Causalidade

cronicas-da-danifoto preto branco mulher triste .inmagine
Ainda estão aqui as incontáveis verdades mascaradas no tumultuado cotidiano ou na seca persistente… Estão ali, escondidas entre instantes ou no desvio da questão maior. Quando me perco é também quando me acho, entre nós e semi desculpas, entre a ansiedade e a busca íntima de quem a gente pensa que é, entre a lapidada busca da mudança diária que culmine no equilíbrio de quem realmente se pretende ser e de quem gostaria de mudar muitas vezes.

Quantas vezes é preciso relembrar o gosto do inimaginável? Não haveria essa necessidade diante da consciência de que diferentes e novos gostos são apropriados nas mutações. Os pés estão escalpelados, estão em carne viva! As fraturas externas nada mais são que reflexos e motores para cuidar com carinho das agruras de dentro. Sobrevivo com dificuldades e instabilidades entre o aparente e o real, o bonito e o feio, o raso e o profundo. Na imediaticidade moderna, o raso tem sido tristemente válido. Qual o valor das palavras, quando só sinto o cheiro de fezes daquela situação em que um humano enojado, se lavou por inteiro quando lembrou do outro – o bicho humano.

Danielle Rezende

Impessoal

cronicas da dani

Impessoalidade – assim definiria aquela noite que se passou sem muitas explicações. Sem quaisquer expressões escorriam os dias! Todo afeto se esvai quando se trata de sedar anseios e curiosidades. Não tema suas ilusões. As fantasias dessa mulher desvairada felizmente não perpassam por expectativas sem fundamento… Elas vão muito alem do que seu receio cabal de aprisionamento possa supor! Suas ilusões são maiores que o mundo, e não compreendem o inalcançável de meras relações.

As felicitações de paz e amor advindas  das comemorações de final de ano são tão passageiras perto do que ela de fato gostaria de receber… Está em busca da compreensão por inteiro. Foco! Como se não fosse só o que ela tivesse desde o dia em que descobriu como desaguar a ânsia de seus sonhos.  Ela sabe onde pisa. Sabe muito bem!

Mesmo que caminhe assim, assim, feito Amélie Poulain:

Amélie: “Ela parece distante… talvez seja porque está pensando em alguém.”
Homem de vidro: “Em alguém do quadro?”
Amélie: “Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.”
Homem de vidro: “Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.”
Amélie: “Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.”
Homem de vidro: “E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem?

Danielle Rezende

cronicas-da-dani

10612622_660080717420888_7884633618318487629_nQuase todas as noites são assim! Estudar, trabalhar, rechear os dias de feitos, tornando-os constantemente atribulados. E então a noite chega e implode todos os pensamentos que são jogados pra depois. Uma saída aqui, uma bebida ali, a intenção é se distrair de uma realidade que cerca de todos os lados e rouba aquela risada espontânea e ingênua de quem por vida ou por sorte, consegue se esquivar dela. Nessas distrações, supostamente preencho os vazios. Supostamente parece que tudo ficou bem. Supostamente… A verdade é que todo mundo é só.

Com os olhos que vejo e com o coração que sinto ninguém mais o faz igual. ‘Cada coração é um universo ainda tem que bombear o sangue. ’ E como é doloroso o medo da incompreensão desses universos. Como é doloroso o medo de sucumbir no vazio. Distrair-se é relativamente fácil. Difícil é suportar, mesmo que um segundo, do pensamento implacável que o faz sentir incompleto, frágil.

Ainda há tanta estrada, tanta… E quem sabe numa dessas, a vida não surpreende? A gente dificilmente perde a esperança de ser surpreendido entre os milhares e milhares de universos que transladam por aí. Hoje não vesti roupas e sorrisos pra buscar distrações. Essa noite sou eu a realidade, a música, um clima tempestuoso e a incompreensão. Pra amanhã já está marcado! Vou vestir a roupa, o sorriso, a compreensão, não importa o clima. Entre distrações e realidades a vida segue…

