Pintura do artista plástico argentino CARYBÉ
Crônica de Artur da Távola – Extraída do Livro “ALGUEM QUE JÁ NÃO FUI.”
O que assusta na gente na relação com a cidade onde nasceu, onde vive e a qual ama, é a certeza que nela colocou as suas esperanças, os seus planos de vida e de repente ela é outra, transformada, totalmente fora da possibilidade de realizar nossos projetos. Todo o meu esforço pessoal interior, no sentido de civilizar-me tornou-se inútil porque a cidade não me traz respostas à altura. O centro de meu dilacerante conflito é a constatação de que no tipo de crescimento adotado, não há mais chance de realização de um tipo de vida para o qual me preparei e no qual poderia realizar o que de melhor possui a minha dimensão de pessoa e de cidadão. Caminho pelas ruas da minha cidade pensando e pensando se ela ainda possui locais que possam responder a um tipo de vida que justifique nela viver. E é o trágico constatar que já não o tem. Ela perdeu aquela espécie de elasticidade que permitia ao habitante acomodar-se e, mal ou bem, gozar as vantagens do viver urbano. Não que se procure um paraíso, uma cidade sem problemas ou naturais dificuldades, desconfortos, imperfeições, etc. Mas uma cidade que, ao lado disso, dê ao morador a possibilidade de espaço, alguma paz, alegrias, ou tipos de lazer e convivência para os quais ele se ou nos quais se formou. Aí vem a constatação de que a cidade erigiu o impermanente como regra e tudo o que justifica uma existência de trabalho com a finalidade de alcançar certas metas, mesmo as mais modestas metas de vida, já não mais encontra resposta. Ela ficou alheia a nós – e aqui o terrível – a gente já se considera sem tempo e condições de criar raízes em outro lugar. Na cidade “moderna” emergente, burra, psicologicamente enferma e socialmente injusta, não há mais vestígio nem do passado recente. Trator nele! E sem passado, é tão impossível viver como sem futuro, porque, quando tal ocorre, fica no meio um presente sem sentido, vivido irremediável, na qual nada mais pode melhorar e onde todos ficam se perguntando qual a causa de estar assim… Ó meu Rio de Janeiro!
Que crônica perfeita minha amiga. Sem passado não há existência possível, pois o homem e suas cidades nada mais são do que aquilo que foram, que acaba sendo projetado naquilo que são e serão.
Sim Adriano, estava lendo o livro de crônicas dele e de repente me deparei com esta. Gostei tanto que acabei postando. Ela reflete a realidade de quase todas as cidades brasileiras. No que você enfatizou é isto mesmo. O povo constrói o passado de uma cidade, porque o que ele plantou, fincou na terra, refletirá nos amanhãs. Portanto somos hoje o que foi plantado nos ontens e assim será a geração futura, o que semarmos no agora terá reflexos na geração do amanhã.
Obrigado. Abração
Qualquer semelhança é mera coincidência. Os moradores de quase todas as cidades reclamam dessa loucura pelo ter sobre o ser. A evolução da cidadania é infinitamente mais valiosa do que a evolução patrimonial.
Quero o meu, o seu, o nosso Rio Preto de outrora, com matrinchãs sem garrafas pet.
Bagre na cabeça.(por email explico)
Orlando-DF
Oi Orlando,
Sim , é mera coincidência. O nosso Brasil teve como triste herança a desonestidade . Aqui no nosso país o ter é infinitamente mais valioso que o ser. Talvez não, depende do que quer ser… Ser isto… isto… isto…
para ter aquilo… aquilo… aquilo. Hoje nas escolas, na família não ensinam cidadania não. Na chamada “revolução” de 64, ensinava sim, era necessário pelos mesmos e por outros motivos., atualmente por motivo nenhum. O outro faz, porque não podemos fazer? A desonestidade hoje é tão necessária e comum quanto respirar…. Reflita, o nosso passado refletirá nos amanhãs! Imagine como serão as nossas cidades, os nossos estados, o nosso Brasiil! Como será o seu povo? Não estarei mais aqui , portanto ,não verei a colheita!
Abração
Adaptável à Unaí de outrora e de agora….nem para todos
Augusto, esta crônica foi escrita para o Rio de Janeiro. Ele adapta a qualquer cidade do nosso país (digo nosso por estarmos no Brasil). Os problemas são os mesmos, as negligências são as mesmas… Como” D. Pedros I e II” há 500 anos atrás, o nosso país é o mesmo com relação à postura ética e moral… Deficientemente deficitária no palavreado de Odorico Paraguaçu.
Abração