Adão e Eva no Paraíso Iluminado

adao_eva

E Deus disse:” faça-se luz” e a terra inundou-se de luz. Faltava o homem e a mulher para encher o nosso planeta de seres humanizados.E Deus criou Adão. Retirou dele uma costela e criou a mulher. Adão e Eva… seres humanos que pisaram na terra podendo andar pelo paraíso terrestre com tranquilidade; desviavam-se de todos os atropelos, fossem eles físicos ou mentais. Tudo era tão claro… Tudo luzia!

O casal era pensador: sabia assinar seus nomes, sabia que 2 – 2 era igual a 4… eram pessoas excepcionais! Filosofavam, liam livros em qualquer idioma… Com os livros foram se aperfeiçoando e tornaram-se gênios.

O tempo passou… Adão e Eva deixaram de lado os livros, abandonaram as conversas filosóficas e produtivas; com o passar das estações a inércia foi intensificando e eles foram emburrecendo. Desobedeceram Deus comendo a maçã e tudo que havia no paraíso.

A monotonia e a burrice os fizeram pecar. Tentando redimir, foram multiplicar a população e o planeta terra foi povoado! Sete bilhões de pessoas divididas em classes. Uns pobres, outros pobres demais; uns remediados, outros na miséria;uns ricos, outros ricos demais; uns poderosos, outros com excessos de poder…

E os ricos e poderosos transformaram-se em deuses e ordenaram:” faça-se a escuridão” – e o mundo de cada um enegreceu… e a vida de todos escureceu! Enganei-me… Apenas os pobres, os miseráveis e os mais ou menos é que receberam o castigo por pertencerem a castas inferiores.

E nenhum raio de sol… nenhuma luz elétrica… Total escuridão! Culpa da burrice dos deuses!

Alda Alves Barbosa

Cadeiras fantasmas – Desabafos

Digitalizar0001

 

OLYMPUS DIGITAL CAMERA

A verdade é que nesse chão se passam coisas que até Deus duvida. Quem? Quem haveria de supor uma sandice dessas? Mas por aqui, não é de se surpreender que sandices sejam verdades verdadeiras. Não sou de fazer rodeios para contar as coisas, mas sou mineira e não fujo a regra. Pois bem, não percamos tempo, vamos ao assunto. Ou é um causo? Sinceramente? Não sei. Diante do que vou expor, a minha incerteza é justa.

Vejam vocês, como pode algo que não existe emitir certificados, títulos, realizar reuniões com assuntos importantes e possuir inclusive pessoas imortalizadas? As “reuniões importantes” ou “desimportantes” que eu nunca participei… Dizem as más línguas que elas eram feitas na calada da noite com apenas umas duas, três ou quatro pessoas. Um jeito pequeno de se reunir, penso eu.

Primeiro pensemos sobre as atribuições básicas de uma Academia de Letras. Um grupo que se proponha a um fim de criar uma “Academia Cultural” em sua cidade, deve se responsabilizar por um assunto extremamente importante: a cultura advinda da literatura produzida no local. Oras, não banalizemos essa função. Não basta participar dos lançamentos de livros e derramar no ambiente, verborragias desnecessárias. Literatura é coisa séria; arte é coisa séria; A arte de fazer arte é coisa séria; portanto, respeito é o mínimo que o escritor e o artista esperam de seus semelhantes. Mas parece que alguns não os veem com olhares de seriedade, de pessoas compromissadas com a cultura e a educação de sua cidade. Parece? Não, desculpem-me, tenho certeza. Imaginem vocês que a Academia Unaiense de Letras e Artes, e tudo que se relaciona a ela, não passam de devaneios! Uma forma grotesca de perpetuar no pensamento uma pseudo-intelectualidade. Pensar não é ser. Pensamento sem ação fica sendo apenas moradia do imaginário.

Vamos imaginar: imaginemos que havia reuniões e que todos os membros participavam; imaginemos que há ata de tais reuniões; imaginemos que todos nós, sem exceção, pertencentes da “AULA” fomos convocados para escolher o próximo acadêmico a ocupar, se não me engano, a quadragésima cadeira da Academia Unaiense de Letras e Artes. Imaginemos… imaginemos… imaginemos… Tudo não passa de um grande imaginar!

