Apenas diga não

Em minha frente estava o rio
Rasgado, rompido pelas águas
Silenciosas e o canto
Da solidão.

Em  minha frente
Estavam as flores,
O pólen, os pássaros
Semeando os amanhãs.

Em minha frente
Estavam os vaga-lumes
Com suas luzes pirotécnicas
Iluminando gota a gota
A mata fechada dos
Frutos do cerrado.

Eu cresci
Em meio as raças
Silenciosas,
Com o cheiro nauseante
Do medo
Fragrância do terror
Disseminada pelo
Coronelismo
Nas tormentas da alma
Fincadas no chão puro
Da terra cor de sangue.

A noite meu corpo
Estendia-se nos catres
Da terra adormecida,
Meus braços receosos
Abraçavam o sereno
E do meu corpo
Nasciam gotas de suor.

Cresci junto às águas
Do Rio Preto
Abraçada ao terror
Das mentes torturadas,
Fertilizada pela angústia
Da ausência paterna,
Caminhante da terra rubra
Plantando a coragem
E aguardando a germinação
Do plantio.

Cresci
Enterrando os medos
Ajudando na semeadura da liberdade
Neste chão rubro,
E no outono da vida
Ouço novamente
O suspiro de plantas caídas
No renascimento
Do silêncio,
Do terror.

Alda Alves Barbosa

2 pensamentos sobre “Apenas diga não

  1. achei muita bonita sua poesia. Unaí era assim? Era uma luta política, esse medo? Porque o Brasil ainda conserva tantos traços deste passado que vc fala. Não sou daqui, sou de um lugar perto de Arinos. Na política e fora dela, lá é assim. Obrigado

    • Sim Arnaldo, Unaí era assim. O poema minimiza os acontecimentos, mas a realidade da época era cruel. O fantasma do medo, morava em cada coração, e os que não aceitavam a condição de servo era ameçado pelos próprios parentes, coronéis do cerrado. Vivi isto vendo meus pais, meus tios, minhas tias , numa luta ferrenha contra a pretensão dos que consideravam donos das pessoas. Voto comprado, voto ameaçado… Os coronéis de ontem não estão mais entre nós, devem estar no céu, no purgatório ou no inferno dantesco. Imagino como deve ser o cantinho tão amado por Guimarães Rosa, por aqueles lados ainda persiste o conservadorismo daqueles que nem desconfiam que mudamos de séculos e que as pessoas são de outras gerações, portanto, não aceitam o inaceitável. Os coronéis de hoje usam a máscara da sedução, da enganação. O nosso país estão repleto deles. Um grande abraço.

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