NÃO SEJA SINCERO COMIGO

Quando você olha para mim e diz, posso ser sincero? Arrepio-me toda porque não desejo que seja sincero. Minta, invente para mim ou apenas deixe de dizer. Não ficarei magoada. Nunca ouvi nada de bom quando alguém quis ser sincero comigo. Nunca ouvi amo você, uma declaração de fé, de confiança. Com sinceridade suportei despedidas, críticas e muitos, muitos desaforos. Com sinceridade fui demitida ou avisada que o namoro havia acabado. Cada palavra sincera eu morria um pouco, até que fenecia totalmente, e a sinceridade não me ressuscitou. Não fui salva nem resgatada pela sinceridade. Não tiveram pena, compaixão ou compreensão com a sinceridade. Ser sincero é apenas uma forma de cobrança, de ajuste, de saldo, como se a forma agregasse leveza, não ofendesse e não humilhasse. “Posso ser sincero?” É a mesma coisa de dizer “suporte sem gritar”. Tem um quê de arrogância. Não gosto desta evacuação de palavras apenas para preencher espaços. Falar apenas para murchar a consciência. Dane-se a honestidade, a retidão, se é que tenho licença para usar estes termos diante de uma manifestação de humilhação. Falar não me torna leve. Não consigo ser hipócrita, vomitar palavras que me fazem sentir “incomodada”; opto por jogá-las para dentro, incomoda também, mas dentro de mim elas criam raízes no coração. Ser sincero é provocar o afastamento do outro, é aflorar a maldade da dissimulação comportada. Esta sinceridade machuca, não ensina, ela debocha, tiraniza, faz doer.
Posso pedir-lhe um favor? Não seja sincero comigo. Não me faça sofrer em nome da honestidade. Falar com honestidade sobre o que o outro é, é fácil, seja honesto com você, pense em você, no que você é ou deixa de ser. Prefiro que me engane com promessas, que me prometa o que não fará. Que me prometa, mesmo que não confie. Já é um começo da esperança de um dia confiar.
Guarde um pouco de você. Não me conte tudo. Deixa-me intuir, idealizar. Deixa que eu descubra, é mais gostoso, sensual, erótico até.
Não estou lhe pedindo que fale mal de mim pelas costas, mas que também não seja pela frente.  Que tal de lado?
Falar o que pensa não é falar o que deseja. Não quero mais transparência na relação. Ainda não conheci ninguém que tenha sido franco para cuidar, para proteger, para amar, para acariciar. A franqueza é um sopro para que o outro caia no abismo emocional.
Já ouviu alguém pedir licença para bater? Não dou licença, não permito a sinceridade para me violentar. Tire os óculos para me beijar.
Não me diga o que pensa de mim. Poderei não escutar opiniões que me faça gostar de mim. O que vem à cabeça não é a cabeça. Não quero que seja sincero comigo. Seja sincero com você, com seus amigos, com quem aceitar sua sinceridade; comigo não. Não estou pedindo sinceridade, estou pedindo amor.
O amor não se importa com o que acreditamos ou deixamos de acreditar. Ele existe, ele acontece, apesar de nós.

Alda Alves Barbosa

4 pensamentos sobre “NÃO SEJA SINCERO COMIGO

  1. Oi minha linda ! Muito bonito o que você escreveu. Pelo que entendi quando se ama tudo é tolerável, até mesmo as mentiras, as inverdades.Se Mentir, não me conte, apenas me ame, pois o que importa é amar….Beijos

  2. Meu lindo, gosto do final do texto epor isto vou responder ao seu comentário com a conclusão dele::O AMOR NÃO SE IMPORTA COM O QUEACREDITAMOS OU DEIXAMOS DE ACREDITAR.ELE EXISTE, ELE ACONTECE, APESAR DE NÓS.
    Beijos

  3. Que texto lindo Alda… Me emocionei com cada palavra digitada…

    O ruim, não sei se irias concordar, é quando a pessoa amada nos quer uma sinceridade forçada e nos coloca de mãos atadas… Em seguida, com sua desaprovação anunciada, somos autodenominados falsos e descrentes do amor pelo seu bem quisto… Dói tanto Alda…

    • Concordo plenamente Wilson(amigo) Este texto é apenas uma forma de fazer pensar. O carinho pelo outro que não amamos mais deve ser colocado e manifestado nas atitudes, nas palavras bem colocadas, respeitando o sentimento do outro para conosco. Isto demonstra maturidade. Um ponto final dói, mas a leveza, o carinho, o respeito pelo amor do outro por nós, torna a dor menos intensa, e a raiva nunca será o ponto de referência de um relacionamento que chegou ao fim. Seremos lembrados com saudades, com respeito, porque respeitamos o outro. N Dói? Sim, mas a brisa junto com o tempo leva tudo.!
      Com carinho

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