Uma Academia precisa de movimento, de fomentar a cultura local. Certificados e diplomas às pessoas que publicaram livros é um reconhecimento muito raso – não digo insignificante, porém simbólico, dado à luta que os escritores travam para criar, para pagar a editoração do acúmulo de ideias que pontuam em livros. Transformar ideias em palavras e entregar para que o outro leia requer coragem para se expor. Dessa entrega resultam críticas nem sempre positivas. Uns gostam, outros não. Despimos para o outro e ele nos aceita ou nos rejeita. É um risco que temos que correr. Mas eu particularmente não desejo ser escada para ninguém. Meus livros falam por mim. Gostaria de pertencer a uma Academia, claro, mas primeiro ela precisa existir e eu merecer. Até acredito que ela ainda esteja sendo gestada, mas após 06 anos já era para estar entre nós. Parto difícil!… Mas me presentearam com um cartãozinho de participação de nascimento! Esquisito… muito!

Alimentar egos e ainda ter que transformá-los em superegos não condiz com meu jeito de estar na vida. O mundo está cheio de pessoas que necessitam de afagos legítimos e eu estou entre aqueles que estão dispostas a lutar para que nada falte aos que necessitam desse pão!

Escritores precisam de apoio concreto, não idealizações sem andadas que não chegam a lugar nenhum. Escritores costumam ter sensibilidade aflorada e sonham com um mundo melhor onde ele possa contribuir com seu desnudamento para vestir aquele que o lê e gosta do que está lendo. Isto já o realiza. E o realiza mais ainda ver perpetuar a cultura em suas diversas formas; inflar sua cidade de poesia – e quando me refiro à poesia, não restrinjo apenas as que preenchem folhas de papel em branco. Poesia é maior que palavras. Poesia é o olhar. As palavras descrevem o sentimento do olhar. Portanto, o que diferencia a poesia do comum são as cores com que colorimos o mundo!

Fazer poesias, respirar toda a cultura que nós, enquanto sujeitos sociais e históricos produzimos cotidianamente, vai além, muito além do simples ensejo de uma publicação.

Valorizemos as letras sim! Mas para que essa valorização se dê efetivamente, precisamos em primeiro lugar cobrar uma organização real de uma “Academia Cultural,” com pessoas que sejam capazes de almejar e propiciar de fato bonitos momentos a este chão que tanto carece de espaços e debates nesse cunho.

Vocês devem estar a questionar o porquê desse causo. Amparada no documento que veem acima confirmei que a “Nossa Academia” não é registrada, portanto não existe. Eu bem que avisei que aqui essas coisas acontecem! Sei da vida corrida de todos os trabalhadores, que ao fim do dia nada mais querem do que retornar às suas casas, ao seu lar, ter um pouco de paz e aconchego. No entanto, lembro a todos do quão gratificante é travar lutas por melhorias para sua cidade, e incito todos, especialmente aos escritores a uma reflexão: deixaremos que fantasmas corrompam o que para nós deveria ser o reflexo da cultura do lugar que nascemos ou escolhemos para morar? Deixaremos que o medo ou o comodismo, sentimentos paralisantes, nos deixem na condição de vassalos? Não é mais saudável sairmos da condição de “imaginários” e abraçarmos esta luta para que parem com essa quase eterna “dança das cadeiras?” Que tal sairmos do imaginário e percorrermos estradas concretas?

Continuo afirmando que ninguém, em momento nenhum, tem que ser espectador da vida. O ser humano precisa apenas reconhecer o seu cansaço e saber-se no momento, incapaz de concretizar sonhos de uma categoria. Sempre haverá algo digno que se pode fazer!

Enquanto continuam imaginando que a Academia Unaiense de Letras e Artes existe, eu consciente da sua inexistência, informo que pertenço à “Cadeira Imaginária” número 12 (doze)! Ainda bem… Fico aqui pensando… e se fosse a 13 (treze)?

