Senhor,
tira do meu coração
esta ausência…
de tudo!
Do livro “Travessias do Tempo” – Alda A. Barbosa
Ando precisando sonhar. Retirar meus pés nus fincados no chão e, num impulso, irromper as barreiras dos sonhos. .Ando precisando sonhar; sonhar com os amanhãs ardentes, chama fugaz de uma vida que está preste a dormir… eternamente.
Sim, quero sonhar sonhos doces com o amanhã que talvez nem exista. Quero sonhar… não sonhos pequenos, poucos, mas um sonhar grande, um feixe deles. Quero-os enlaçados por fios cintilantes e laços sem nós, para que eu possa desatá-los e devanear sob um céu cheio de estrelas. E sonharei com poemas de amor; desnudarei minha dor que tua ausência deixou em mim.
Ausências são sombras… sombras tuas que impedem meu sonhar.
Hoje estou assim… assim… Amanhã reinvento-me!
Alda Alves Barbosa
Já não sinto a agonia muda e funda de existir só. Não que o estar apenas comigo me trouxesse algum dia uma ínfima dor ou sequer um pequeno sentimento de abandono. Não, isso não. Com ou sem amor sinto-me só. Mas não posso negar que a agonia pela ausência de alguém em minha vida existiu. Penso que talvez seja pelo fato de que – na época – sentia-me na obrigação religiosa de crescer e multiplicar. Instalou-se em mim uma guerra entre o ter ou não ter alguém; obedecer ou desobedecer… Optei pelo não. Acho, não tenho certeza, que não acredito no amor. E essa incerteza vem somar ao horror que eu sinto de abrir meu ser a alguém. Tenho horror que alguém perscrute qualquer cantinho do meu existir.
É bom abandonar-me em braços nus, fortes… É ótima essa nudez física – corpos nus entrelaçados… Mas a nudez espiritual é profana; é violar a minha essência, a minha alma. Esse despir do meu ser para o outro me angustia, gela-me o coração.
É doce amar? Não sei… E por isso estou só sem sentir-me só e sem ser solidão. Apenas um medo estranho do outro me arrancando de mim.
Alda Alves Barbosa
Não sinto que vivi o ontem. Acho que alguém o viveu por mim. Não me lembro de tê-lo vivido ou não desejo lembrar-me. Que isso importa? O ontem já foi vivido por mim, por alguém ou por ninguém. Passou.
Hoje já é tarde. Um torpor ronda meu cérebro. As portas, as janelas continuam trancadas. A seiva da vida parece escorrer para fora de min. A ausência de luz me presenteia com uma passagem para uma caverna (de Platão?). Assim é o meu sentir. Nada existe fora dali: nem mortes, nem vidas. Tudo é ausência; nada sinto, nada sei, nada desejo! Um dia vivi, um dia tive sonhos… Um dia. Agora espero a última viagem.
Um fio de luz adentra a caverna. Sigo-o. Abro a porta. Lá fora, o barulho da vida… As pessoas vão e vêm. Por algum tempo fico a observa-las. A realidade está ali, neste vaivém, nesta indas e vindas, ou apenas nas idas… sem retornos!
Alda Alves Barbosa