Nunca ouvi nada mais sarcástico e ilógico do que dar um tempo. É o ponto final que não tem coragem de ser dito.
Sair de um passado sem sequer um arranhão é muito, mas muito difícil. Porque já é passado e não existe futuro, vai sair de qualquer jeito, mesmo que envolva expectativas e uma dose muito alta de suspense.
Haverá lágrimas, louças voando pelos ares, raiva, ciúmes, ódio mesmo. A explosão é normal. Tudo é normal quando se pede “um tempo”. Fica impossível arrumar uma calça que combina com a camisa, de fazer uma bela maquiagem quando a vida perde o encantamento. Arrumar a calça que combina com a blusa prá quê, prá quem? Pintar o rosto não vai ficar bonito, as lágrimas surgem inevitavelmente, o rosto fica vermelho, olhos inchados, mistura de cores derretidas.
Dar um tempo é reter o movimento ao encontro do outro, é supor que se entra e sai de uma vida sem indicador de dor ou alegria, apenas uma indiferença latente, é sair sem deixar ou levar algo.
Dar um tempo é um jeito fácil de não fazer doer no final da relação. Mas dar um tempo faz doer, porque está dizendo inverdade.
Dar um tempo é como dizer “suma da minha frente”. É tirar de dentro de si o outro para ficar mais leve, é mandar embora, é dispensar. Não há brandura. Soa a descaramento. É um modo educado da ausência de educação.
Não devia existir “dar um tempo”. Dar um tempo é diminuir o tamanho da eternidade.
Quando se dá um tempo é porque acabou o tempo, acabou o amor e o tempo já foi perdido para a procura de novo romance. Só se pede tempo como aviso prévio, avisa que o tempo acabou. E amor não tem tempo determinado para continuar ou acabar. Amar é sentimento, não é corpo; tempo esgota, acaba, consome.
Qualquer ser humano rejeita compaixão, atenuação de palavras, piedades idiotas. Ninguém gosta de se sentir um coitado perante aos outros e a si mesmo. Que seja um vocábulo duro, mas que seja verdadeiro, sem nunca pedir tempo.
Dar um tempo é a certeza de que a esperança cedeu lugar ao “nunca mais”. Dar um tempo é fraqueza de que falta coragem para se despedir, para dizer adeus.
Dar um tempo abrange o nada e é justamente o nada, o vazio que machuca, que faz doer.
Resumir o tempo vivido juntos a um ato sem importância é banalizar a beleza do relacionamento vivido, e viver o engano de tentar enganar. Alguns preferem ter uma atitude diferente da maioria, sair do lugar-comum. Uma frase leve, palavras honestas com respeito pelo tempo juntos, podem atenuar a dor ainda que não a dissipe totalmente. O respeito do outro por nós, nos faz sentir melhor, ainda que persista a tristeza.
Na verdade não há maior violência do que dar um tempo. É mandar matar e achar que suas mãos continuam limpas. É mais ou menos a mesma coisa, “vamos continuar sendo amigos”. O amor não aceita tempo, o amor é atemporal.
Sejamos honestos, mesmo que covardemente honestos.
Alda Alves Barbosa
Olá minha linda! Você disse tudo. Dar um tempo é a forma mais educada de dizer pra alguém que não quer mais ficar com ela. Portanto nunca me peça pra dar um ok ?…..Beijos
Oi meu lindo, claro que não. Só vou marcar um tempo para você vir conhecer o cerrado, a cachoeira da jibóia, o meu Rio Preto, a casa onde nasci…
Obrigada,
Beijos
Dar um tempo é acabar com o que já acabou há muito tempo.