O Tesouro do Gentio II

pintura
Criança embalsamada há séculos encontrada na Gruta do Gentio II
por José Augusto Nieto

Foto: Ciência Hoje - SBPC/1982

Foto: Ciência Hoje – SBPC/1982

Na Gruta do Gentio II, em Unaí, MG, entre outros achados arqueológicos, encontrou-se o corpo relativamente bem conservado de uma criança. Por meio de um retrosigmoidoscópio, Adauto de Araújo retira material para exame.(Foto do livro “Hunay de ontem e Unaí de hoje” de
Maria Torres Gonçalves)

Uma criança com idade entre 9 e 10 anos com destacada quantidade, qualidade e variedade de acompanhamentos funerários foi encontrada há algumas décadas no Sítio da Gruta do Gentio II, município de Unaí-MG, durante pesquisas arqueológicas. A relativa conservação do corpo indicou que o sepultamento teve características de ritual funerário e possível embalsamamento.

A Pre-História brasileira, nos cinco milênios compreendidos entre 9.000 e 4.000 anos antes do presente, caracterizou-se pelo processo de adaptação de diversos grupos humanos, que habitaram um extenso espaço, frente às lentas transformações ambientais. Embora variando, nas diversas partes que compõem a atual zone tropical do país, em função das peculiaridades topográficas locais, a tendência predominante foi a de um lento e contínuo aquecimento, com fases mais úmidas dominando e que culminariam no que se denomina de “Altitermal”, uma faixa de tempo no final do período em pauta, onde os fatores naturais da vida encontram-se em franca expansão. Os bandos antigos que povoaram essa terra, alteraram gradualmente seus processos culturais e, sem perder os fatores tradicionais, expressos sobretudo na tecnologia lítica, vieram a desenvolver novos comportamentos que culminariam, no período posterior, com a instalação plena das sociedades tribais horticultoras.

A tradição de pesquisas arqueológicas em Minas Gerais é uma das mais antigas de nosso território. A riqueza de seus vestígios pré-históricos atraiu, desde a primeira metade do século passado, inúmeros pesquisadores, com diferentes formações, objetivos e resultados. Apesar desta longa história, ainda podemos dizer que boa parte do território mineiro carece de um maior conhecimento de sua arqueologia e pré-história, seja pela simples falta de pesquisas, seja pela necessidade de pesquisas mais sistemáticas e metodologicamente orientadas. Na década de 1970 a região do Município de Unaí passou a ser estudada pelo IAB (Instituto de Arqueologia Brasileira), sob coordenação geral de Ondemar Dias Jr.

Sítios de 12,000 a 8,00 anos A.P.: 1 Seridó, Rio Grande do Norte; 2 Vale do Açu, Rio Grande do Norte; 3 Bom Jardim, Pernambuco; 4 Brejo da Madre de Deus, Pernambuco; 5 Petrolândia, Pernambuco; 6 Central, Bahía; 7 São Raimundo Nonato, Piauí; 8 Porto nacional, Goiás, 9 Coribe, Bahía; 10 Correntina, Bahía; 11 Vale do Panaña, Goiás; 12 Uruaçu, Goiás; 13 Niquelândia, Goiás; 14 Montalvânia/Junuária, Minas Gerais; 15 Unaí, Minas Gerais; 16 Varzalândia, Minas Gerais; 17 Montes Claros, Minas Gerais; 18 Serra do Cipó, Minas Gerais; 19 Pedro Leopoldo, Minas Gerais; 20 Cerca Grande, Minas Gerais; 21 Caiapônia, Goiás; 22 Serranópolis, Goiás; 23 Alto Araguaia, Goiás; 24 Alto Sucuriú, Mato Grosso do Sul; 25 Rondonópolis, Goiás; 26 Mato Grosso, Mato Grosso; 27 Projeto Grande Carajás, Pará; 28 Itaboraí, Rio de Janeiro; 29 Cabo Frio, Rio de Janiero; 30 Rio Claro, São Paulo; Vale do Ribeira, São Paulo; 32 Alto Paranapanema, São Paulo; 33 Fase Itaguajé, Paraná; 34 Rio Ivaí, Parané; 35 Fase Vinitu, Paraná; 36 Itapiranga, Santa Catarina; 37 Fase Capivara, Rio Grande do Sul; 38 Fase Uruguai, Rio Grande do Sul.
A Gruta do Gentio II é uma gruta bem iluminada e extraordinariamente seca, o que permitiu a preservação de exemplares arqueológicos em bom estado apesar da sua antiguidade. Ela começou a ser ocupada há cerca de 10.250 anos passados, quando pingos de tinta conservados no solo original demonstram que foi usada como local cerimonial, onde foram executadas pinturas em vermelho – no teto e nas paredes – e depositados sepultamentos parcialmente cremados de indivíduos adredemente desarticulados. Coletava-se, então, coquinhos de guariroba (Syagrus sp) e pequi (Caryocar brasilienses), até hoje planta de consumo garantido no Centro Oeste. Sobre o mais antigo nível de ocupação se acumulou uma camada esbranquiçada, sobretudo resultante do pó de calcário que lentamente se depositou no solo. A gruta foi habitada entre 8.250 e 7.350 anos passados, mas ficaram poucas evidências. A caverna ficou sem ocupação por um longo tempo, voltando a ser habitada por um grupo que ali desenvolveu experiências com vegetais. Esta gente já estava ali antes de 3.500 anos até 1.000 anos antes do presente. A camada de depósito que acumularam é muito rica em restos arqueológicos, com artefatos de pedra, de cerâmica, de osso, restos de fios de algodão e peças tecidas, arte plumária e cestaria, além de alguma poucas peças de madeira. Neste sítio também foi localizada a mais antiga cerâmica, fora da Amazônia, em território brasileiro, com cerca de 3.500 anos.

