UM JEITO DE PERMANECER NO MUNDO

 Sempre esqueço que estou feliz, mas a verdade não é bem esta, é que eu gosto da tristeza. Por isso a procuro incansavelmente dentro de mim. Sou livre para sentir, para procurar. Quero ser livre para questionar. Anseio pela junção do corpo e alma. Se acontecer esta união, este nó, paro de procurar a tristeza, o corpo e a alma não estarão mais dispersos, estarão  interligados um ao outro pelos mesmos sentimentos.
Não agüento muito tempo um sentimento, porque começo a ter angústia e meu pensamento fica ocupado com  o sentimento. Eu procuro desvencilhar-me dele para ganhar minha liberdade de espírito.
Compreender os outros é tarefa impossível para mim. Na desorganização interior, na desorganização  dos meus sentimentos é que compreendo para mim mesma e isto é tão incompreensível que acabo meditando sobre o nada.
Não entro mais em mim, pois mal vou entrando vou me sufocando, quero e preciso sair. Parto então para um lugar impessoal, nada há para fazer, fico com a mudez e o nada. Sem função começo a procurar a tristeza. Se começo a pensar aquém ou além da tristeza me esvazio. E me recolho  no castelo onde mora a solidão. Privilégio meu. Minha sala é o riso, os vitrais nas cores do arco-íris. Meu quarto é todo sensual. A ventania chega à noite, as janelas batem – são os meus fantasmas. Espero a chuva, se chover vou receber nua a água que vem do céu.
Vejo meu semblante através da chuva. Confusão da ventania que arromba a porta e varre o castelo como se lá não tivesse nada nem ninguém. Tenho uma cabana também, lá eu sinto o cheiro do mato e a solidão vai ocupando espaço toma o meu ser e eu me entrego a ela e ao silêncio. Fico atenta ao nada. O silêncio não é o nada, não é o vazio, é o estar plena.
Acordei hoje com nostalgia de estar feliz, por isso fui atrás da tristeza. Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Sempre me persegui. Agora estou presa dentro de mim. Abandonei-me em minha alma que precisa de tristeza, que não sabe ser feliz.
Encontrei-me.

Alda Alves Barbosa

4 pensamentos sobre “UM JEITO DE PERMANECER NO MUNDO

    • Realmente Ricardo, a personagem procura o avesso da alegria para se sentir viva na vida. Pensei esta personagem por achar interessante a alegria incomodar. Se bem que tudo em excesso é cansativo, Viver necessita ter suas variantes de humor, senão … Alegria demais é insuportável, tristeza em demasia idem. O ideal? Acredito que o equilíbrio.
      Seja bem-vindo!
      Obrigada pela participação.
      Abraços

    • Acredito que todos nós, seres humanos, somos um pouco ou muito assim. Apenas usamos máscaras para sermos aceitos pelo outro. Só que não sabemos que o outro também é feito do mesmo barro ou da mesma poeira. Uma roda vida que tentamos não ver, não escutar. Nem sempre saber o que verdadeiramente somos pode ser um ponto positivo. Desse conhecimento pode resultar uma angústia interminável! Saber-se que nada somos; saber-se vulnerável… internalizar a nossa pequenez pode resultar num ponto final. Às vezes não. Saber-se um ser solitário e perecível, pode tornar-nos humanos!
      Fiquei feliz com sua visita e com o seu comentário. Volte sempre, foi um grande prazer tê-la-la aqui! Abraços

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