 

Alda Alves Barbosa

ATÉ TU, OAB?

arvore_oab

Não concebo a ideia de escolher estradas sem olhar para as minhas caminhadas dos ontens. Elas me dão suporte para avaliar minhas escolhas. E por pensar assim, percorro meu passado criança, abraço as esculturas do meu cerrado e aspiro seu cheiro verdejante. Tempos bons aqueles! Jabuticabeiras, pequizeiros, cagaiteiras, enfim, todas as eiras. Hoje, sem eira nem beira, oscilo entre o viver e o morrer… Quero viver, mas não sei se a soja contém todos os nutrientes que o meu corpo necessita.

Sei não. Minh’alma anda aos suspiros, perigando o choro, pelos sumiços do cerrado desse meu sertão… Hoje a árvore existe, amanhã a danada inexiste. Parece mesmo coisa de assombração: cá na minha cabeça, fico matutando – ” Será que espantaram o cerrado? “

Pra piorar a situação, meu coração fica remoendo. Se pelo menos nossa Unaí tivesse umas sete arvorezinhas em cada rua!… tem não. Se tiver, quer apostar que qualquer dia desses elas tomam chá de sumiço? Parece mesmo coisa do tinhoso! Trem esquisito, árvore sumir num piscar de olhos!

Quer ver árvore desaparecer, é quando resolvem construir um é-difício ( não é-fácio ). A árvore vai pro pau e ainda deixam seu tronco pintado de branco como um troféu a ser comemorado.

Mas o que me causou mesmo estranheza foi o jeito que encontraram pra matar a pobre da árvore que estava ( e ainda está ) atrapalhando a ” beleza ” da Sede da OAB em Unaí. Pena de morte não concedida, eis que ela me aparece desgalhada, numa nudez vergonhosa. Se fosse só pelos arrepios do terrível frio unaiense, vá lá, pior mesmo foi a feiura que deixaram ela. Se dependesse de mim, todos seriam processados por danos morais, afinal,quem desnuda uma árvore a paga é o castigo.

UTI. Último recurso. E consciente de que faltam médicos, arquitetos, jardineiros, paisagistas… fico eu de olho nela, tenho receios de que no prontuário, a letra do médico esteja pouco legível e a enfermeira ” por engano “, aplique café com leite nas veias da então sofrida paciente e ela venha a fenecer.

Por esta situação ser corriqueira, eu não deveria me assustar nem me indignar, afinal, a repetição torna o incomum em comum. Fico me perguntando, como será daqui um tempo o nosso chão, caso a linha de raciocínio do seu povo não mude. Nossa população – com raríssimas exceções – tem uma visão catastrófica com relação a um clima ameno, flores, sombra e beleza. Árvores sujam o chão. Bonito mesmo são as calçadas caras e escorregadias. Bom mesmo é chegar o verão e o “calor dos infernos” acordar.

arvoreschoram

Alda Alves Barbosa

Unaí inova e já tem “bicicletovia”‏

   

    Não estou fazendo uma brincadeira nem estou sendo maledicente. A ciclovia já está construída há anos e os “bicicleteiros” já ocuparam seu território. Ocuparam território? Estamos em uma guerra? Nãoooo… Está havendo apenas uma inversão. Os tênis foram substituídos por duas rodas. Isso mesmo. O calçadão no Córrego Canabrava, construído com o objetivo de que a população unaiense tivesse um lugar para fazer suas caminhadas, ou mesmo correr, de quê eu não sei. Mas a verdade é que esse espaço não há mais lugar para quem deseja cuidar da saúde saindo do ócio físico, tornear as pernas, nem mais sonhar com a barriguinha tanquinho. O calçadão agora pertence aos chamados “invasores pneumáticos de duas rodas.”

