Pé de Cerrado

Entre árvores e códigos

Andei só pela noite. A noite tem um quê de mistério e encanto, que quando se está com os pensamentos aflorados, faz emergir um bocado de buscas, procuras de respostas e apontamentos inexplorados. ‘Mas porque a noite a intriga tanto?’ ‘ Quais seriam esses tais pensamentos aflorados, quem sabe desconexos?’ Talvez seria o que você leitor provavelmente estaria se perguntando agora!
Mas antes que isso vire um disse me disse, vou contar um caso. Semana passada, fui a uma mesa redonda que abordava o seguinte tema: o novo código florestal. O nome do evento organizado por uma ONG, não poderia ser mais apropriado: ‘PENSE e REPENSE’. As discussões foram bastante ricas, e teriam sido mais ainda se um dos pró-relatores do novo código tivesse participado como havia sido combinado e não mandado um representante em seu lugar.
O novo código florestal tramita em Brasília, cidade próxima do destaque do Noroeste, do Celeiro de Minas, nosso chão, nossa Unaí. Se perguntássemos a qualquer pessoa dessa cidade qual o grau de importância da agricultura para região, certamente iríamos obter muitas respostas parecidas, algumas inclusive repletas de orgulho e contentamento: ‘é muito importante oras! Somos o Celeiro de Minas, e isso tem papel fundamental no nosso desenvolvimento, na nossa economia’. Sinto muito, não sou dessas pessoas extremistas e radicais a ponto de negar tal afirmação. Mas há que se pesar, existem pontos no novo código florestal, que pode gerar conseqüências graves sim!
O fato de Unaí possuir um grande número de representantes rurais, que inclusive, estavam lá, defendendo os seus ideais, buscando uma rápida aprovação do código, não quer dizer que essa questão não precise ser entendida e abordada por qualquer cidadão.
Dentre algumas conseqüências da aprovação do novo código florestal, estão o déficit de vegetação, que pode causar enchentes, deslizamentos de encostas, secas, extinção de espécies… (e acreditem, eu realmente gostaria que isso fosse um exagero de minha parte).
Não existe contradição alguma entre produzir e preservar, não é só na minha cabeça que é possível a coexistência entre áreas naturais e áreas agrícolas. A sociedade tem que se interar, pois não é mais uma discussão entre produtores rurais e ambientalistas, até mesmo porque, como foi dito por um agrimensor no decorrer do debate: ‘ antes de tudo, todos nós somos ambientalistas’, ou pelo menos deveríamos ser.
É tempo de se informar, de agir de alguma forma, ou logo cairemos numa necessidade contínua do avanço das fronteiras agrícolas.
Florestas, não fujam daqui! Não vão embora, no caladinho da noite como faziam há alguns anos quando eram desmatadas nas madrugadas! Agora entendo o mistério da noite!
Pode cair Dona Lua! De você vem o encantamento, e apesar dos pesares, sei que me chamas… Só espero que você, assim como eu ainda possa contemplar, e sermos servas constantes da mata nativa.

Danielle Rezende

5 pensamentos sobre “Pé de Cerrado

  1. Olá Dani,
    Permita-me discordar de voçê em duas coisas: 1ª) Quem defende a natureza não é radical, está defendendo a vida e você não pode se envergonhar de ser extremista por defender a vida, não só a sua como de toda a humanidade; 2º) O grande nº de Unaienses que estavam lá, não estavam defendendo seus ideais não, pois não sabem o que é isto, eles estavam defendendo o próprio bolso e o patrimônio individual, sua própria fazenda e o que já desmatou, ou seja NÃO QUEREM PAGAR PELO ROMBO QUE FIZERAM NA NATUREZA e batem no peito catarrento e dizem “somos o celeiro de Minas e o orgulho do Brasil”. Veja a reportagem do jornal Correio Brasílienze de 24.04.2011 sobre nossos rios e nascentes).
    Obrigado
    Orlando DF 25.04.2011

    • Orlando,
      não consegui encontrar a reportagem! você sabe se é possível visualizar materias do acervo sem ser assinante! Se puder me mande o link por favor! ah, e desculpe a demora pra responder.
      Muito Obrigada!

