O sono que cai sobre mim

0a243622ffd2b4a07d476a0b7985a758 Pelas frestas das janelas dei conta que já era quase noite. Dentro de casa a luz apagada dava um ar lúgubre, sombrio. A cama em desalinho; livros e remédios disputavam espaço dentro da bagunça. Um gato em seu eterno sono há dias parara de ronronar. Nunca me lembro de colocar as pilhas. TV ligada há dias ininterruptamente – vozes que não escuto e imagens que não vejo. No corredor o silêncio do abandono. Na floreira flores murcham e despetalam. Em um canto as margaridas brancas e por isso virgens, mudam de cor… Perderam a virgindade!

Em cima da mesa uma jarra aguardava a pureza das margaridas para enfeitar a vida dos amanhãs. Em meio ao caos fecho os olhos.

Não espero nada, não espero ninguém. A eternidade é o sono que cai sobre mim!

Sonho? Realidade?… Amanhã saberei!

Existir só

10411889_773435122701113_6616902449299537317_n Já não sinto a agonia muda e funda de existir só. Não que o estar apenas comigo me trouxesse algum dia uma ínfima dor ou sequer um pequeno sentimento de abandono. Não, isso não. Com ou sem amor sinto-me só. Mas não posso negar que a agonia pela ausência de alguém em minha vida existiu. Penso que talvez seja pelo fato de que – na época – sentia-me na obrigação religiosa de crescer e multiplicar. Instalou-se em mim uma guerra entre o ter ou não ter alguém; obedecer ou desobedecer… Optei pelo não. Acho, não tenho certeza, que não acredito no amor. E essa incerteza vem somar ao horror que eu sinto de abrir meu ser a alguém. Tenho horror que alguém perscrute qualquer cantinho do meu existir.

É bom abandonar-me em braços nus, fortes… É ótima essa nudez física – corpos nus entrelaçados… Mas a nudez espiritual é profana; é violar a minha essência, a minha alma. Esse despir do meu ser para o outro me angustia, gela-me o coração.

É doce amar? Não sei… E por isso estou só sem sentir-me só e sem ser solidão. Apenas um medo estranho do outro me arrancando de mim.

Alda Alves Barbosa