Século XX, precisamente no ano de 1968. Joaquim do Barco era proprietário de um boteco que ficava entre a casa de Delvito Alves e do Senhor Antenor, esposo de Ester Barbosa. Esse local era o fervedor da boca da ponte. Nesta época havia inaugurado o Matadouro Municipal nas imediações da fazenda Amaral. O gado destinado ao corte, sempre chegava tocado por peões. Uns eram ágeis e bem treinados, outros, nem tanto.
Difícil mesmo era controlar os bois que vinham das fazendas próximas à Unaí e precisavam passar pela boca estreita da ponte. Estavam quase sempre estressados e bravos e por isso refugavam. Resistiam entrar na pequena passarela, o que causava uma enorme preocupação aos habitantes desse chão. E com razão. Pois eles, o gado, sempre voltava. Resistia com tenacidade a passagem. Quando a população percebia que os peões não davam conta da travessia dos bois, tentava ajudar, mas muitas vezes o resultado era nulo.
A situação estava se tornando caótica. As pessoas que moravam nas proximidades, quando ouviam os gritos dos boiadeiros já sabiam que “lá vinha encrenca.” Corriam pra casa, e fechavam as portas para evitar a invasão humana, bovina, eqüina e canina (entrava a vaca, o cavalo, o peão e o cachorro).
Numa manhã, me lembro bem, eu voltava do Colégio Nossa Senhora do Carmo com uma fome danada. Foi quando vi a confusão formada: uma vaca louca entrou no buteco do Joaquim do barco. O piso era de cimento liso e, para piorar a situação, estava molhado. A vaca acabou escorregando e caiu. Por mais que tentasse levantar não conseguia. Acabava caindo de novo. Se ela estava brava, embraveceu de vez, pois mesmo deitada esperneava e atacava até os mosquitos que a rodeavam.
Os curiosos foram se aglomerando. Uns tentavam ajudar, outros, como eu, só queria ver o “petêco.” O coitado do Joaquim tremia e se borrava todo. Ninguém conseguia levantar a vaca. Quando alguém se aproximava ela o ameaçava com os chifres e o “corajoso” recuava. E foi juntando gente. Tinha mais gente que no comício de Tão na Cachoeira. Após muita demora chegou à rural Hollywoodiana (vermelha e branca) era a polícia. Nela havia dois soldados e um bate-pau e foram logo ordenando: “sai todo mundo… Some daqui!”
Povo retirado, novas tentativas de tirar a vaca. Um peão conseguiu laçá-la no pescoço e amarrou a outra ponta do laço no poste que ficava no meio da rua e foram arrastando a coitada para fora do estabelecimento. Livre da vaca Joaquim cresceu, ficou bravo e gritava: “eu mato vaca, mato cavalo, mato cachorro, mato açougueiro, mato o dono da vaca.” Eu ria tanto que acabei urinando nas calças. A tal vaca foi puxada para o matadouro e a molecada atrás conferindo.
Joaquim do barco, muito agitado e chateado resolveu vender o bar. “Hoje eu vendo esse bar, vendo pra qualquer um, vendo até para o capeta.” “Que isso Joaquim, não fale besteira – ponderou dona Crioula – esposa dele. Resolveu que ia vender mesmo e depois ia pra roça ou sumir, dava no mesmo.
Anoiteceu. Fim de um dia agitado na boca da ponte. Joaquim fecha o bar e não percebeu que havia deixado o rádio Semp Toshiba ligado. Foi dormir. Precisava descansar para começar a labuta às cinco horas da manhã. Nesse horário começava o movimento dos passageiros na boca da ponte que iam pegar o ônibus das 6:00 para Formosa, Boa Vista, Pau Terra, Cabeceiras, etc…
Ainda escuro, ao se aproximar da casa de dona Dasdores ,Joaquim ouviu umas gargalhadas e música vindo da direção do seu bar. Olhou espantado e disse: “pronto, é o capeta que já tomou conta.” Tremendo de medo, aproximou-se de uma senhora que estava esperando um ônibus e disse: “Ô dona, eu vou entrar lá, mas se acontecer alguma coisa a senhora vai lá me acudir. A senhora com mais medo que ele disse: “eu não.” Joaquim entrou em desespero. Pensou em rezar, chamar alguém, mas e a vergonha?
O dia foi clareando e mais gente foi chegando. Os outros butequeiros foram abrindo seus comércios, inclusive meu pai. Descobriram após algum tempo que era o rádio que ficara ligado e estava naquela hora no programa do Zé Bétio. Joaquim do barco cheio de coragem abriu o “bar.”
Por muito tempo tivemos Joaquim do barco como vizinho, que claro, decidiu não vender mais seu estabelecimento comercial. Só muitos anos depois seu Jeremias comprou. O ponto passou por vários donos.
Sempre que passo por lá me lembro do fatídico dia em que o capeta comprou um bar na boca da ponte.
Colaboração de Orlando – Um leitor muito querido desse site.
SENSACIONAL!!!!!!
Muito boa! Ótima!!! Depois que tudo passa a gente fica MACHO, né? Esse capeta é uma peste mesmo! Lembro bem, quando estava jogando baliza um dia à tarde com Gislene Torres, (baliza se joga com pedrinhas, lembra?) por volta de 1959… A empregada lá de casa disse: se ficar jogando baliza depois que anoitecer, quando vocês forem dormir, o capeta vai ficar jogando debaixo da cama a noite toda. Pois foi dito e certo! Na minha cabecinha de 8 anos de idade, ouvi a noite toda, o bicho jogando baliza debaixo da minha cama… Ô noite! Se ele jogou debaixo da cama da Gis, aí eu não sei.
Adorei esse causo.
E aconteceu mesmo, Carlos Eugênio! Amei contar! Grata pela visita