De como filosofar é aprender a morrer

paralelepípedos

” … ninguém morre antes da hora. O tempo que perdeis não vos pertence mais do o que precedeu vosso nascimento, e não vos interessa:  ‘ Considerai em verdade que os séculos inumeráveis, já passados, são para vós como se não tivessem sido ‘*. Qualquer que seja a duração de vossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu. Meditais sobre isso enquanto podeis fazer, pois depende de vós, e não do número de anos, terdes vivido bastante. Imagináveis então nunca chegardes ao ponto para o qual vos dirigíeis? Haverá caminho que não tenha fim? ” ( Montaigne )

Ensaios de Montaigne, capítulo 20, intitulado ” De como filosofar é aprender a morrer”.

*Lucrécio

Para nascer… Nascer… Renascer

imagem – Elma Carneiro – – www. calliandradocerrado.blogspot.com.br

 Percorri o cerrado marrom verão quente, abrasador desse sertão. Olor de verão.

Tremular de cor amarela intensa, que chega nas asas do vento tocando levemente nas folhas das esculturas nativas do cerrado.

Ó solitário vento fecunda essa vida, dê a ela esperança de eternidade florida nos ramos do muricizeiro, da cagaiteira, da pitombeira, ramos perfumados,

Perfumes de água doce que molha o sertão para nascer… nascer… nascer… Renascer!

Alda Alves Barbosa

Paraíso perdido

“Todos os homens vivem momentos difíceis. Para os que estão entrando na idade adulta, este é o ponto da existência em que surge a maior oposição entre o avançar da própria vida e o mundo em derredor, o ponto em que se torna mais duro conquistar o caminho que conduz à frente. São muitos os que unicamente esta vez passam na vida por aquele morrer e renascer que é o nosso destino, somente esta vez, quando tudo que chegamos a amar quer abandonar-nos e sentimos de repente em nós a solidão e o frio mortal dos espaços infinitos. E há muitos também que se embaraçam para sempre nesses escolhos e permanecem a vida toda agarrados a um passado sem retorno, ao sonho do paraíso perdido, o pior e o mais assassino de todos os sonhos.”

EXTRAÍDO DO LIVRO DEMIAN – HERMANN HESSE

Recortes filosóficos

O Bom Selvagem

Enquanto os homens se contentarem com suas cabanas rústicas, enquanto se limitaram com espinhos ou com cerdas suas roupas de peles, a enfeitar-se com plumas e conchas, a pintar o corpo com várias cores, a aperfeiçoar ou embelezar seus arcos e flechas, a cortar com pedras agudas alguns instrumentos grosseiros de música – em uma palavra: enquanto só se dedicaram a obras que um único homem podia criar, e às artes que não solicitavam o concurso de várias mãos, viveram tão livres, sadios, bons e felizes quanto o poderiam ser por sua natureza e continuaram a gozar entre si das doçuras de um comércio independente, mas, desde o instante em que um homem sentiu necessidade do socorro do outro, desde que se percebeu ser útil a um só contar com provisões para dois, desapareceu a igualdade, introduziu-se a prosperidade, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas transformaram-se em campos aprazíveis que se impôs regar com o suor dos homens e nos quais logo se viu a escravidão e a miséria germinarem e crescerem com as colheitas.

(Jean-Jacques Rousseau,Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens)

REFLEXÕES

Um Único Estilo de Vida não é Viver, é Ser Não nos devemos apegar assim tão fortemente às nossas tendências e temperamento. O nosso talento principal é sabermos aplicar-nos a práticas diversas. O estar vinculado, e necessariamente obrigado, a um único estilo de vida não é viver, é ser. As almas mais belas são as que têm mais variedade e flexibilidade. Se me fosse possível constituir-me a meu modo, não haveria nenhuma forma, por melhor que fosse, na qual eu me quisesse fixar de sorte que não fosse capaz de dela me apartar. A vida é um movimento desigual, irregular e multiforme. Não é ser amigo, e muito menos senhor, de si mesmo, deixar-se incessantemente conduzir por si e estar preso às próprias inclinações que não possa desviar-se delas nem torcê-las – é ser escravo de si próprio.
Digo-o neste momento por não me poder facilmente desembaraçar da importunidade da minha alma que consiste em ela normalmente não saber ocupar-se senão do que a absorve, nem aplicar-se senão por inteiro e de forma tensa. Por mais trivial que seja o assunto que se lhe dê, ela logo o aumenta e estica a ponto de ter de se empenhar nele com todas as forças. A sua ociosidade é-me, por esta causa, uma ocupação penosa e prejudicial à saúde. A maior parte dos espíritos precisa de matéria de fora para se desentorpecer e exercitar; o meu dela antes precisa para se acalmar e repousar «os vícios do ócio devem-se dissipar com o trabalho» – Séneca – pois o seu principal e mais laborioso estudo é de si mesmo.

Michel de Montaigne,ensaísta/escritor francês – 1533/1592  in ‘Ensaios – De Três Espécies de Convivência’

ENIGMAS FILOSÓFICOS

O homem nasce livre e em toda parte encontra-se a ferros. Toda nossa sabedoria consiste em preconceitos servis; todos os nossos usos são apenas sujeição, coação e constrangimento. O homem nasce, vive e morre na escravidão: ao nascer cosem-no numa malha; na sua morte pregam-no num caixão; enquanto tem figura humana é encadeado pelas nossas instituições. Eu senti antes de pensar. Observai a natureza e segui o caminho que ela vos traça. Ela exercita continuamente as crianças; endurece o seu temperamento com provas de toda espécie, e ensina-lhes, muito cedo, o que é uma dor, o que é um prazer.

ROUSSEAU

Reflexão

Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque esta escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o.

Buda