Danielle Rezende

Falta de concretude

cronicas-da-dani
ampulheta
Não há certezas! É como mergulhar em águas límpidas e profundas de utopia, de esperança. E vive essa agonia. Sair daquelas águas representa vislumbrar aquilo que não é concreto é ver a estrada embaçada como miragem e rasas perspectivas. Mergulha então euforicamente para que encontre percursos de alguma maneira. Enquanto vive esse dilema a ampulheta escorre a areia fina e diferentemente dos jogos, não há um ser sequer que seja capaz de colocá-la de cabeça pra baixo ou mesmo evitar que as partículas escorram. Entre mergulhos, afogamentos, sair , retornar, não vê quem possa inferir na ampulheta ou tornar a estrada mais real… Como se toda essa loucura não fosse ela mesma: a realidade. Enquanto esperava tocar naquilo que seria concreto percebia pouco a pouco que esperas são inúteis. De tanto esperar se exauria e se transformava em nada. O nada de hoje! Estão nesse segundo, aprisionadas sensações e lembranças sem retornos. Vive de esperas e de amanhãs. Conforta na vida imaginada seus pensamentos e o hoje em nada conforta. Corria atras daqueles escassos minutos de encantamento onde a irrealidade se configurava tão real que seria capaz de desenhar cada linha do cotidiano alegre, leve, suspenso.
É vida, é inconsistência e incertezas!

Danielle Rezende

cronicas-da-dani10701988_817029451692959_4209016081171783051_n
Eram os ventos o lugar inoportuno e o vazio indescritível com pensamentos abortados. Contraditoriamente isso se mesclava a uma vontade leve de querer mais, de querer além. “Eu gosto de cemitérios”, confessou aquela simpática desconhecida já aguardando o ar de desaprovação ou espanto. Retruquei: ” Que mal há? Outros gostam de nuvens, outros de búzios e Xangô, outros de verde e há quem prefira o marrom.

Ouvi certo dia de quem, até sem querer, rega as infinitas reflexões das quais não abro mão, sobre a importância de sair do quadrado e de saber quem é! Pois bem, fora do quadrado estou aqui e agora. Alguns passos me separam da praça que leva o nome de meu vô que não conheci. As pessoas transitam calmamente ainda exalando o ar de cidade pacata. Dois ou três homens sentados aleatoriamente em bancos avistam o movimento com expressões de quem pensa sobre assuntos corriqueiros. Queria saber o assunto. Não por curiosidade besta, mas pela estranha mania de querer sentir um pouco das emoções do outro, um sentir na pele em fração de segundos, até descobrir as formas de enxergar, de sentir de todos os seres humanos do mundo.

Da sacada do hotel uma pessoa busca no breu do céu do sertão mineiro algum resquício da chuva que caiu horas atrás. Um branco fosco se abre bem pouquinho na escuridão – deve ser a lua! Ele deve gostar da estadia; é sempre revigorante respirar novos ares. Um pedaço da agenda onde transporto meus rabiscos rasgou. Preciso de local apropriado para tantas divagações costuradas. Resolvo isso amanhã, sem falta!

A sombra que as folhas da árvore fazem no chão, me convidam a ver sua copa. Respirei profundamente ate tentar sentir seu cheiro. Olhei num ato automático o relógio. Eram 20:32. Daqui 38 minutos vou embora. Bobagem, mas a conta também acontece automaticamente. Deitei na calçada. Dá um desconforto gostoso notar que o céu parece um buraco negro. Talvez o cara do hotel na verdade estivesse pensando nisso e não buscando o resquício da chuva.

Tem como isolar os sons que se quer ouvir. Agora, por exemplo, só escuto cachorros e cigarras. Não gosto de me expôr demais. Tenho desconfianças e uma vontade imensa de acreditar genuinamente nas pessoas. Ninguem deveria usar o que sabe do outro para propagar juízos de valor, fazer chacotas ou espalhar inverdades. Me surpreende e me encanta os seres humanos até em suas previsibilidades. Meus olhos maravilham-se quando avistam pessoas de vida já muito andada. Não sei sobre o que fizeram mas o trajeto percorrido me faz pensar sobre histórias.

Mais uma olhadela e percebo sorrisos sinceros por perto. É lindo ver uma criança tão pequena na bicicleta sem rodinhas.Tem muita gente sofrendo muito por motivos que nem sei nesse exato instante.
Um diria: “Não sonhe tanto”. O outro, após gargalhadas sem fim, prosseguia com “Esqueci que você gosta de inventar coisas que não aconteceram”. Amo os dois pólos. O que diria você?

