Laura lançou um derradeiro olhar para o céu: lua e estrelas em prontidão para iluminar a noite festiva. A rua, impregnada de poeira, cheirava a perfumes caros e à flores do cerrado. Alguns jovens palravam na sacada iluminada do clube, enquanto outros preferiam aguardar mais um pouco, ouvindo debaixo do luar, as músicas dançantes de Ray Conniff, tocadas por um conjunto que na época, encantavam os corações dos adolescentes.
Os bailes do único clube da cidade, sempre que aconteciam, eram exigidos trajes a rigor. Música boa e gente bonita.
Laura, vinda da capital mineira para as férias escolares ia estrear nos brilhantes bailes da sua terra. Era tímida, desconfiada e carregava dentro de si o fardo do sentimento de inferioridade.
Vestia um vestido longo, azul e esvoaçante. Seus cabelos eram longos e claros. Era, para os padrões da época, uma mulher de estatura alta. Não possuía uma beleza clássica, mas era bonita sim. E a própria juventude a tornava bela.
E fez a sua entrada triunfal no salão. Ergueu a cabeça que deu a ela certa arrogância; um sorriso discreto nos lábios e com gestos levemente estudados sentou-se à mesa com alguns parentes. Noite inesquecível… Não ficara sentada uma música sequer. O “vamos dançar” acontecia sempre que cansada, pedia licença para retornar à sua mesa.
Até que o namorado de uma prima disse em tom alto e desagradável: “parece que existe só você de mulher aqui.” Verdade! Ela, Laura, havia percebido isso… Era desejada, era disputada para dançar e era exibida a todos com quem dançava como um troféu. Bem no fundo do seu coração, ela desejava essa disputa. Ela queria ser enxergada e aconteceu que todos a viram devagar: enxergaram-na. Ela não era o troféu… Exibia sim, em cada rodopio, seus troféus.
Há muito tempo não a vejo. Não sei se ela já partiu para a eternidade. E se ainda não foi, com certeza ainda se lembra com saudades do “Baile Azul!”
Alda Alves Barbosa