Exílio

Eu também já tive uma casa,
É uma casa indestrutível,
A única da rua que conserva
gigantemente seu estado primitivo.
Às vezes vou até lá,
Sinto angústia e calma,
Quando quero tomo banho
Estico-me na cama e durmo,
Acordo com minha mãe me chamando
Para jantar: “tem bife e macarronada”…
Pesam em meu peito saudades da destreza
Lúdica da infância e mocidade.
Tenho um sentimento de exílio.
Minha alma geme.

Este poema foi uma resposta carinhosa à Adélia Prado, poeta e escritora mineira de Divinópolis. Para ela a poesia é o centro das afetividades. Seus poemas e contos são impregnados do cotidiano oracional.

Transposições

Nesse poema “Exílio”, fiz transposições temporais, e o sentimento e orfandade na idade outonal me faz querer o retorno no tempo. E esse querer me leva de volta a descendência, segurando o tempo no imaginário e negando o estado de desmaterialização do ser que é uma das regras do tempo.
A casa (foto), não a vejo assim tão deteriorada, acabada… “Na minha fragilidade de ser” vejo o que eu quero ver: meu pai chegando trazendo a carne para o almoço, minha mãe cozinhando, minha irmã lavando impecavelmente suas roupas, meu irmão, tão criança e já chegando do trabalho, Iolanda criticamente ouvindo os conselhos de minha mãe, e eu. Eu pensava, lia e pensava “nos futuros”… Futuros que chegaram e viraram ontens.
Esse poema é o confronto entre o que foi, o que se é, e o que poderia ter sido, se não houvesse o tempo…