Foi no mês de setembro. Não me recordo o ano. Sei que devia me lembrar de cada detalhe, de todos os pormenores, mas tantos anos já se passaram! Como lembrar de minúcias vividas se carrego comigo o peso dos anos?
Sim, foi em setembro… ainda era outono. Mas havia no ar o cheiro da brisa trazendo a primavera. Primavera de flores tímidas, poucas cores e o perfume de folhas secas do cerrado. Acho que estou fazendo poesia. Estou adiando o momento de entrar na indignação que me abraça sempre que me recordo desse acontecimento.
Volver… Esta é a palavra. Direita, volver!… Esquerda, volver!… Setembro, um desfile de amor à pátria, uma ovação à ditadura recém-instaurada, e um cansativo perfilamento de cabeças, uma cadência de passos ensaiados exaustivamente.
Eu, uma menina entrando na adolescência, mas com estatura alta para os padrões da época – e por isso na frente do pelotão. Ditadura militar… Tudo dentro do contexto, inclusive o ditador de “quem não marchar direito vai preso no quartel.”
Como toda “mocinha”, ali havia um coleguinha que eu amava sozinha – me perdi nos olhos dele… Ao ouvir o comando, direita volver, virei para a esquerda. Fui “gentilmente convidada” a ir para o centro do pátio, enquanto o ditador gritava: direita, volver!… Esquerda volver!… Não acertei nenhuma esquerda, nem direita. Queria desaparecer… e voei deixando para trás as gargalhadas cruéis dos colegas.
Alda Alves Barbosa
……’vou ver’ e ler novamente. Essa Escritora apareceu há muito pouco tempo em minha vida e, estou totalmente impressionado com o poder que ela tem de me envolver em sua alma poética.
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Célio, estou muito feliz por minha alma poética ter alcançado a sua e tê-lo envolvido tanto. A poesia tem este poder. Ela nos tira do chão nos envolve em suas asas e nos leva para além/ céus … Visitamos países desconhecidos que habitam em nós; encontramos pessoas adormecidas em nossos corações, e costumamos nos salvar nos versos. Eu me salvo de mim escrevendo, poetizando, lendo… É um mundo diferente, Não é fantasia, talvez seja um mundo construído de sensibilidades! Talvez!
Um grande abraço. Obrigada pelo comentário!