  2. Olá Orlando,
    na verdade eu quis dizer, que não sou uma pessoa radical, a ponto de negar a importância da agricultura em diversas vertentes… mas concordo plenamente com você, muitas pessoas estereotipam aqueles que de alguma forma defendem a natureza, mas não entendem a urgência de se tratar certas questões ambientais. E também concordo com vc, quando diz que muitos produtores estavam lá afim de defender os próprios patrimônios, até mesmo porque, cerca de 90% dos proprietários se encontram atualmente na ilegalidade, e as diversas brechas que o código deixam, acabam por favorecê-los, mas temos que considerar o seguinte fator: a falta de informação, de estudos! Existem pessoas desinformadas, às vezes por carência, pouco acesso ou mesmo por falta de interesse e estas vão em busca da melhoria da qualidade de vida, simplismente por ouvir os demais dizerem que a agricultura é que gera dinheiro, mal sabendo dos danos e consequências desse novo código (por isso utilizei a palavra ‘ideais’ pensei nesses poucos, apesar de perceber que talvez objetivos
    caberia melhor no contexto). A reserva legal, é uma área que tem potencial econômico, a partir de seu manejo é possível obter sementes, cosméticos, chás, frutas, madeira.. mas infelizmente são raras as pessoas que vislumbram a potencialidade da floresta em pé. E realmente é um absurdo anistiar pessoas que prejudicaram a natureza e lucravam em cima disso, enquanto alguns seguiam as leis corretamente. Faltam tantas coisas, incentivos e condições para o produtor aplicar a lei por exemplo (do atual código), é uma delas! Vou ler a reportagem e volto pra comentar sobre ela!
    Muito Obrigada!

  3. Danielle, parabéns por mais esta iniciativa deste excelente site. Vejo pela TV as pessoas discutirem, os chamados formadores de opinião, mas eu não consegui formar a minha até hoje. Gostaria de fazer-lhe umas perguntas para tentar entender como vai ficar: Quem vai se beneficiar com este novo código? No caso o fazendeiro como ficará nossas nascentes, nossos rios, uma vez que o cerrado é fonte de nascentes? Como ficará o nosso Brasil, cedendo mais espaço para o plantio, se necessitamos mais de água do que do próprio alimento para vivermos? A nossa população está aumentando, não pelo alto índice de natalidade, mas por as pessoas estarem vivendo mais, não é necessário este espaço para que não falte alimento? Na verdade tem solução para tantas contradições?
    Como ficará nossa natureza, quando ela começará a reclamar pela invasão?
    Espero que possa me ajudar a formar uma opinião.
    Obrigado

    • Olá Antônio Carlos, muito obrigada!
      Então, adorei as perguntas… é conversando que se chega a uma posição não é mesmo! Bem, dentre os defensores da aprovação do novo código, você com certeza vai ouvir dizer que quem será beneficiado, são os pequenos produtores, uma vez que aqueles que possuem uma propriedade menor que 4 módulos fiscais, dispensa a reserva legal ( que é uma área localizada no interior da propriedade, equivalente a no mínimo 20% da área total, com a finalidade de possuir um ambiente natural, destinado a conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e flora nativas, mas que tem um potencial econômico)… o que, infelizmente deixa uma brecha para que latifundiários, dividam suas terras, afim de se isentarem da reserva legal. As APP’s( áreas de preservação permanentes) não podem ser tocadas, e se encontram em mananciais, encostas com mais de 45 graus de declividade, manguezais, matas ciliares), o que se propõe, é que grande parte das APP’s deixem de existir, e que se diminua a metragem que deve ser intocada em torno dos rios… com a ocupação dessas áreas frágeis, não contaremos com barreiras vegetais o que favorece o aumento dos casos de desmoronamentos de morros e assoreamentos de rios; logo nossas nascentes, nossos rios, correm riscos por ficarem desprotegidos. O Brasil, dando condições apenas para a produção, abre precedentes para desfavorecer a própria economia, uma vez que as questões ambientais estão em alta no mundo, logo futuramente produtos advindos de locais que não respeitam o meio ambiente, serão desvalorizados. É inegável a importância da produtividade agrícola, mas estudos da comunidade científica demonstram que existem áreas com pastagens e aptidão para produção que atendem aos requisitos, sem que seja necessário utilizar das áreas de mata. E por fim, eu particularmente acredito que há solução sim para tantas contradições, podemos ter a coexistência entre áreas naturais e áreas agrícolas, faltam estudos e técnicas certas para produzir mais em uma menor área por exemplo… só que infelizmente, nem sempre o caminho mais correto é o mais fácil, logo expandir as fronteiras, torna-se mais cômodo! A natureza, essa não para de responder a todo momento… as chuvas irregulares, enchentes, e outros pequenos sinais são provas disso! Bem Antonio Carlos, acho que é isso! Mas todos essas questões que apontei, são do que estava acontecendo inicialmente, felizmente algumas discussões estão ocorrendo, e estamos torcendo para que os pontos necessários sejam revistos e modificados, afinal equilíbrio e harmonia são fundamentais! Deixo um site aqui que dispõe informações diárias sobre as discussões, vale a pena dar uma conferida: http://www.sosflorestas.com.br/index.php
      Espero ter ajudado! Muito Obrigada!

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