História das Artes

A pintura na Pré-história

A pré-história é rica de pintura. As cavernas rupestres, com suas paredes naturais de convexidades e ressaltos caóticos, de superfície inopinadamente planas e fendas imprevistas, são para nós, habituados à simetria de nossas casas geométricas, morada cheia de sugestões conquanto incrível.É-nos quase difícil compreender, mas a ideia da construção da cabana, e a seguir a da casa surge da falta de abrigos naturais ou de sua insuficiência. em confronto com as necessidades. O aumento demográfico pressiona profundamente essa determinação, que ao homem primitivo parece – e é – inatural, e a cujo artificialismo talvez se adapte de mau grado. Realmente é inimaginável que o habitante das cavernas de Altamira, de Lascaux, de Ariège, de La Peña, de Caudamo, que se revela pintor de gênio, não se houvesse sentido capaz de torna-se construtor.

Morada aceitável para a mentalidade do homem primitivo, a caverna embelezada com figuras, na maioria das vezes de animais, mas não raro também humanas. A descoberta destas pinturas foi por acaso. Em 1940 dois rapazes de Dadoque, Ravidat e Marçal, com seus amigos Aguél e Coencas, na tentativa de socorrer um cão que se metera num buraco, descobriram a caverna de Lascaux, de cuja existência talvez a ciência jamais pudesse suspeitar. Ali se avistaram pela primeira vez nas paredes filas de bovídeos, de cervos em tal número que dava imediatamente a ideia de uma área coberta de pastos, rica de rebanhos. Os estudiosos dotados de sensibilidade poética, antes até de se adentrarem em especulações eruditas fruíram a imaginação de uma humanidade desaparecida e contudo tão presente, como a de Herculano e Pompéia.

Este primeiro contato voluntário do homem primitivo com a cor, este inteligente amor às linhas, esta compreensão de como o desenho e a cor estariam em condições de tornar estável uma ideia, um desejo ou simplesmente uma fantasia sua, tem para nós algo de incomparavelmente atraente, mais do que, por exemplo, o pintor mais ingênuo e mais imune de cultura da atualidade, que encontra nas lojas especializadas, já prontos, os lápis e tubos de tintas. Consciente do gesto que pratica e da importância de sua realização – quer signifique a multiplicação ritual das cabeças de animais mediante sua imagem, quer exprima simplesmente uma inclinação poética – o pintor primitivo controla com cuidado o próprio estro, corrige a linha que não o satisfaz, como amiúde se pode verificar com certeza. Mas, por sua própria sorte de primitivo, não o sabe; e é livre de todo temor ou esperança de juízo crítico. E por isto cria uma beleza profunda que sacode o espírito além da inteligência, e é portanto, capaz de recriar no observador o estado de alma do artista.

Tais pinturas surgem de repente na imensa lacuna da documentação pré-histórica. Sua beleza, o talento que revelam numa época em que não se conhecia a escrita, fazem pensar que esta última descoberta do gênio humano tenha sido produzido por um estado de necessidade; mas não requerem uma inteligência e uma civilização às que as precederam. Ao contrário da arte, que brotava da bondade do espírito, a escrita foi um dos instrumento para a luta pela existência.

Alda Alves Barbosa

Fonte: Galeria Delta da Pintura Universal

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