Gosto de sair do quadrado. Tudo isso pra dizer que não sei responder àquela segunda reflexão: quem sou? Quão surreal? A cascata descritiva reafirma: ‘adoro descrições’. Desenho cenas que se configuram ou não. Sem querer – assim como sem querer as cutucadas que me inquietam acontecem – acabei por dizer um pouco de Danielle. Mas só um pouco. Não gosto de me expor!

Danielle Rezende

Chuva Interior

cronicas-da-dani

531249_285649804859748_472579519_n
Era meados de outubro e só conseguia pensar no silêncio e em silêncio.
Guardou o sentimento inominável na caixinha pequena dentro da gaveta, virou as costas e prosseguiu.
Tudo que queria era um final de tarde inteiro repleto de chuva. Isso certamente amenizaria suas oscilações mentais. A água despencada do céu amando a natureza…Precisava urgentemente desaguar com ela, amar a terra e escorrer abraçando tudo que é efêmero.
Foi questão de segundos e a emoção seria proporcionada por aquele pedacinho de instante onde as gotas caídas lá fora bailavam em sincronia com o que corroía por dentro.
Por mais breve que fosse era seu o instante, só seu. Os reencantamentos não acontecem todos os dias, mas deveriam. Enquanto o que deveria não é realidade, é tempo de apegar-se aos instantes mágicos e fugir dos grilhões.
Voltou até a caixinha e a abriu. Poderia não jogar o conteúdo mas o assumia enfim. Mesmo que para si. Assumir sempre vale a pena. Assumir as contas, os riscos, assumir você mesmo e não viver de simbologias ou quase palavras.
Sem convites se jogaria facilmente nos seus delírios… Sem promessas, sem palavras doces, sem amanhãs e, por estranho que pareça, com a certeza de ‘te ter como é, mas nem por isso ser sua’.

Danielle Rezende

Instinto Suicida

cronicas-da-dani

Pablo Neruda em Isla Negra

Pablo Neruda em Isla Negra

Mar… Imensidão de azul e vazio. As ondas grandes quebrando revoltas nas pedras de Isla Negra. Sentada em frente aos corpos do escritor Pablo Neruda e de seu amor Matilde Urrutia, tive a sensação de que as ondas iriam me engolir. E eu que tenho certo pânico e encantamento profundo pelas águas, não tive medo. Queria que ela me engolisse por inteiro no  lugar onde o coração transbordava. Dizem que todos tem instinto de sobrevivência. Afirmo o contrário: todos tem instinto suicida. Não me tomem como uma pessoa louca, negativa que faz apologia à morte. Muito ao contrário, sou defensora da vida. Mas… Ah! Como queria que meus olhos que não obedeciam e insistiam em marejar fossem completamente recobertos pelo azul! Morreria insanamente feliz, teoricamente livre e em lugar desconhecido.
A água brava parecia ter raiva do mundo. Gelada como atitudes corrompidas nos últimos tempos. Sentada em frente à corpos que se amaram loucamente me deliciava com o instinto suicida.
Adeus areia impregnada de história, adeus Isla Negra! Retorno ainda hoje ao instinto de sobrevivência… Infelizmente!
Danielle Rezende
Galeria:

Injúrias

cronicas-da-dani

Falavam todos os dias enquanto estava lá e não era pra ser assim. A distância assume papel importante na hora de sossegar os ânimos revoltos. Lavam os corpos e não fazem o mesmo com o coração? As emoções tambem suplicam por organização e cuidado.

Talvez visualizem com isso folhas bem escritas em papeis apropriados. Não é o caso… Os riscos imprecisos são desenhados com letras tortas naquela agenda hora corretamente utilizada para sua suposta finalidade, hora lugar dos  desabafos indiscretos em folhas não utilizadas por descuido ou por insanidade proposital.

Era outro dia e aflorava aquela mania besta de recomeçar sendo que não estava sequer perto do ano novo. Surgia a vontade repentina de jogar fora fotos e conversas como se amanhã realmente fosse o recomeço: “é tudo novo de novo, vamos nos jogar onde já caímos…” Não era ressignificado. Era colocar o sentimento no lugar onde deveria estar. No lugar onde o outro sentimento estava, lugar chamado fraternidade. Acatou sem lamúrias e depois de toda limpeza uma certeza incerta sucumbia: falariam no dia seguinte. Esperava dormir e ao acordar ter deixado pra trás o sentimento torto, enganoso, misturado à poluição daquela cidade. A morte simbólica durante o translado que passaria entre suas moradas parecia demasiadamente apropriado.