Não é conhecida em Unaí com exatidão a atual localização do corpo da criança encontrada na Gruta do Gentio II, segundo as pessoas que consultamos. Ou falam que estaria em algum museu do Rio de Janeiro, em Paris ou Copenhague. Na internet não foi possível localizar mais dados sobre ela, sua constituição, nem documentos sobre os estudos a que foi submetida, tão pouco a data exata de seu descobrimento. Sabe-se que teria sido sepultada envolta em uma rede de algodão, e que junto a ela foram encontrados inúmeros objetos.

Por hora, essa é a breve história do mais antigo morador de Unaí (ou moradora).

http://www.unainet.com.br/especial_arqueologia/tesouro_do_gentio.php

Gruta do Gentio II

História das Artes

58618963

 

Nossa história é mais antiga que a de nossas fazendas, nossos desbravadores do gado. Nossos mais antigos agricultores chegaram à região muito, muito antes que pensávamos, não chegaram a cavalo, ou eram brancos, sequer vieram tomar posse de sesmarias, mas chegaram até aqui em ondas migratórias desde a pré-história, eram povos caçadores-coletores, cujos vestígios são abundantes, descobertos desde os anos 70, pelo pesquisador Ondemar Dias Jr. Testemunham as grutas do Gentio II e Lapa da Foice, conhecidas pela comunidade arquelógica e histórica do Brasil e do mundo, desde muito, desconhecidas ou esquecidas pela maioria de nós unaienses.

Inscrições rupestres na Gruta do Gentio II

Quem diria, Unaí, possivelmente uma das regiões do país mais antigas a ser habitada, onde destaca-se o sítio arqueológico Gruta do Gentio II, registrando-se vestígios de povos caçadores-coletores de mais de 10.000 anos, e de povos horticultores de quase 4.000 anos, que cultivavam segundo abundantes vestígios vegetais: milho, amendoim, cabaça e abóbora. Temos aqui no município, também, o registro da mais antiga cerâmica brasileira, fora a Amazônia, datada de volta de 3.500 anos.

É uma história rica, abundante em seus vestígios, que mais recentemente, em virtude da necessidade de Licenciamento Ambiental para a implantação da UHE queimado e da PCH Unaí na divisa dos municípios de Unaí e Cabeceira Grande revelaram-se NOVOS sítios arqueológicos: sendo 4 na área de Queimado e 34 na área da PCH Unaí ( no local denominado Fazenda Canto).

Nossa história precisa ser preservada, e não existe melhor forma de preservar-mos que conhecê-la. Conhecermos nossa verdadeira origem, quem realmente somos, de onde viemos, nossa própria identidade.

Estamos sobre alguns dos mais importantes sítios pré-históricos da América do Sul, Unaí pode ajudar o Brasil e o mundo a compreender melhor as origens do homem americano. É nosso dever de cidadãos ajudar a preservar esse patrimônio, de Unaí, do Brasil, da Humanidade.

