Gostaria de deixar claro que não estou mal humorada, mas sim, bastante indignada. A diferença é enorme entre um jeito de estar e o outro. Só gostaria que alguém pudesse me informar quem teve a triste idéia de denominar o entardecer do ser humano, ou seja, a velhice, como a “melhor idade?” Melhor idade em quê? Como aplaudir a lei de Newton quando ela se instaura em nós? Como aplaudir o rosto transformado, vincado? Vincos que se instauram e com o tempo vão aprofundando mais e mais?
Alguém, ao ler, vai dizer: – “Estamos vivos, isso é o que importa.” Isto. Estamos vivos. Mas será que há como esquecermos que a “melhor idade” nos lembra que estamos mais perto da morte? Será que esta denominação tão “bonita” ajuda a desconstruir a dor que se instala em cada articulação, em cada coração?Não tem como. Não podemos esquecer que na “melhor idade”, tudo aquilo que nos identificava com o nosso mundo começa a desaparecer, as pessoas vão indo embora e já começamos a imaginar o mundo sem a nossa presença. E com esta percepção a vida começa a perder o encantamento, se é que um dia ela foi encantada.
A minha indignação não é porque o espelho quebrou quando olhei para ele ou vice-versa. Não me vejo mais ali. Apenas me espelhei em um fato que presenciei. Cinco cachorros atacando uma senhora. Na verdade atacavam a sacola que ela trazia nas mãos. Mas isto não impediu que eles, os cachorros, a machucassem. Numa mesa perto do local, três rapazes conversavam animadamente. Pediu socorro a eles. Ignoraram-na. Sozinha, com chinelo em uma das mãos, ela conseguiu desvencilha-se deles.
E fico aqui a pensar… E se ela fosse uma bela jovem, pernas grossas… Pensamento idiota. A resposta é tão óbvia!
Por isto não me atrevo a pedir aos deuses a eternidade! Viver eternamente com a lei de Newton me murchando,deteriorando minha mente com o mal de Alzheimer, ou mesmo com os pequenos esquecimentos que humilha tanto o idoso! Poderia até mudar de ideia… se me fosse concedido o poder de viver eternamente sim, mas jovem também.
Pensando bem, felizes são os deuses! Eles não envelhecem! Confesso que morro de inveja deles!
Alda Alves Barbosa