Retirou as lentes da ilusão doce e seu novo olhar por menos aconchegante que parecesse era o real. Se comportaria ordenadamente na situação. Ela não queria nada. Não queria cobranças, julgamentos, rótulos, não queria conversa. Ninguem a conhece melhor que ela mesma! Queria sim! Queria silêncio e não ter sua vida interpretada por bocas que falam demais. Queria silêncio… Paz e silêncio. Nem que pra isso precisasse amordaçar seus próprios pensamentos.

Tudo a corrompia. Para corações inquietos a vida segue assim: com sensações adversas a cada passo. Era dolorosa sua incompletude incompreendida. Esvaía aquela vida no ralo, como se cada gota não fosse vida tambem. O que procura então? Disseram a ela: cuidado com o que deseja, pode tornar realidade.  Mas e se o desejo fosse inatingível? Há pessoas que vieram assim: sem respostas ou outro qualquer em que possa ser e pronto.

Recomeço confuso e inconstante como sua alma.

Ora! O que cresce tambem retrocede.

Não fosse tão pouco para quem media cada respiro, mas era muito. Era muito…

E se fosse só a injúria, seria mais simples!

 

Danielle Rezende

Fotografuras de memórias íntimas

 

cronicas da dani
Nada falaram do que era pra ser dito. Ela não disse, ela não falou. Ele acomodou-se àquela situação como não houvesse o intenso peso de algo estranho no ar. Misteriosamente ela já havia decorado o barulho dos seus passos. As palavras não foram expurgadas da sua mente, saltavam porém de breves olhares que causavam calafrios quando arrebatavam a alma. Mais uma vez ela se calou. Fazia sentada  ao banco sobre o ceu azul, recortes de fotografias mentais de momentos que em sua mente prá lá de criativa, pareceram reais. Enquanto o tempo transcorria lentamente, dimensionava as reações dele como se fosse possível. Lacuna espaço-temporal… Ela agora morria de tédio ao ver suas figuras aos poucos se desfazerem em circunstâncias altamente previsíveis. O que a fazia tão singular era a vontade maluca de querer mesmo que momentaneamente, ser igual. Desajustamento na relação material entre as pessoas. Insistia em gritar no nada: “espaços vazios não me preenchem”. O perfume dele era mais volátil que sua ânsia de viver o não vivido. Tão volátil que a essa hora ela se sentia mais forte por ter que forçar a memória pra recordá-lo. De tudo o que restou foi o apreço a ninguém.  A vontade de não sentir, a imensa vontade de calar. O corpo no entanto, transborda com petulância por se sentir aprisionado. De tudo que se foi, e certamente algo importante se foi, restou a loucura, o devaneio: “E se ela chora num quarto de hotel?” Havia desilusão – apesar de nunca ter existido ilusão. Uma desilusão incompreendida com um quê de reticências e não de ponto final.
Pra sorte ou azar de ambos…
Danielle Rezende

 

cronicas da dani

Cheguei em casa após um longo dia de trabalho, calcei o tênis e fui correr. Enquanto corria, habitava em meus pensamentos apenas a enorme vontade de encontrar a cura. Sim, é preciso encontrar a cura! A cura para as pessoas do mundo que estão adoecidas, para as desumanidades, para a falta de amor, para a falta de respeito.
Tudo isso traduzia-se em uma única pergunta: onde vou encontrar a cura?
A indiferença entre os seres espalha dores. São vários os sintomas. Alguns medicam-se com cigarros, drogas, álcool. Outros aquietam-se em si mesmos, afinal não ha o que se fazer. Há aqueles que optam pela fuga: uma ecovila,  morar distante da caótica cidade, isolar-se encontrando sinergia em outros. Minhas válvulas de escape não conseguem vazar nenhuma das minhas dores. Por vezes pendo para um dos lados da corda bamba sem sombrinha. E o mais difícil de sentir essa unidualidade da minha  mente e  meu corpo, é que ambos suplicam veemente pra voltar à realidade. E voltar para a realidade, significa por vezes aceitar o vazio. Será que existe alguem que me compreenda nesse universo? Deve haver, somos petulantes grãos de areia sem escrúpulos.

Danielle Rezende