Nas tardes coloridas sentávamos todos, adultos e crianças, nas calçadas da casa de tia Amélia, enquanto as águas do Rio Preto desciam perigosamente sonolentas. Só no escuro da noite ele cantava; era sempre um canto triste, doído…
Mas naquela hora, tomando a fresca da tarde, o sol já estava despedindo do dia, descendo os horizontes, deixando fios de ouro no céu, os adultos, uma grande parentela, nada viam, conversavam entre si sobre as miudezas das horas passadas. Muitas vezes cochichavam – coisas de gente grande -, dizíamos nós.
Pouco ou nada sabíamos da vida, mas gostávamos de inventá-la, de brincar de faz-de-conta, ser e ter o que queríamos. Era muito bom brincar de sonhar! Mas queríamos mesmo era olhar e acompanhar no céu as estrelas mais brilhantes e apontar para contá-las, mesmo correndo o risco das verrugas espalharem por todo nosso corpo. Às vezes, quando ficávamos muito tempo sem ver uma determinada estrela, eu acordava de madrugada para vê-la. Havia em mim e elas, uma relação de saudade.
O céu, este mistério onde nasce o calor, cai a chuva, nasce o luar e nos presenteia com as estrelas, pirilampos pisca-pisca, com o tempo, todo ele já fazia parte de nós: Três Marias, Marias de quê, de quem? Estrela Dalva! Não podia ser Alva? Cruzeiro do Sul, em forma de cruz! Cruz de Jesus? nossa cruz? Estrela Cadente! Palavra bonita, poética, estrela poesia!…
Ah, Estrela de Belém, estrela que víamos todas as noites. Nunca se escondeu de nosso olhar. Estrela santa, brilho intenso, em sua cauda carregava o mundo! Corria sempre na mesma direção… e nós a abraçávamos e algo acontecia dentro dos nossos corações: uma espécie de renascimento!
Alda Alves Barbosa