O inverno deixa as manhãs escuras. Trêmula pelo frio ando pelas ruas escuras, rezando para que a semente da claridade aponte nos céus. Ruas geladas, vazias; coração derramando medo. “Estranho, a manhã sempre tem cheiro de boa noite” – pensei. Ando vacilante. Entre um passo e outro tento pegar no ar os retalhos da minha vida, enquanto tropeço nas pedras que moram em meio à poeira da rua.
Dias frios têm cheiro de pernas entrelaçadas, de alegria do corpo, de alma apaziguada. Lembrança antiga. Felicidade tão no passado!
O tempo não me tirou o frêmito orgástico. Mas me tirou o roçar áspero dos corpos, o descanso no amor e o encantamento da sedução.
Acordo todos os dias quando o sino da igrejinha tange. Vou a missa pedir a Deus para sossegar esse corpo outonal
Alda Alves Barbosa