E eu que cheguei sem saber como, me vi existindo. Não premeditei este ato. Nasci do broto da solidão. Nasci necessitando de muitos cuidados; era dependente, mas não sabia de quem.
Aos poucos meu mundo foi crescendo e eu crescendo com ele. E este movimento modificava meu olhar. Aos poucos a luz do sol, a luz da lua, a chuva bem-vinda. Tudo era novo no novo dia que nascia. Tudo era simples, apenas acontecia.
Não vi o tempo passar. Não percebi quando me mudei para mim mesma e meu olhar adquiriu tons diferentes. Eu havia nascido de novo. Parto meu de mim. Sou eu a responsável pela minha humanização. Sou eu a responsável pela semente que jogaram na terra crua e conseguiu brotar, crescer…
Não vi o tempo passar. Ele não passou. Voou sem que eu ouvisse as batidas de suas asas. Voou e eu não percebi que havia me deslocado no tempo. Não percebi a minha nudez interior. Tudo que habitava em mim também havia alçado voo para dar lugar a outros moradores. Mudei quase que de forma imperceptível. Mudei me transformando todos os dias sem perceber o tempo arranhando minha memória, vincando meu corpo, roubando minha dignidade.
Hoje sou outra, não tenho receita para nascer de novo de mim. Não há mais tempo para nascimentos. O tempo me fez perder de mim. Ele me enganou, me conduziu, me deu, me tomou e tirou de mim o chão em que eu sempre me apoiei.
Não espalhei sementes. Nada nasceu de mim a não ser eu mesma. Eu que já estou indo em direção ao infinito não sentirei culpas… Não espalhei sementes para elas brotassem sob a ameaça constante do tempo…
Enquanto vou existindo irei enfeitando meu cotidiano com a mistura colorida da natureza! Tenho uma sensação de nunca ter vivido… Tenho a sensação de estar vivendo um sonho que nunca vai acabar!
Alda Alves Barbosa