Ainda amo assim

Eu amo quando não me forço a amar. Eu amo quando sou livre, liberta para existir. Eu amo quando encosto meu corpo em teu corpo moreno e levemente nos lançamos ao vento na música dançante da imaginação. Imagino devagar para não acabar com a ilusão. O devaneio me provoca, me alimenta. Gostaria de ver em suas costas a magia do arrepio quando meus dedos insinuassem para o carinho. Gostaria de lhe fazer uma surpresa inteira, sem a fragmentação da ânsia da pressa. Gostaria de chegar adiantada a um encontro nosso e pensar em nosso passado juntos, como se ele estivesse existido. Gostaria que me confidenciasse tudo, confidências feitas ao pé-de-ouvido e, cada palavra murmurada, o amor emanasse de mim e eu o olhasse como um deus cor de ébano para multiplicar as corridas do meu coração. Gostaria de saber seu pensamento para doar-lhe meu corpo antes do banho. Gostaria de afagar-lhe as mãos para entender sua solidão em meio a tanta gente. Gostaria de lhe dar todos os meus abraços antes que o vento o leve de mim. Gostaria que o sol tirasse férias para eu dormir todas as luas abraçada ao seu corpo. Gostaria de deitar em seu ombro e segredar-lhe a minha fome. Gostaria de ouvir o canto das cigarras e rolar na grama úmida e vê-lo tropeçar no meu sorriso. Gostaria que você existisse para me amar!

Alda Alves Barbosa