Sítio arqueológico composto por duas grutas próximas 100m uma da outra. Situado no município de Unaí, próximo a MG 128, sentido Guarapuava .
Local catalogado por uma universidade de Brasília, havendo pinturas rupestres datadas de aproximadamente 10.500 anos, além de um corpo mumificado que seria de uma criança morta com aproximadamente 10 anos de idade (artefato que se encontra no D.F.)
O lugar além do valor histórico cultural sem precedentes nos brinda com uma beleza natural inigualável. Cabe-nos ressaltar que todo esse tesouro ecológico se encontra sem nenhum cuidado, proteção ou infraestrutura turística proporcionado por parte de nossas autoridades.

Galeria:

Fotos: Pedalandoporunai.blogspot.com – Texto: José Augusto Nieto – Everson Luiz

Retificação:  “Acauã”, a criança mumificada que foi encontrada na Gruta do Gentio pelo professor Ondemar Dias Jr., Está no RIO DE JANEIRO sob a guarda do INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA e não no Distrito Federal!

História das Artes

A pintura na Pré-história

A pré-história é rica de pintura. As cavernas rupestres, com suas paredes naturais de convexidades e ressaltos caóticos, de superfície inopinadamente planas e fendas imprevistas, são para nós, habituados à simetria de nossas casas geométricas, morada cheia de sugestões conquanto incrível.É-nos quase difícil compreender, mas a ideia da construção da cabana, e a seguir a da casa surge da falta de abrigos naturais ou de sua insuficiência. em confronto com as necessidades. O aumento demográfico pressiona profundamente essa determinação, que ao homem primitivo parece – e é – inatural, e a cujo artificialismo talvez se adapte de mau grado. Realmente é inimaginável que o habitante das cavernas de Altamira, de Lascaux, de Ariège, de La Peña, de Caudamo, que se revela pintor de gênio, não se houvesse sentido capaz de torna-se construtor.

Morada aceitável para a mentalidade do homem primitivo, a caverna embelezada com figuras, na maioria das vezes de animais, mas não raro também humanas. A descoberta destas pinturas foi por acaso. Em 1940 dois rapazes de Dadoque, Ravidat e Marçal, com seus amigos Aguél e Coencas, na tentativa de socorrer um cão que se metera num buraco, descobriram a caverna de Lascaux, de cuja existência talvez a ciência jamais pudesse suspeitar. Ali se avistaram pela primeira vez nas paredes filas de bovídeos, de cervos em tal número que dava imediatamente a ideia de uma área coberta de pastos, rica de rebanhos. Os estudiosos dotados de sensibilidade poética, antes até de se adentrarem em especulações eruditas fruíram a imaginação de uma humanidade desaparecida e contudo tão presente, como a de Herculano e Pompéia.

Este primeiro contato voluntário do homem primitivo com a cor, este inteligente amor às linhas, esta compreensão de como o desenho e a cor estariam em condições de tornar estável uma ideia, um desejo ou simplesmente uma fantasia sua, tem para nós algo de incomparavelmente atraente, mais do que, por exemplo, o pintor mais ingênuo e mais imune de cultura da atualidade, que encontra nas lojas especializadas, já prontos, os lápis e tubos de tintas. Consciente do gesto que pratica e da importância de sua realização – quer signifique a multiplicação ritual das cabeças de animais mediante sua imagem, quer exprima simplesmente uma inclinação poética – o pintor primitivo controla com cuidado o próprio estro, corrige a linha que não o satisfaz, como amiúde se pode verificar com certeza. Mas, por sua própria sorte de primitivo, não o sabe; e é livre de todo temor ou esperança de juízo crítico. E por isto cria uma beleza profunda que sacode o espírito além da inteligência, e é portanto, capaz de recriar no observador o estado de alma do artista.

Tais pinturas surgem de repente na imensa lacuna da documentação pré-histórica. Sua beleza, o talento que revelam numa época em que não se conhecia a escrita, fazem pensar que esta última descoberta do gênio humano tenha sido produzido por um estado de necessidade; mas não requerem uma inteligência e uma civilização às que as precederam. Ao contrário da arte, que brotava da bondade do espírito, a escrita foi um dos instrumento para a luta pela existência.

Alda Alves Barbosa

Fonte: Galeria Delta da Pintura Universal