Enquanto meu olhar enternecia com o desfilar dos carros de bois na Av. Governador Valadares, voltei no tempo: “evém o carro de boi” – gritava eu ,menina ,para meus irmãos. A entrada sempre era triunfal, era bonito ver o guia na frente mostrando o caminho aos bois; era triste ver os bois curraleiros tentando tirar a carroça do lamaçal da rua. O guia chegava o ferrão e ainda gritava: – Lazão, Baeta, vamos – ôoa vamos! E assim entre gritos e ferroadas os bois e a carroça saiam da lama. Era tão comum vê-los por ali, sempre passantes, trazendo lenha para ser queimada nos fogões, madeira decepada do cerrado; sacos de milho, de feijão roxo, sacos de arroz para serem vendidos na cidade, mas não perdiam a beleza do mistério de quem carregava o segredo da terra. Alguns vinham vazios, não traziam nenhuma mercadoria, transportava a esposa do pequeno fazendeiro, mulher de labuta, trabalhadeira, madrugadeira, analfabeta, bem parideira, criadeira de sua enorme prole. Vinham fazer compras na cidade. Retornavam rápido, tinham pressa, carecia de gente para vigiar os trabalhadores. “O olho do dono é que engorda a boiada” – costumavam dizer. E enquanto atravessava a ponte de madeira, meu coração chorava com a cantiga do carro, cantiga saudosa, choro que eu ouvia já distante, quase em légua. Uma légua de saudade é saudade por demais!… Hoje a saudade passa pela avenida asfaltada como peças representativas do passado. Quando retornam às fazendas, ficam encostadas num canto como se olhassem os caminhos por onde passaram. Enquanto isso vamos rangendo juntos as rodas do presente e olhando o passado desfilar… As lágrimas teimam em cair… Caem… Viro a esquina para esquecer as faltas!
Alda Alves Barbosa