      A invasão não aconteceu de repente. Ela não foi estabelecida. Veio de mansinho, sem o compromisso com nenhuma lei. Ela veio com a postura brasileira de que lei foi feita para ser desobedecida, espezinhada. Ela veio com o pensamento filosófico de uma linha sustentada pela permissividade de valores oriundos da ausência de educação, de ética e moral. E diante dessa triste ausência de quase tudo, o corguinho foi premiado e os estragos já estão ocorrendo; o medo já instaurou naqueles que fizeram do calçadão o seu “pão nosso de cada dia.” Verdade seja dita: beleza ali não há. Faltam árvores, flores, enfim belezas para o olhar. Mas cimento existe sim, A pouca água que existe no Canabrava quando desliza não corre riscos de encontrar pedras no caminho, mas pode deparar com sofás velhos, pedaços de paus, tênis, botinas, animais mortos, o que caracteriza uma moldura alegórica…

      Exagerando? Eu? Claro que não. Acreditem ou vençam seus medos e vão até lá constatar. Óbvio que há necessidade que fiquem bem atentos. Os “bicicleteiros” podem inadvertidamente lhes atropelar. E o mais grave, não reclamem, não chorem, mesmo que a dor seja intensa. Eles estão sustentados pela impunidade vigente em nosso país e claro, em nossa cidade. Por esse motivo, se quiserem conservar a integridade física e psicológica finjam que não ouviram as palavras ameaçadoras: “Não reclame, de repente você pode não voltar mais aqui.” Interpretem como quiserem. Eu ia achar que estava sendo” convidada” a fazer minha morada no céu.

      Ah, não leve seu celular. O risco é grande de ficar sem ele. Os “bicicleteiros”, ou mesmo alguns caminhantes disfarçados podem lhe pedir emprestado. Por favor, não negue o empréstimo, melhor mesmo é ser cristão e fazer a doação. Evite também o caminho das pedras. Esse lugar está onde existe um poste. Nesse nosso chão existem muitas pessoas que amam a escuridão. E por amarem demais o breu apagam as lâmpadas atirando pedras. Acredito que essas pessoas não sabem que não precisam fazer tal esforço… Pode ser que elas estejam apenas fazendo musculação para ficarem “bombadões.” Uma cultura à beleza unaiense ou atheniense? Mas é moda, e todos eles querem ser iguais… Nelson Rodrigues se estivesse vivo, iria aplaudir tamanha igualdade!

       Para encerrar, mesmo que sua curiosidade extrapole a normalidade, evite ir ao calçadão em horários noturnos. Ali você não será bem-vindo. Sentados no chão – porque já depredaram inúmeros bancos – nas proximidades do Corpo de Bombeiros, jovens descansam entre uma baforada de maconha, ou “quebrando” uma pedrinha de crak. Ali eles vão lhe convidar com intimidade de sobrinhos (as): “vaza tio… vaza tio… aqui não tem nada pra você… rápido… rápido…

       Diante de tudo isso você deve estar se perguntando se não há placas que avise os desavisados? Há sim. Bem, havia. Hoje não sei se ainda estão lá. Talvez essas pessoas “bicicleteiros” ou não, sejam os chamados “analfabetos funcionais” – nome bonito para designar uma realidade triste. Pode ser que sejam literalmente analfabetos ou os chamados “baderneiros de plantão.”

     A verdade é que a nossa população está perdendo espaço para aqueles que depredam e matam as nossas esperanças de uma cidade melhor!

Galeria (clique nas fotos para ampliá-las):

“NOSSA… É O COMEÇO DO FIM!

 

Este título foi retirado de um comentário no facebook e me chamou muito à atenção: “Nossa… É o começo do fim!” Fim anunciado há tempos. O começo do fim da segunda mais antiga e segunda maior festa unaiense. Ela não está acabando de repente, ela não teve um infarto fulminante, ele estava sendo anunciado há décadas… Ela foi adoecendo devagarzinho: um curativo aqui… um purgativo ali…um tubo de oxigênio para o respiro acontecer, um sobe e desce na pressão culminando num derrame…O coração batendo no descompasso da existência de cinqüenta e três anos de idade, muitas décadas de glórias e outras tantas driblando a doença que já estava instalada há anos. Com tantos perrengues enfartou e hoje corre “risco de morte.” Risco previsto, que horroriza, que indigna, que humilha, que me tira a esperança. Sim, estou desesperançada, machucada, humilhada. Eu a vi parir e se o “andar da carruagem” for este, possivelmente acompanharei o féretro e o acolhimento da terra sertaneja da Exposição Agropecuária de Unaí. Velório sem as flores do cerrado decepado, mas o chão molhado pelo choro convulsivo extraído dos olhos daqueles que se preocupam com nossa terra tão sertaneja e que participaram ativamente do nascimento desta inesquecível festa popular. Tempo das vacas gordas! Tempo de amores que não acabavam!… Mas estou apenas fazendo conjecturas sobre esta morte, “o princípio do fim” como disse a adolescente no face… Pode ser que sim, pode ser que não… Quem sabe uma boa dose de “Penicilina – que cura até defunto” consegue ressuscitá-la em 2013? Pode ser… Ela está capenga, faz “termo” para fenecer… Penicilina nela e um ano na UTI… Quem sabe ela continuará o respiro e no arrasto sacudirá a poeira e dará a volta por cima? Quem deixou esta peteca cair? Nós. Nós que nos esquecemos de olhar a nossa cidade com o respeito que ela merece. Nós sim. E agora? A festa acabou… o pote secou… E meu olhar vê como inacreditável a ameaça do ponto final. Cá prá nós: não poderia colocar apenas umas reticências? Afinal, pão e circo são tudo que temos!

