Quando me percebi “gente” devo admitir que fiquei “ cismeada” com as responsabilidades que eu teria que abraçar. Mas faltava muito tempo para isso. Enquanto a meninice teimava em ficar, eu ia ser cuidada, não cuidar.
O vento chegava e empurrava o tempo. As mudanças eram nítidas em meu corpo e nos meus pensamentos. Não gostava mais de bonecas, mas gostava de ver os rapazes nas dobras das esquinas. Havia crescido. Como a aurora, as responsabilidades começavam a despontar, e, naturalmente, os receios da vida adulta. Incontáveis foram as noites de insônia pensando o que me traria os amanhãs: seria professora? Casaria? Teria filhos?
A minha geração foi muito cobrada. Acredito que essas cobranças nos fizeram fortes para lutar por mudanças. Mundão desigual!
O vento passando empurrando o tempo… E o tempo me levando; Vi com certa inveja a liberdade dos hippies. Vivi a música dos Beatles e dos Rolling Stones; usei minissaia (dois dedos acima dos joelhos); observava as mulheres saindo do julgo dos pais e dos maridos e lutando pelo seu próprio pão. A liberação sexual feminina, a pílula anticoncepcional, enfim, uma mudança total de conceitos.
E o tempo continuava passando… Vi os inesquecíveis festivais da antiga Record, inaugurei um biquíni amarelo na ACM (Associação Cristã de Moços) e ousei… Ousei… Tornaram-me professora. Profissão que naquela época já prenunciava decadência. Cinco meses trabalhando sem receber sequer um centavo. Casar? Não queria! Filhos? Como semear vidas se sempre tive medo dela?
Vi meu pai, minha mãe, meu irmão, tios e tias queridas partindo. Senti e ainda sinto o fantasma da solidão.
Nada demais na minha vida. Vida miúda apesar do trabalho árduo numa cidade grande. Vida comum com a grande maioria do povo brasileiro! Só não pensei que no outono da dela eu fosse deparar com uma cena gritante de uma “bolsista” do governo (pago com o dinheiro do nosso povo) reclamando da mísera quantia de 134,00 que recebia sem trabalhar e que não dava para comprar uma calça de 300,00 para sua filha de 16 anos.
Chorei com dó de mim, com dó de nós, com dó dela, a bolsista. E porque a ignorância deixa cegueiras resolvi sugerir que paguemos a escola e a profissionalização dos 900.000 brasileiros que correram no final de semana para a CEF retirar seu “parco” dinheirinho, com receios de que as “bolsas” fossem suspensas. Sugiro que eles recebam dignidade comprando o seu pão, a calça de 300,00, o celular de 1.000,00 com o seu próprio dinheiro. Mas para isso, é preciso que a cegueira seja tratada.
Eles não querem, ou não querem por eles?
Alda Alves Barbosa
Minha linda, você tocou num assunto que está se tornando assustador neste país. Estão transformando nosso povo em viciados em bolsas de benefícios sociais. O povo está se tornando refém dessa armadilha social que o governo está pregando ao povo brasileiro. Este dinhheiro podia muito bem ser revertido em geração de emprego, saúde, educação, desenvolvimento social e dignidade para essa gente sofrida que vive a custas de esmolas de um governo cada vez mais corrupto e sem dignidade. Porque eles não vivem a custa de bolsa família também já que são represetantes do povo. Sendo representantes do povo, deviam viver tal qual o povo que os colocou no poder. Cadê o exemplo de civilidade nessa hora ?