Rio cor de noite

Rio Preto, de águas volumosas
Corre imponente em direção ao mar,
Rio de minha infância lúdica
Rio pra criança nadar.

Pedra do Urubu,
Pedrinhas perfiladas,
Lavadeiras a cantar,
No vento que venta
Pra roupa secar.

Rio forte
Faz transporte
Nas canoas,
No barco – ô ô ô Joaquim do barco!
Transporta também
Na ponte de cabo de aço.

Boiada atravessando o rio a nado,
Cheiro de capim,
Cheiro de pelo molhado,
Cheiro de cansaço.
Margens estercadas pelos estrumes dos bois
– Cuidado, não pisa, pode dar mijacão*.

Chuva fina,
Chuva forte,
Terra molhada,
Capim verde…
Lá vai o meu rio agigantando-se…
É tristeza, é festa na pequena cidade,
Gente indo e vindo
Pra ver o  rio da minha infância derramar.

*Nota: A palavra correta é mijicão, regionalizou-se para mijacão.

Alda Alves Barbosa (do livro Círculo do Sol)

Neste poema retenho poeticamente a memória sagrada do meu “Rio cor de noite”. Eu a desejarei sobre o meu túmulo, no silenciar da morte.
Meu velho Rio Preto foi violentado, desnudado… Cubro-o com minha indignação!

3 pensamentos sobre “Rio cor de noite

  1. Ficou perfeita essa poesia, parabéns você retrata muito bem o nosso querido rio preto, e é uma pena vê-lo do jeito que está, também me sinto indignada ao ver que ele não é o mesmo rio de nossa infância.
    Agradeço a você por tão brilhante idéia, de montar este site, pois assim, nós que saimos de unai, poderemos matar a saudades e nos deleitarmos no que há de melhor na literatura de nossa amada terrinha.
    Bjos…

  2. Alda,
    Dar vida às palavras para que elas possam transformar em bandeira de luta contra a destruição da natureza (especialmente o nosso querido Rio Preto), faz de você uma poeta ainda maior.

    Abraços!
    Euler
    Unaí, 15/08/10

  3. Alda,
    Ao ler seu poema sobre o Rio Preto minha alma foi invadida por uma sensação indescretível: Coincidentemente eu havia chegado de minha caminhada e comentara com o Euler que o tempo estava feio, acinzentado. E pra quem mora na roça um tempo assim deixa a gente com vontade de ver as primeiras chuvas. Voltei à minha infância. Foi como se eu sentisse o cheiro de terra molhada, cheiro do capim seco quando recebe as primeiras chuvas, cheiro do esterco queimado e molhado pra fazer a horta, cheiro de telha molhada, (este é o que mais sinto saudade, as telhas de hoje quando molhadas cheiram a mofo). Se eu ficar aqui enumerando as emoções sentidas ao ler este Poema eu não acabo nunca.

    Beijos da amiga!
    Aparecida
    15/08/10

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