Alda Alves Barbosa

SÚPLICAS A SANTO ANTONIO DO BOQUEIRÃO

Valha-me meu Santo Antonio do Boqueirão, o outono está chegando ao fim e o meu inverno se aproxima. O tempo está acelerado, correndo demais e não tem como detê-lo. E porque já vivi mais do que tenho para viver, coloco minhas últimas esperanças em suas mãos para que me socorra nesta hora de angústia. O frio do meu corpo outonal está próximo… O que será de mim ó meu santo casamenteiro sem o calor dos hormônios masculinos para me aquecer? O que será da minha vida quando o vento açoitar meu ser, e eu moribunda por falta de amor, ter como companhia tão somente o escuro da noite? Muita tristeza anda fazendo morada no meu coração! Custa me ajudar, custa? Ó meu santo, já pedi ajuda a quase todos Antonios santos: Santo Antonio de Pádua, Santo Antonio do Amparo, Santo Antonio do Monte, Santo Antonio do Rio Abaixo, Santo Antonio das Roças Grandes… Nenhum deles me ajudou. Coloquei suas imagens dentro do feijão, de cabeça para baixo e nada mudou. Então pensei: pra que buscar santo casamenteiro estrangeiro se tenho você aqui, santo da minha cidade, santo dos tropeiros, festeiro, milagreiro que só! “O quê? Por que está a falar sussurrando? Sei. Naquela época eu não era dada a casamento, mas hoje, no entardecer da minha existência, mudei de idéia. Olha pra mim, veja a solidão em que me encontro, sou só, sou só abandono!” Deixa pra lá, o que passou já passou, é página virada. Quero mesmo é um moço bonito, sarado, nerd nem pensar! Difícil? Demais da conta! Mas confio no senhor, só não pode tecer demoras, o tempo está se esvaindo. Mal o novo dia nasce e eu já começo a repensar na minha solteirice. Sabe Santo Antonio do Boqueirão, não tenho netinhos chorando, não tenho filhos choramingando o passo mal dado… Vida silenciosa por demais! Por este motivo estou aqui a clamar ao senhor um “cobertozinho de orelha” neste meu inverno existencial! Prometo… Prometo… Prometo nada não meu Santo Antonio do Boqueirão! Deixa-me aqui no meu cantinho com minhas humildes letras, com meus versos, com meus reversos… Solidão costuma render muitos, muitos amores!

AMÉM

Alda Alves Barbosa

“Para não dizer que não falei das flores”


