanto sono! Sinto uma imensa vontade de continuar a caminhada… Meu coração está vazio, sem tédio, sem dor…

Ah, esta dualidade turbulenta!

Caminhos do cerrado

Caminhos do cerrado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nos caminhos do
cerrado andei…
Jabuticabeiras me
cobriam com suas
vestes verdes.
Provei seus frutos…
Em minha boca
escorria o néctar do
deus negro.
Nos caminhos do
cerrado andei…
Conheci o sorriso
das flores tímidas,
pobres e belas
Vaguei
entre suas esculturas
ouvi o canto dos
pássaros, sinfonia
para espantar solidões
Vaguei
entre formigueiros
calangos
carrapatos
esperança
cigarras…
Hoje vagueio
entre monturos
de lembranças.

Alda Alves Barbosa