Chuva Interior

cronicas-da-dani

531249_285649804859748_472579519_n
Era meados de outubro e só conseguia pensar no silêncio e em silêncio.
Guardou o sentimento inominável na caixinha pequena dentro da gaveta, virou as costas e prosseguiu.
Tudo que queria era um final de tarde inteiro repleto de chuva. Isso certamente amenizaria suas oscilações mentais. A água despencada do céu amando a natureza…Precisava urgentemente desaguar com ela, amar a terra e escorrer abraçando tudo que é efêmero.
Foi questão de segundos e a emoção seria proporcionada por aquele pedacinho de instante onde as gotas caídas lá fora bailavam em sincronia com o que corroía por dentro.
Por mais breve que fosse era seu o instante, só seu. Os reencantamentos não acontecem todos os dias, mas deveriam. Enquanto o que deveria não é realidade, é tempo de apegar-se aos instantes mágicos e fugir dos grilhões.
Voltou até a caixinha e a abriu. Poderia não jogar o conteúdo mas o assumia enfim. Mesmo que para si. Assumir sempre vale a pena. Assumir as contas, os riscos, assumir você mesmo e não viver de simbologias ou quase palavras.
Sem convites se jogaria facilmente nos seus delírios… Sem promessas, sem palavras doces, sem amanhãs e, por estranho que pareça, com a certeza de ‘te ter como é, mas nem por isso ser sua’.

Danielle Rezende