Chuva pouca… Meu rio – Rio Preto. A poeira que o vento traz, levanta do cerrado sem árvores, dos troncos deixados como herança, cemitério deste sertão: aqui jaz o cerrado. Um dia nascentes de rios, habitat de animais. Aqui a solidão abre os braços: memória e silêncio. Distante o horizonte, raios rubros pintam os céus, nos mostrando que ainda resta beleza para nosso olhar… Ali o homem ainda não conseguiu interferir. Nós, seres pensantes… Se nossas mãos destroem, elas podem construir e reconstruir o belo, o necessário. Mas neste chão que abraço construir sempre foi uma decisão muita demorada, de eternas esperas! Num átimo de tempo destruíram nossas esculturas retorcidas do cerrado… Quase três décadas e nenhuma flor plantada, nosso sertão continua abandonado… Um dia suas árvores foram transformadas em carvão – o cerrado virou carvoeira – hoje não é necessário um olhar demorado para ver em que nosso cerrado se transformou. Povo faminto… Excessos de fomes… Sem sombras pelas estradas. Excesso de calor mata… O homem de hoje sobreviverá, ou outro ser mais forte nascerá para suportar viver neste caos semeado por nós, homo sapiens? Nenhuma florzinha… Uma mísera florzinha sequer… Não, uma flor não pode ter este tratamento. Árvores? Quase inexistem. Ruas no centro de nossa cidade, duas árvores sofrem de solidão. Sobrevivem bravamente em meio às calçadas bonitas e escorregadias, substituem as ternas sombras das árvores. Nenhuma flor enraizada neste chão… Palmeiras raquíticas (pela ausência de cuidados) substituem as árvores, numa cidade onde o calor está transformando-a numa insuportável frigideira – o chão cru dos canteiros esburacados substituem as flores que embelezariam nosso olhar e apaziguaria nossos corações. Nenhuma flor, nenhuma florzinha sequer… O colorido não desabrocha; como desabrochar se nada foi semeado? Nenhuma flor… Nenhum perfume exala neste ar quase estático… Nenhuma flor, nenhum perfume… Pouco vento… Nenhuma pétala colorida… Quem sabe um dia este pedaço de sertão será verde e reluzente… Quem sabe um dia este sertão será colorido e perfumado… Quem sabe um dia “veremos os jardins perfeitos e as plantas esmaltadas”!

Um dia… Quem sabe?

Alda Alves Barbosa

CARNAVAL EM UNAÍ RESSURGE DAS CINZAS

Carnavais vêm e vão. Em nossa terra ele foi e demorou décadas para retornar. Onde ele estava? Não perguntei, tive receios de ser mal interpretada, afinal ele podia me fazer uma pergunta  – para ele óbvia ,para mim não – “ Por que lhe interessa saber onde eu estava durante tantos anos?” Com o passar dos anos ficou mais atrevido pela idade, e eu respeito, mas ele,o carnaval, se esqueceu que é do meu interesse sim, afinal sou unaiense e moro aqui, tenho direito de saber  e ele o dever de me informar. E por causa disso ficamos capengas de mais uma festa cultural (hoje não tão cultural assim), pois traz com ela um apelo sensual muito grande. Não quero aqui focar este apelo como algo que transcende a festa , o carnaval não foi pensado no Brasil, mas é inegável que hoje temos o maior espetáculo da terra.
Nós que vivemos neste chão, no calor paradisíaco ou infernal, depende de como cada corpo reage, não poderíamos furtar a esta chamada festiva. Há quanto tempo não dizemos “presente” na escola do carnaval! Quantos pontos de interrogações foram desenhados em palavras e recebendo como resposta: “Unaí não tem uma cultura de carnaval.” Ledo engano! Sempre tivemos!  E mesmo que não tivéssemos tudo que existe teve o primeiro plantio e, para haver florada, é necessária a repetição constante dos cuidados. Por isto vamos cuidar para que em 2013 nosso carnaval seja tão cheio de belezas como a colheita de 2012.
Quem disse que o povo Unaiense não gosta do carnaval?Enganou-se novamente. Estamos no Brasil e, portanto, somos brasileiros e brasileiro ama sambar. Há um porém ,se nosso povo não gostasse do colorido da festa não procuraria as cidades próximas para viver a “ilusão do carnaval!” É o sonho tornando –se real por um tempo determinado.
Na Av. Governador Valadares, enquanto o desfile de beleza passava, vi muitos olhares perdidos. Pareciam estar em estado onírico. Estavam ali, mas  estavam vivenciando um sonho ou construindo seus sonhos não sem receio do despertar. Quem nunca construiu sonhos em pleno cenário de alegoria carnavalesca? É compreensível, “é o sonho sendo tecido dentro de outra fantasia.”
Não se entristeça porque os dias de ópio terminaram. Quem sabe no próximo ano, eles voltam mais belos para nos apaixonarmos mais. Portanto, na quarta-feira, desfaça-se de sua fantasia e pise no solo firme da cinzenta quaresma.
Não se esqueçam que tudo tem um começo e um fim. O carnaval acabou morreu nesta quarta-feira de cinzas, mas o ano que vem, ressurgirá como ressurgiu este ano, como a fênix, das cinzas.

Alda Alves Barbosa

Sátira do texto – “Ficar na sua” não é uma boa

E agora , José
O povo cansou,
A paciência esgotou
O sono chegou
A noite esquentou
O verão brotou
E agora José?
***********
E agora José?
Você que engana
E na madrugada inflama
Recolhe na cana
E pensa que ama
José, para onde?
***********
Se você não celebrasse
Se você não bebesse
Se você não enlouquecesse
Se você crescesse
Se você se enaltecesse
E sua vida tecesse
O que você seria José?
*************
Seria um homem
Sem codinome,
Seria a honra
Não a desonra,
Teria o respeito
Porque tudo tem jeito! …
*************
Se até você tem jeito,
Ora, me dá o direito
De dormir no sossego
“Pro dia amanhecer feliz!”

Alda Alves Barbosa

“FICAR NA SUA” NÃO É A MELHOR OPÇÃO

Nos dias altamente estressantes em que se vive, o silêncio deve ser compreendido como um direito do cidadão, diferentemente do que vem ocorrendo em Unaí e quase que na totalidade do nosso país. A poluição sonora é o mal que atinge os habitantes das cidades, constituída em ruído capaz de produzir incômodo ao bem-estar ou malefícios à saúde, cujo agravamento merece hoje atenção especial dos profissionais de direito. É importante esclarecer que a poluição sonora não é, ao contrário do que pode parecer numa primeira análise, um mero problema de desconforto acústico. A total ausência de respeito com as pessoas deste nosso chão passou a constituir um problema ambiental e, iminentemente, uma preocupação com a saúde pública. Trata-se de fato comprovado pela ciência médica os malefícios que o barulho causam à saúde, sendo que os ruídos excessivos provocam perturbação da saúde mental, além de danos na audição. Além do que poluição sonora ofende o meio ambiente e, consequentemente afeta o interesse difuso e coletivo, à medida que os níveis excessivos de sons e ruídos causam deterioração na qualidade de vida, na relação entre as pessoas, sobretudo quando acima dos limites suportáveis pelo ouvido humano ou prejudiciais ao repouso NOTURNO e ao sossego público. Diante de tantas consequências deixo aqui algumas perguntas e, sinceramente, gostaria de respostas:
– Alguém já percebeu a situação caótica que nós unaienses nos encontramos devido à falta de limite e de educação dos nossos jovens e até dos adultos?
– Sabia que nestas chamadas “Lojas de conveniências” não ficam apenas jovens que ainda pretendem, não sei quando, ter uma profissão? Ali também estão advogados e muita gente cheia de “respeitabilidade” ajudando a adoecer o nosso povo, desrespeitando as leis ! …O que dizer daquele que deveria respeitar e não respeita ? Em momento nenhum excluo as mulheres respeitáveis também, ali estão elas desrespeitando tudo e todos.
– Sabia que ali, além dos gritos, das batucadas, das bebedeiras, do (Tum-Tum-Tum) das chamadas músicas, também fazem sexo em plena rua?
– Sabia que nas madrugadas, menores de idade, estão bêbados, drogados… Eu disse menores de idade!
– Sabia que a maioria as população de Unaí está indignada com o que está acontecendo nas noites unaienses?
-Sabia que não sabemos a quem recorrer para que noturnamente tenhamos paz ?
-Sabia que aqui em nossa cidade há muitos “alis” . Muitos “alis” ! Sabem em qual ali seu filho está? E refém de quê e de quem?
Eu de cá sei de quem estou refém: Dos pais ausentes, refém do descumprimento das leis ; refém da ausência de autoridades para solucionar este problema social ; refém de um sistema pouco convencional ; refém do excesso de tolerância e refém da certeza do continuísmo ! E tudo isso pelas ausências… Até quando?

Alda Alves Barbosa